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Diferente do anúncio formal de uma operação militar especial por parte da Rússia na Ucrânia, a escalada contra a Venezuela foi gradual e centrada na narrativa. A partir de agosto, os Estados Unidos iniciaram um grande deslocamento militar no Caribe, justificado inicialmente como combate ao narcotráfico. No entanto, a estratégia evoluiu para uma campanha de pressão através de anúncios espetaculares e retórica inflamada nas redes sociais, com o claro objetivo de gerar uma sensação de cerco e inevitabilidade.
O ápice dessa tática ocorreu em 16 de dezembro, quando Donald Trump usou sua plataforma Truth Social para declarar um "bloqueio total e completo" a petroleiros e anunciar que a Venezuela estava "completamente cercada pela maior Armada já reunida na história da América do Sul". Essa comunicação direta e agressiva, repleta de acusações de terrorismo e roubo, não é apenas um comunicado político, mas um instrumento de guerra psicológica. Seu objetivo é implantar o terror não apenas na liderança, mas em toda a América Latina, demonstrando o poderio norte-americano e a disposição de usá-lo unilateralmente, sem uma declaração de guerra formal que exigiria autorização do Congresso.
A efetividade dessa guerra midiática, no entanto, esbarra em realidades concretas que tornam uma invasão terrestre direta um cálculo estratégico de alto risco para os EUA. A defesa venezuelana se apoia em três pilares principais:
A interação entre a ofensiva midiática norte-americana e os pilares defensivos venezuelanos cria um impasse peculiar. A estratégia de Trump, que inclui ataques a embarcações e a apreensão de um petroleiro, busca estrangular economicamente o regime e provocar seu colapso sem um combate terrestre em larga escala. No entanto, esta abordagem encontra limites:
O confronto no Caribe representa um modelo híbrido de conflito do século XXI. É uma guerra travada prioritariamente no campo da informação e da percepção, com operações militares limitadas e de alta precisão, destinadas a maximizar a pressão psicológica e econômica. Enquanto na Ucrânia há frentes de batalha claras, na Venezuela a frente de batalha é a psique coletiva e a economia.
As características morais e estratégicas da Venezuela — seu alinhamento geopolítico, a demonstração de unidade interna e o apoio militar externo — funcionam, até agora, como um dique eficaz contra a escalada para uma guerra aberta. Elas transformaram o país em um tabuleiro de xadrez geopolítico, onde o custo de um xeque-mate militar é alto demais para todos os envolvidos. O resultado é um conflito paralisado, onde a retórica belicista e o cerco midiático são as armas primárias, e o desfecho depende mais da resistência da economia e dos nervos da população do que do resultado de uma batalha campal.
Com informações de: G1, Opera Mundi, Al Jazeera, The Guardian, CNN Brasil, El País, UOL, Univision ■