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Enquanto o Brasil assiste ao aprofundamento de processos judiciais contra a família Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) traça uma rota internacional que abarca desde aliados na América Central até potências do Oriente Médio. Suas viagens, cada vez mais frequentes desde que estabeleceu residência nos Estados Unidos, vão além do turismo ou de visitas protocolares: configuram uma articulação política transnacional em um momento crítico para seu grupo político, marcado pelo pedido de cassação de seu mandato na Câmara dos Deputados.
No primeiro trimestre de 2025, a decisão do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de se estabelecer nos Estados Unidos transformou-se em um caso político internacional. A imprensa estrangeira dedicou espaço significativo ao tema, com veículos influentes caracterizando a mudança como uma forma de evasão da Justiça brasileira.
O jornal francês Le Monde usou tom irônico, sugerindo que a mensagem do parlamentar era "Coragem, fujamos", e o descreveu como "nostálgico da ditadura" e "teórico da conspiração". The New York Times e o espanhol El País destacaram seus estreitos laços com a família Trump e com setores republicanos, apontando que ele viajou para os EUA precisamente quando o Supremo Tribunal Federal (STF) avaliava o possível apreensão de seu passaporte.
A motivação para a viagem, conforme amplamente reportado, foi exercer pressão política externa. Eduardo Bolsonaro atuou como lobista, buscando a imposição de sanções contra o Brasil e contra autoridades do Judiciário, como o ministro Alexandre de Moraes, na tentativa de interferir no julgamento de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. A viagem iniciou-se sob uma licença parlamentar que venceu em julho de 2025, e desde então suas ausências nas sessões da Câmara passaram a ser contabilizadas como faltas não justificadas.
A jornada de Eduardo Bolsonaro ganhou contornos dramáticos após a decisão do STF, em novembro de 2025, que o tornou réu sob acusação de articular, em solo americano, ações contra o Brasil para interferir no julgamento do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. No dia seguinte à decisão unânime da 1ª Turma do Supremo, o deputado estava no Bahrein, publicando fotos de um encontro com o sheikh Khaled bin Hamad Al-Khalifa, membro da família real do país. As imagens, que mostravam o parlamentar portando e exibindo armas, foram descritas por ele como um encontro de "satisfação imensa" que "renova a alma" e fortalece "boas alianças".
A rede de contatos internacionais de Eduardo Bolsonaro não se limita ao Bahrein. Sua atuação como um autoproclamado "chanceler da oposição" o colocou em contato direto com uma constelação de governos conservadores e de direita.
Esta intensa agenda internacional ocorre paralelamente ao avanço do processo de cassação de seu mandato na Câmara, capitaneado pelo presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). Motta notificou oficialmente Eduardo Bolsonaro sobre o procedimento, que se baseia no número excessivo de faltas às sessões plenárias, dando um prazo para defesa.
A reação de Eduardo Bolsonaro foi veemente e pessoal. Em um vídeo dirigido a Hugo Motta, visivelmente alterado, o parlamentar acusou o presidente da Câmara de ter "escolhido a desonra". Em tom que mescla apelo emocional e ameaça velada, ele argumentou que suas faltas são decorrentes de um "estado de perseguição" que Motta se recusa a reconhecer. A fala escalou para uma advertência direta: "Você vai pagar o preço... Quando você for nas ruas, vai ter gente te cobrando".
Esta postura confrontacional serve a um duplo propósito: mobilizar sua base de apoiadores, apresentando-se como vítima de um sistema persecutório, e tentar intimidar politicamente Hugo Motta e outros parlamentares que possam apoiar a cassação. A estratégia, contudo, pode se mostrar um tiro pela culatra, fortalecendo o argumento de que o deputado prioriza conflitos e agendas externas em detrimento de seus deveres constitucionais para com o cargo para o qual foi eleito.
A sequência El Salvador (por conexão), Israel (por legado) e Emirados/Bahrein (por ação recente) não é aleatória. Ela desenha um mapa ideológico e estratégico da direita bolsonarista, que busca:
Enquanto isso, sua defesa contra a cassação aposta no vitimismo e na confrontação. O "choro" a Hugo Motta, mais do que um desabafo, é um instrumento de guerra política, destinado a transformar um processo regimental (por faltas) em um grande palco de martírio político. Seu sucesso ou fracasso dependerá não apenas da capacidade de mobilização de sua base, mas também da disposição do centrão no Congresso em aceitar que as regras do jogo parlamentar sejam subvertidas por uma narrativa de perseguição.
O que está em jogo, portanto, vai muito além de um único mandato. É a capacidade de um político, enredado em processos criminais e à beira da perda do foro privilegiado, de se manter como um ator relevante no cenário político internacional da direita, usando o mundo como palanque e refúgio, enquanto o cerco se fecha no Brasil.
Com informações de Poder360, O Globo, O Popular, UOL, Agência Brasil e Gazeta do Povo ■