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EUA apreendem petroleiro e paralisam 11 milhões de barris de petróleo venezuelano
Interceptação militar inédita no Caribe causa efeito congelante no comércio de petróleo e acirra tensão geopolítica na região
America do Sul
Foto: https://ichef.bbci.co.uk/ace/ws/640/cpsprodpb/055d/live/9dabc1c0-d6b1-11f0-9566-091746611f5e.jpg.webp
■   Bernardo Cahue, 14/12/2025

Operação Militar Inédita no Caribe

Em uma ação sem precedentes, forças dos Estados Unidos apreenderam, na última quarta-feira (10), o petroleiro Skipper nas proximidades da costa da Venezuela. A operação foi anunciada pelo presidente Donald Trump, que descreveu a embarcação como "muito grande, na verdade, o maior já apreendido".

De acordo com fontes e imagens divulgadas, a apreensão foi executada por uma força-tarefa que incluiu:

  • Dois helicópteros que decolaram do porta-aviões USS Gerald Ford.
  • Aproximação e desembarque por rapel de soldados camuflados e armados no convés do navio.
  • Equipes da Guarda Costeira, FBI, Departamento de Segurança Interna e do Pentágono.

O governo venezuelano classificou a ação como um "roubo descarado" e um "ato de pirataria internacional", prometendo denunciar o caso em todos os fóruns internacionais. Autoridades americanas, no entanto, justificam a medida alegando que o Skipper fazia parte de uma rede que burla sanções e apoia organizações terroristas.

O Alvo: A "Frota Fantasma" que Burla Sanções

O navio apreendido é uma peça da chamada "frota fantasma" ou "frota paralela", uma rede global de embarcações especializadas em transportar petróleo de países sob sanções, como Venezuela, Irã e Rússia. Estima-se que 1 em cada 5 petroleiros no mundo esteja envolvido nesse tipo de comércio.

Esses navios operam através de táticas de evasão, que incluem:

  • Falsificação de localização: Manipulam ou desligam o sistema de identificação automática (AIS).
  • Bandeiras e identidades falsas: O Skipper, por exemplo, navegava com uma bandeira falsa da Guiana.
  • Transferência de carga no mar: Operações para "lavar" a origem do petróleo em águas internacionais.
  • Uso de "navios zumbis": Embarcações que operam com a identidade de navios já desmontados.

O Skipper em particular estava sob sanções dos EUA desde 2022, acusado de transportar petróleo para beneficiar a Guarda Revolucionária do Irã e o grupo Hezbollah. A embarcação, de 20 anos, transportava cerca de 1,6 a 1,9 milhão de barris de petróleo bruto pesado venezuelano no momento da apreensão.

Efeito Imediato: Exportações Venezuelanas Paralisadas

O impacto da ação americana foi instantâneo e severo para a economia venezuelana. Segundo um levantamento da agência Reuters, cerca de 11 milhões de barris de petróleo e derivados estão atualmente retidos em águas venezuelanas.

O temor de novas apreensões fez com que armadores e operadores suspendessem viagens, criando um efeito congelante nas exportações. Dados de rastreamento mostram que, após o evento, apenas os petroleiros fretados pela petrolífera americana Chevron — que possui uma licença especial do governo dos EUA — continuaram navegando normalmente. Mais de 30 outros petroleiros sancionados que operam na região estão agora considerados em risco.

Ampliação das Sanções e Reações Internacionais

No dia seguinte à apreensão, os Estados Unidos ampliaram a ofensiva anunciando um novo pacote de sanções. As medidas visam:

  1. Seis empresas de navegação e seis petroleiros ligados ao transporte de petróleo venezuelano.
  2. Três sobrinhos da primeira-dama venezuelana, Cília Flores, e um empresário panamenho, todos acusados de facilitar o comércio de petróleo em nome do governo.

A ação americana gerou condenação internacional. China e Irã classificaram as sanções como abusivas e ilegais, com o Irã denominando a apreensão do navio de "pirataria estatal". O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também criticou a ação, afirmando que ela revela o interesse real dos EUA: "Petróleo, petróleo e petróleo".

Um Golpe no Ponto Vital da Economia Venezuelana

Analistas apontam que a nova frente aberta pelos EUA mira o ponto vital do regime de Nicolás Maduro: a receita do petróleo. A commodity responde por cerca de 80% das exportações totais e 15% do PIB da Venezuela.

A apreensão física de um navio representa uma escalada significativa em relação às sanções financeiras tradicionais, aumentando o risco e o custo de se fazer negócios com a Venezuela. O objetivo estratégico de Washington, segundo especialistas, é estrangular economicamente o governo Maduro, que mantém relações estreitas com adversários dos EUA como Rússia, China e Irã.

Enquanto isso, com a "frota fantasma" sob cerco e 11 milhões de barris parados, a Venezuela enfrenta um novo e profundo desafio para manter o fluxo de sua principal — e agora mais arriscada — fonte de sustento econômico.

Com informações de: G1, Revista Oeste, CNN Brasil, BBC, DW, Blog do BG, Euronews, Agência Brasil, Brasil de Fato ■