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A indicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como candidato da família à Presidência em 2026, anunciada na última sexta-feira (5), tem sido recebida com fria resistência por partidos do centrão e setores da direita, que veem o movimento como um obstáculo à unificação de uma frente ampla contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A desconfiança é alimentada por pesquisas que mostram o fraco desempenho eleitoral do filho mais velho de Jair Bolsonaro e por suas próprias declarações de que a candidatura "tem um preço" para ser retirada, em aparente moeda de troca pela aprovação de um projeto de anistia no Congresso.
Dados do Datafolha divulgados no sábado (6) ilustram o desafio. Em um possível segundo turno contra Lula hoje, Flávio perderia por 15 pontos (51% a 36%). Entre os nomes da direita, ele tem um dos piores desempenhos contra o presidente.
O levantamento também mediu a rejeição dos possíveis candidatos, um indicador crucial:
Outra pesquisa, da AtlasIntel, mostrou Flávio com 23,1% no primeiro turno, contra 47,3% de Lula, atrás até de outros governadores. Apenas 8% dos eleitores acham que Jair Bolsonaro deveria apoiar Flávio, contra 20% que prefeririam Tarcísio e 22% a ex-primeira-dama Michelle.
Lideranças de partidos do centrão, como União Brasil, Progressistas e Republicanos, avaliam que a candidatura de Flávio não é viável a longo prazo e pode inviabilizar a construção de uma frente ampla de oposição. O nome preferido por essas siglas e pelo mercado financeiro é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que tem melhor desempenho contra Lula e menor rejeição.
Flávio marcou uma reunião para esta segunda-feira (8) com os presidentes do PL, União Brasil e PP, e convidou o presidente do Republicanos, tentando angariar apoio. A percepção no campo político, no entanto, é de que seu anúncio abre um vazio na centro-direita, criando espaço para um nome alternativo à polarização Lula versus Bolsonaro. Nesse cenário, o governador do Paraná, Ratinho Jr., é visto como uma possibilidade caso Tarcísio confirme que não será candidato.
Um dos elementos que mais causou desconforto entre potenciais aliados foram as declarações de Flávio de que sua candidatura "tem um preço" para ser retirada. Ele sugeriu que a contrapartida envolve a pauta de um projeto de anistia aos condenados pelo STF pela trama golpista de 8 de Janeiro, o que beneficiaria diretamente seu pai.
"Tem uma possibilidade de eu não ir até o fim e eu tenho preço para isso. Eu vou negociar", disse o senador no domingo (7). Ele afirmou que espera que o tema da anistia seja pautado no Congresso ainda este ano, colocando-a como um teste de lealdade para as lideranças que se dizem oposição. A estratégia é interpretada como uma tentativa de usar a candidatura como alavanca para obter um ganho político familiar imediato.
A indicação de Flávio teve repercussão negativa imediata na economia. No dia do anúncio, o índice Bovespa teve sua maior queda diária desde fevereiro de 2021 (4,31%), e o dólar registrou a maior alta desde outubro (2,3%), chegando a R$ 5,43.
Analistas atribuíram a reação à percepção de que a pré-candidatura de Flávio fragmenta a direita e reduz sua competitividade, aumentando as chances de reeleição de Lula. O mercado enxerga um eventual novo mandato petista com cautela pelos temores em relação à situação fiscal do país. Para o economista André Perfeito, a decisão de Jair Bolsonaro "implode possíveis alianças entre centro e direita" que estavam sendo construídas em torno de Tarcísio.
O cenário político, portanto, se configura em um impasse. De um lado, Flávio Bolsonaro tenta se legitimar como herdeiro político do pai, mas esbarra na alta rejeição, na resistência de partidos fundamentais para uma campanha nacional e na desconfiança de que seu objetivo real é outro. De outro, o centrão e setores da direita precisam decidir se aceitam uma candidatura considerada frágil e polarizante ou se arriscam buscar uma alternativa própria, em um movimento que poderia aprofundar a divisão com a base bolsonarista. O desfecho desta disputa definirá os contornos da oposição nas eleições de 2026.
Com informações de: G1, BBC News Brasil, O Globo, CartaCapital, Gazeta do Povo, UOL, CNN Brasil ■