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PSDB sob Aécio Neves rompe com bolsonarismo e anuncia foco no centro para 2026
Em movimento que redefine o tabuleiro político, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), sob novo comando, fecha as portas para alianças com Lula e a família Bolsonaro na próxima eleição presidencial
Politica
Foto: https://f.i.uol.com.br/fotografia/2024/12/20/17347273946765d6e28483a_1734727394_3x2_md.jpg
■   Bernardo Cahue, 09/12/2025

O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), empossado na presidência nacional do partido no final de novembro, estabeleceu uma linha clara para a legenda: não apoiará a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem qualquer candidatura da família do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2026. A declaração marca um rompimento formal com o bolsonarismo e busca reposicionar o PSDB como uma força autônoma de centro. "Não apoiaremos candidatura da família Bolsonaro nem Lula em 2026", afirmou Aécio, em entrevista ao Estadão.

O plano tucano, conforme anunciado por seu novo presidente, é passar por uma reformulação, dispensando uma candidatura própria ao Planalto no próximo pleito para se fortalecer com vistas a 2030. O foco imediato é reconquistar espaço político. "Nosso projeto é fazermos 30 deputados, voltarmos a ter relevância em estados onde perdemos muita força", detalhou Aécio Neves.

A Estratégia de Aécio: Recentralizar o Partido e Polarizar com o PT

Aécio Neves reassume o comando do PSDB oito anos depois, em um momento de profunda crise da legenda, com o objetivo declarado de recolocá-la "no centro do tabuleiro". Sua retórica é de enfrentamento direto ao governo federal e de distinção em relação à direita bolsonarista. Em suas redes sociais, foi categórico: "Nós somos oposição ao PT. Nós não concordamos com o governo da gastança desenfreada, do apadrinhamento sem limites...".

Sua estratégia envolve uma postura combativa, inclusive no campo judicial. Logo em sua estreia no comando, Aécio anunciou que o PSDB entrou com uma ação na Justiça contra Lula e o PT, acusando o presidente de usar uma cadeia nacional de rádio e TV para fazer promoção política antecipada. Paralelamente, ele já demonstra atividade eleitoral em Minas Gerais, seu estado, criticando a gestão do governador Romeu Zema (Novo) em campanhas do partido, o que alimenta especulações sobre sua possível candidatura ao governo mineiro em 2026.

O Contexto de Decadência e a Ascensão do Bolsonarismo

A posição firmada por Aécio ocorre após um longo período de declínio do PSDB, intensificado a partir de 2018. Analistas apontam que o partido, que já foi decisivo na política nacional e polarizou por anos com o PT, perdeu identidade e lideranças. Um fator central foi a migração de parte relevante de sua base eleitoral antipetista para o bolsonarismo.

"Quando apareceu um líder que falava com a alma profunda do eleitorado do PSDB, o voto foi para Bolsonaro", afirma Aloysio Nunes, ex-senador e ex-ministro do partido. O professor Marco Antonio Teixeira, da FGV, complementa: "O bolsonarismo corroeu a base política tucana". O discurso anticorrupção, antes bandeira tucana, foi capitalizado por Jair Bolsonaro, enquanto o PSDB via alguns de seus nomes serem atingidos pela Operação Lava Jato.

O resultado foi uma debandada. Nas últimas eleições, o partido elegeu apenas 13 deputados federais, sua menor bancada da história, e perdeu todos os governadores que tinha eleito em 2022 – Eduardo Leite (RS), Raquel Lyra (PE) e Eduardo Riedel (MS) deixaram a sigla.

O Plano de Reconstrução e o Espaço de Centro

A narrativa de Aécio Neves tenta transformar a fraqueza atual em uma virtude. Ele argumenta que o PSDB é o único ator político que "não sucumbiu, não se curvou nem às benesses e aos favores do governo do Bolsonaro e muito menos do governo do Lula". O objetivo é ocupar o vácuo que, na visão tucana, será deixado com o fim da polarização entre essas duas figuras.

"A partir de 2026, independente do resultado, mesmo que Lula ganhe a eleição, já não é um agente para o futuro... a ausência dessas figuras... já reabre, já alarga essa avenida do Centro", projetou Aécio. O partido busca conquistar o eleitor que "não se sente representado por Lula e nem por Bolsonaro, mas que acaba votando em um contra o outro".

  • Fortalecimento Parlamentar: Meta de eleger pelo menos 30 deputados federais em 2026 para superar a cláusula de barreira e recuperar relevância.
  • Discurso de Centro Independente: Oposição ao PT, mas sem alinhamento automático com bolsonaristas. "Um centro que não precisa de cargos públicos para sobreviver".
  • Preparação para 2030: Postergar a ambição presidencial para focar na reconstrução orgânica da legenda.

O Bolsonarismo em Sua Própria Encruzilhada

O rompimento do PSDB ocorre em um momento de tensões internas no campo bolsonarista. Recentes brigas públicas entre a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e os filhos do ex-presidente expuseram fissuras sobre a estratégia e a liderança do movimento. Enquanto Michelle adota um discurso de inflexibilidade ideológica, os filhos defendem alianças políticas pragmáticas. Essa divisão, somada à prisão de Jair Bolsonaro, cria um cenário de incerteza que o PSDB tenta explorar para se apresentar como uma alternativa estável de centro-direita.

O movimento de Aécio Neves é, portanto, uma tentativa de virar a página de uma década de erosão. Ao rejeitar publicamente alianças com os polos da polarização Lula-Bolsonaro, o PSDB tenta resgatar sua identidade original de partido de centro e refazer sua base a partir de um projeto que, segundo seu líder, representa o "Brasil real". O sucesso desta estratégia dependerá de sua capacidade de se comunicar com um eleitorado que, de fato, busca uma terceira via, em um campo político ainda profundamente dividido.

Linha do Tempo da Estratégia Tucana (2025-2026):

  1. Nov/2025: Aécio Neves assume a presidência do PSDB e anuncia rompimento com bolsonarismo e oposição a Lula.
  2. Dez/2025: Movimentos iniciais: ação judicial contra Lula e campanha em Minas contra Zema.
  3. Meta para 2026: Eleger 30 deputados, consolidar-se como polo de centro independente e não lançar candidato próprio à Presidência.
  4. Projeção para 2030: Retornar à disputa pelo Planalto com partido reestruturado.

Com informações de: Gazeta do Povo, O Globo, OutrasPalavras, Folha de S.Paulo, Wikipedia, Congresso em Foco ■