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Peru decreta emergência em fronteira com Chile ante ameaça de crise migratória
Medida de 60 dias na região de Tacna busca conter fluxo de migrantes que deixam o Chile temendo políticas de expulsão do candidato de direita José Antonio Kast
America do Sul
Foto: https://f.i.uol.com.br/fotografia/2023/04/27/1682620643644ac0e352e8a_1682620643_3x2_md.jpg
■   Bernardo Cahue, 29/11/2025

O governo peruano declarou estado de emergência na fronteira com o Chile nesta sexta-feira (28), uma medida preventiva que estará em vigor por 60 dias na região sul de Tacna e inclui o reforço militar para impedir a entrada de migrantes sem documentação válida. O anúncio foi feito pelo presidente José Jerí, que viajou para a região fronteiriça no domingo anterior.

A decisão ocorre em um contexto de crescente tensão migratória, impulsionada pela campanha eleitoral no Chile, onde o candidato de extrema-direita José Antonio Kast é o favorito para a presidência no segundo turno do dia 14 de dezembro. Kast construiu sua campanha em torno do combate à imigração irregular e prometeu expulsar do Chile mais de 330 mil imigrantes em situação irregular caso seja eleito.

O gatilho da crise: a campanha eleitoral no Chile

A declaração de emergência peruana é uma resposta direta ao êxodo de migrantes – majoritariamente venezuelanos – que já começaram a deixar o Chile antecipando uma possível vitória de Kast. Em um vídeo de campanha filmado na própria fronteira, Kast emitiu um ultimato aos imigrantes: "Vocês têm 111 dias para deixar o Chile voluntariamente. Se não, vamos impedir-vos, vamos deter-vos, vamos expulsar-vos. Vocês sairão apenas com as roupas que têm no corpo".

O ministro da Segurança Pública do Chile, Luis Cordero, chegou a criticar a retórica da campanha, afirmando que "a retórica às vezes tem consequências" e que "as pessoas não podem ser usadas como meio para criar controvérsia nas eleições", destacando que o principal objetivo do governo atual é prevenir uma crise humanitária.

A situação na fronteira

Nos últimos dias, imagens de famílias migrantes tentando cruzar do Chile para o Peru com seus pertences em mochilas e sacos de plástico circularam amplamente na mídia peruana. Um migrante venezuelano, em condição anônima, resumiu o temor geral: "Eles não querem deixar-nos entrar no Peru (…) temos medo que nos expulsem à força do Chile".

O general de polícia Arturo Valverde, chefe da região de Tacna, confirmou a intensificação da vigilância e explicou a postura do Peru: "É um problema que está surgindo com a chegada de muitos estrangeiros sem documentos que procuram entrar em nosso país. Os sem documentos ou aqueles que não têm passaporte e visto não podem entrar".

Disputa presidencial chilena: um cenário polarizado

O segundo turno das eleições presidenciais chilenas, em 14 de dezembro, colocará frente a frente dois projetos políticos antagônicos:

  • José Antonio Kast (Partido Republicano): Candidato de extrema-direita que defende um "governo de emergência", focado em segurança pública e imigração. Promete construir cercas na fronteira e expulsar imigrantes em situação irregular, inspirando-se em figuras como Nayib Bukele, Javier Milei e Jair Bolsonaro. Ele também é conhecido por suas posições conservadoras em questões sociais, como a oposição ao aborto mesmo nas três exceções atuais (risco de vida para a mãe, inviabilidade fetal e estupro) e à pílula do dia seguinte.
  • Jeannette Jara (Partido Comunista): Candidata de esquerda e atual ministra do Trabalho no governo de Gabriel Boric, foi a mais votada no primeiro turno, com 26,85% dos votos. Sua campanha defende a manutenção e ampliação de direitos sociais e a integração regional. No entanto, analistas apontam que ela enfrenta um cenário desafiador, pois os votos dos demais candidatos de direita, se somados, ultrapassam 50% do eleitorado.

O panorama migratório regional

A crise na fronteira Peru-Chile é um reflexo de um deslocamento populacional em grande escala. De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), cerca de 7,9 milhões de venezuelanos vivem fora de seu país, o que representa o segundo maior deslocamento do mundo. Desse total, estima-se que aproximadamente 700 mil venezuelanos residam no Chile e cerca de 1,5 milhão no Peru.

O fluxo de pessoas através das fronteiras da América Latina continua a ser um dos grandes desafios para os governos da região, oscilando entre políticas de acolhimento e medidas de restrição, frequentemente influenciadas pelo clima político interno de cada nação.

Com informações de: Terra.com.br, Agência Brasil, Grabois.org.br, CNN Brasil, Observador, Al Jazeera, G1, BBC ■