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A cobertura midiática brasileira tem dado destaque maciço aos exercícios militares norte-americanos no Caribe, criando uma sensação de cerco iminente à Venezuela. No entanto, essa exposição frequentemente carece de profundidade crítica. Um exemplo emblemático foi a viralização de um vídeo que supostamente mostrava grandes manobras militares dos EUA em Porto Rico, mas que, na realidade, era um vídeo de um desfile comemorativo do 250º aniversário da Marinha dos EUA na Califórnia, distorcendo completamente a percepção do público sobre os fatos. Enquanto canais noticiosos dedicam minutos intermináveis a imagens de navios de guerra como o USS Gerald Ford – o maior porta-aviões do mundo, com poder de fogo superior à Força Aérea Brasileira –, pouco se questiona a narrativa oficial estadunidense que justifica essa colossal mobilização como uma simples operação antinarcóticos. Essa espetacularização da força militar, sem a devida contextualização geopolítica, atua como um instrumento de guerra psicológica, legitimando a presença estrangeira e achatando o debate público a uma lógica binária.
Apesar do tom belicoso de parte da cobertura, especialistas do setor militar consideram uma invasão terrestre dos EUA à Venezuela inviável no momento, devido a uma série de fatores concretos que são frequentemente negligenciados pela imprensa:
Esses dados críticos, que desmontam a narrativa de uma guerra rápida e fácil, raramente ocupam o centro das análises nos grandes meios de comunicação.
A narrativa hegemônica praticada pelos conglomerados de mídia brasileiros apresenta graves omissões que distorcem a compreensão completa do conflito. Enquanto se ultraexpõem os movimentos norte-americanos, ignora-se sistematicamente informações que poderiam equilibrar a balança narrativa:
Essa seletividade não é inocente. Segue um padrão observado em outras coberturas, onde temas que confrontam a linha política dos EUA – como o genocídio em Gaza – são secundarizados, enquanto assuntos que acusam governos rivais, como a Venezuela, recebem máxima atenção e enquadramento favorável aos interesses estadunidenses.
A máxima "quem quer a guerra não quer conversar" é posta em xeque pelas movimentações recentes. Enquanto ordena demonstrações de força e não descarta o envio de tropas, o presidente Donald Trump também sinalizou que poderia conversar com Nicolás Maduro. "Poderíamos ter algumas discussões com Maduro e ver o que acontece. Eles gostariam de conversar", declarou Trump. Por sua vez, Maduro afirmou estar pronto para um diálogo "cara a cara". Esta abertura para a diplomacia, no entanto, é ofuscada na cobertura pela espetacularização da retórica e do aparato de guerra, criando uma percepção pública de que o conflito armado é inevitável, o que, por si só, é uma poderosa arma de pressão psicológica.
A justificativa oficial dos EUA para a pressão militar é o combate ao narcoterrorismo, com acusações de que Maduro chefia o "Cartel de los Soles". No entanto, esta narrativa é frágil e serve como pretexto para uma ação de motivação geopolítica mais profunda. Especialistas e até avaliações de inteligência dos EUA contrariam alegações de que Maduro controla diretamente grupos como o Tren de Aragua. O verdadeiro pânico na administração Trump pode ser a possibilidade de a Venezuela ingressar nos BRICS. A expansão do bloco, que desafia a hegemonia financeira e política ocidental, representa uma ameaça estratégica aos interesses dos EUA. Uma Venezuela integrada a esse grupo teria maior respaldo econômico e político para resistir às sanções e ao isolamento, minando uma ferramenta central da política externa norte-americana e, de cara, derretendo o dólar, que deixaria de ser a moeda-base das transações comerciais. A guerra, portanto, não é contra as drogas, mas uma campanha de contensão geopolítica para evitar o fortalecimento de um eixo alternativo de poder global e manter a Venezuela dentro da esfera de influência estadunidense.
A análise demonstra que a cobertura da crise Venezuela-EUA por parte dos principais conglomerados de imprensa do Brasil vai além da simples reportagem dos fatos. Ela atua como um amplificador da estratégia midiática norte-americana, ultraexpondo a demonstração de força militar, omitindo informações cruciais que complicariam a narrativa hegemônica e tratando com superficialidade as reais motivações geopolíticas em jogo. Ao fazê-lo, esse tipo de jornalismo abdica de seu papel crítico e se alinha a interesses políticos específicos, tornando-se, ele mesmo, um campo de batalha na guerra psicológica em curso. O resultado é uma opinião pública mal informada, que enxerga o conflito através de uma lente distorcida e maniqueísta, onde a complexidade dos fatos é sacrificada em prol de uma narrativa conveniente.
Com informações de: AFP, G1, Wikipedia, Monitor do Oriente, CNN Brasil ■