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Brasil recupera menor nível de pobreza desde 2012, com 10,5 milhões saindo da miséria
Queda histórica é impulsionada por aquecimento do mercado de trabalho e manutenção de programas sociais, mas desigualdades regionais, raciais e de idade persistem
Politica
Foto: https://cdn.jornalextrasc.com.br/wp-content/uploads/2025/12/pobreza-brasil.webp
■   Bernardo Cahue, 03/12/2025

O Brasil registrou em 2024 os menores níveis de pobreza e extrema pobreza desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012. Os dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgados nesta quarta-feira (3), mostram que, entre 2023 e 2024, 10,5 milhões de brasileiros deixaram a condição de pobreza ou miséria. A parcela da população em pobreza caiu de 27,3% para 23,1%, uma redução de 8,6 milhões de pessoas. Já a população em extrema pobreza recuou de 4,4% para 3,5%, o que significa 1,9 milhão de pessoas a menos nessa condição.

O estudo atribui a melhora a dois fatores principais:

  1. Aquecimento do mercado de trabalho: com mais de 70% da renda domiciliar vindo do trabalho, um mercado dinâmico impacta diretamente a renda das famílias.
  2. Programas de transferência de renda: a manutenção de benefícios como o Bolsa Família foi fundamental, especialmente para a população mais vulnerável.

Nesse contexto, a renda média do brasileiro também alcançou um recorde. O rendimento domiciliar per capita mensal chegou a R$ 2.017 em 2024, o maior valor da série. O crescimento foi mais intenso entre os mais pobres: a renda dos 10% com menores rendimentos cresceu 13,2% em um ano, enquanto a dos 10% mais ricos subiu 1,6%.

Impacto decisivo dos programas sociais e queda da desigualdade

As simulações do IBGE revelam o papel crucial das políticas públicas. Sem os benefícios sociais, a proporção de pessoas na extrema pobreza em 2024 não seria de 3,5%, mas saltaria para 10% da população — quase o triplo do observado. Da mesma forma, a pobreza subiria de 23,1% para 28,7%. Para os idosos, a previdência social é uma barreira vital: sem aposentadorias e pensões, a pobreza nesse grupo iria de 8,3% para 52,3%.

A desigualdade de renda, medida pelo Índice de Gini, também atingiu seu menor patamar desde 2012, caindo de 0,517 em 2023 para 0,504 em 2024. No entanto, o Brasil ainda ocupa uma posição ruim no ranking internacional, sendo o segundo país mais desigual entre 40 nações selecionadas pela OCDE, atrás apenas da Costa Rica.

Desigualdades persistentes: região, raça, idade e gênero

Apesar da melhora geral, a pobreza não recua de forma uniforme, expondo velhas chagas sociais do país:

  • Desigualdade Regional: O Nordeste, com 26,9% da população brasileira, concentra 50,3% das pessoas em extrema pobreza e 45,8% das pessoas pobres do país. Enquanto a pobreza atinge 39,4% dos nordestinos, no Sul essa taxa é de apenas 11,2%.
  • Desigualdade Racial: Pretos e pardos, que juntos são 56,8% da população, representam 71,3% dos pobres do país. A taxa de pobreza entre brancos é de 15,1%, menos da metade da observada entre pardos (29,8%).
  • Desigualdade Etária: 39,7% das crianças e adolescentes de 0 a 14 anos vivem abaixo da linha de pobreza, a taxa mais alta entre todos os grupos. Entre os idosos, a proporção é de 8,3%.
  • Desigualdade de Gênero e Raça: Mulheres pretas ou pardas são as mais vulneráveis, com taxa de pobreza de 30,4%. Entre homens brancos, a taxa é de 14,7%.

Os "working poor": o desafio do emprego que não tira da pobreza

O estudo também joga luz sobre um grupo específico: os "working poor" — pessoas que têm ocupação, mas cuja renda é insuficiente para tirar seu domicílio da pobreza. Em 2024, 11,9% dos trabalhadores (cerca de 12 milhões de pessoas) estavam nessa condição. A informalidade amplia o risco: entre os ocupados sem carteira assinada, um em cada cinco (20,4%) era pobre, contra 6,7% dos empregados com carteira.

O risco de pobreza, no entanto, é drasticamente maior para quem não trabalha: atinge 47,6% das pessoas desocupadas. Setores como o de serviços domésticos e a agropecuária concentram as maiores proporções de trabalhadores pobres.

Os especialistas apontam que a trajetória de queda pela terceira vez consecutiva é promissora, mas os dados detalhados evidenciam que o caminho para a redução das desigualdades estruturais no Brasil ainda é longo e requer políticas continuadas e focalizadas.

Com informações de: Agência de Notícias IBGE, G1, Portal da Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal (Secom), Folha de S.Paulo, O Globo, InfoMoney, Terra ■