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PF prende presidente da Alerj em operação que expõe suspeita de vazamento de operação
Operação "Unha e Carne" prende Rodrigo Bacellar, aliado e amigo pessoal de Bolsonaro e Claudio Castro, suspeito de alertar deputado ligado à facção preso em setembro
Politica
Foto: https://storage.googleapis.com/br_mynews_site/2025/12/e18c42f2-rodrigo-bacellar.jpeg
■   Bernardo Cahue, 03/12/2025

A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã desta quarta-feira (3) o deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar. A operação, batizada de "Unha e Carne", investiga o suposto vazamento de informações sigilosas que teriam beneficiado o então deputado TH Joias, preso em setembro na Operação Zargun e associado à facção criminosa. Segundo as investigações, Bacellar teria avisado TH Joias por telefone, na véspera da operação, sobre a iminência da prisão e orientado a destruir provas.

A prisão de uma das figuras políticas mais poderosas do estado do Rio acontece em um momento crítico para a segurança pública e a política nacional, marcado por:

  • A iminente prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos por tentativa de golpe de Estado.
  • Alertas de inteligência sobre a expansão e a consolidação de facções criminosas de atuação nacional, que avançam sobre contratos públicos e infraestrutura do estado.
  • Um intenso debate público sobre o poder do crime organizado e suas ramificações dentro do próprio Estado.

Da ascensão política à prisão: a trajetória de Rodrigo Bacellar

Rodrigo Bacellar, de 45 anos, construiu uma carreira política meteórica. Eleito deputado estadual pela primeira vez em 2018, tornou-se secretário de Governo do Rio em 2021 e, em fevereiro de 2023, foi eleito presidente da Alerj. Em 2025, conseguiu a reeleição por unanimidade para o cargo, um feito inédito na casa.

Contudo, sua trajetória também é marcada por investigações anteriores. Em 2010, ele e seu pai foram acusados pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) de integrar um esquema para "alugar" a prefeitura de Cambuci, no Norte Fluminense, por R$ 160 mil mensais, com o objetivo de controlar licitações. A investigação de 2025 que levou à sua prisão, no entanto, aponta para uma ligação direta com o crime organizado. A PF suspeita que o vazamento para TH Joias tenha prejudicado o êxito da operação e colocado em risco agentes policiais.

O pano de fundo nacional: facções em expansão e condenação histórica

O caso Bacellar não é um fato isolado, mas um episódio visível dentro de um quadro muito mais amplo e preocupante de avanço do crime organizado no Brasil. Dados oficiais apresentados ao Congresso Nacional e em uma CPI do Senado pintam um cenário de consolidação e nacionalização das facções.

Paralelamente, o país aguarda a efetiva prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado em setembro por chefiar uma organização criminosa que planejou um golpe de Estado para mantê-lo no poder após perder as eleições de 2022. A sentença de 27 anos, considerada histórica, foi vista por apoiadores como justiça e por aliados como "a maior injustiça política da história". O julgamento aprofundou polarizações e atraiu até mesmo a atenção e ameaças de retaliação do governo dos Estados Unidos.

Um duplo desafio para as instituições

Especialistas em segurança pública ouvidos pela BBC ressaltam que, apesar de o Brasil não ser um "narcoestado", enfrenta um grave problema de "duopólio da violência", onde o Estado divide, em muitos territórios, o controle e a governança com organizações criminosas. Estima-se que cerca de 31 milhões de brasileiros vivam em áreas dominadas por facções, o maior percentual entre países latino-americanos pesquisados.

A prisão de Rodrigo Bacellar simboliza a interseção perigosa entre esses dois grandes desafios institucionais: de um lado, a necessidade de apurar e punir crimes de responsabilidade no mais alto escalão do poder; de outro, a urgência de combater a infiltração do crime organizado nas estruturas políticas e administrativas em todos os níveis. Para o relator da CPI do Crime Organizado, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), o combate à corrupção política é essencial para que qualquer estratégia de segurança pública tenha sucesso.

Com informações de The Guardian, O Globo, Al Jazeera, Agência Senado, Valor International, Axios, BBC News Brasil e Agência Brasil ■