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A tensão militar entre EUA e Venezuela, justificada publicamente pelo combate ao narcotráfico, esconde um cálculo geopolítico e econômico complexo em torno do controle da maior reserva de petróleo do planeta. Enquanto isso, a população venezuelana vive entre o medo e a resignação.
A escalada militar dos Estados Unidos contra o governo de Nicolás Maduro na Venezuela, com o deslocamento de porta-aviões e milhares de tropas para o Caribe, é apresentada por Washington como uma operação contra o narcotráfico. No entanto, análises e acusações diretas sugerem que o controle das vastas reservas de petróleo venezuelanas — as maiores do mundo — é um fator central e muitas vezes não declarado do conflito. Esta análise investiga as camadas dessa crise, que mistura interesses energéticos, política interna americana e o dia a dia de um povo esgotado por anos de crise hiperinflacionária.
A Venezuela possui 303 bilhões de barris de petróleo bruto comprovados, aproximadamente um quinto das reservas globais. Este é um ativo estratégico de primeira grandeza. Apesar disso, sua produção atual é um reflexo pálido de seu potencial. O país produz cerca de 1,1 milhão de barris por dia (bpd), menos de um terço do que produzia no final dos anos 1990. Este colapso é resultado de uma combinação de má gestão, falta crônica de investimentos, corrupção e, de forma crucial, sanções econômicas internacionais, principalmente dos EUA.
O petróleo venezuelano é do tipo pesado e ácido, essencial para a produção de diesel e outros derivados industriais. Refinarias americanas, especialmente no Golfo do México, foram construídas para processar justamente esse tipo de óleo. Embora as importações dos EUA tenham caído drasticamente devido às sanções, a reinserção da Venezuela no mercado sob um governo aliado teria impactos profundos:
Enquanto líderes trocam ameaças, a realidade dos venezuelanos é marcada pela luta diária pela sobrevivência. Reportagens em Caracas mostram uma população que, embora consciente da tensão, está mais preocupada com a hiperinflação que corrói seu poder de compra. "O que mais preocupa é a comida", resume um cidadão. O salário mínimo oficial é inferior a um dólar, e um quilo de frango pode custar o equivalente a quatro salários mínimos.
O clima político é de medo e autocensura. Após os protestos pós-eleição de 2024 e a detenção de milhares, as pessoas evitam falar publicamente sobre política por temor a represálias. Esta atmosfera sufocante coexiste com um discurso oficial que celebra um crescimento do PIB de 8,7% no terceiro trimestre de 2025 — puxado pelo petróleo —, um dado que não se traduz em melhora na vida da maioria.
Internamente, a administração Trump debate opções que vão desde um ataque de drone para decapitar a liderança até uma invasão limitada para tomar campos petrolíferos. Assessores próximos, como o Secretário de Estado Marco Rubio, pressionam por uma linha dura, enquanto outros buscam justificativas legais para ações sem aprovação explícita do Congresso.
Maduro, por sua vez, mobilizou as Forças Armadas e busca aliados. Sua principal jogada diplomática foi uma carta à OPEP acusando os EUA de buscarem tomar o petróleo venezuelano pela força e alertando para riscos ao mercado global de energia. Ele também tentou explorar brechas, oferecendo aos EUA acesso a recursos em troca de alívio, mas a linha dura parece ter prevalecido em Washington.
Mesmo em um cenário de mudança de regime, os desafios seriam monumentais. Especialistas listam cinco prioridades hercúleas para a reconstrução:
A atual estratégia dos EUA de aumentar a pressão máxima inclui a designação do "Cartel de los Soles" — uma alegada rede de tráfico ligada ao alto comando — como organização terrorista. Esta medida complica ainda mais as operações de empresas estrangeiras que ainda atuam no país, como a Chevron, ampliando os riscos legais de qualquer interação com entidades venezuelanas.
O impasse, portanto, é profundo. De um lado, um governo americano que parece determinado a forçar uma mudança, com o petróleo como pano de fundo estratégico. De outro, um regime que resiste e uma população que, exausta, enfrenta a crise com um misto de esperança resignada e profundo ceticismo, enquanto o mundo observa mais um capítulo turbulento na história de um país cuja riqueza subterrânea parece ser tanto uma maldição quanto uma potencial salvação.
Com informações de: Folha de S.Paulo, CNN International, CNN Brasil, BBC, O Globo, The Guardian, Bloomberg, Trading Economics■