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PF investiga vigília de Flávio como cobertura para fuga para aeródromo
Convocação de "vigília" e violação de tornozeleira na mesma madrugada levaram à prisão preventiva de Bolsonaro; aeródromo da família Piquet, a 200 metros da casa do ex-presidente, é investigado como rota de escape
America do Sul
Foto: https://static.congressoemfoco.com.br/CONG_REDES_RETANGULAR/2025/11/22/143a30_CONG_REDES_RETANGULAR_flaviobolsonaro.jpg
■   Bernardo Cahue, 28/11/2025

A Polícia Federal (PF) investiga se a "vigília" convocada pelo senador Flávio Bolsonaro na frente do condomínio onde seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, cumpria prisão domiciliar fazia parte de um plano para criar tumulto e facilitar uma fuga. A hipótese inclui o uso do aeródromo privativo da família Piquet, localizado a aproximadamente 200 metros da residência, como rota de escape.

A vigília e a decisão judicial

Na noite de sexta-feira, 21 de novembro, Flávio Bolsonaro publicou um vídeo nas redes sociais convocando apoiadores para uma "vigília pela saúde de Bolsonaro e pela liberdade no Brasil", marcada para o sábado, 22 de novembro, às 19h, no balão do Jardim Botânico, na altura do condomínio Solar de Brasília 2. No vídeo, o senador afirmou: "Vamos invocar o Senhor dos Exércitos! A oração é a verdadeira armadura do cristão" e fez um "convite especial" para que as pessoas fossem ao local.

Para o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a convocação, embora disfarçada de ato religioso, tinha "caráter beligerante" e indicava "a possível tentativa de utilização de apoiadores para impedir a fiscalização da tornozeleira e da prisão domiciliar". Em sua decisão pela prisão preventiva, Moraes escreveu que a conduta representava um "altíssimo risco para a efetividade da prisão domiciliar" e poderia criar o caos necessário para facilitar uma evasão do ex-presidente.

O aeródromo Piquet: a pista a um passo de casa

Investigadores da Polícia Federal passaram a considerar seriamente a hipótese de que o aeródromo privativo da família Piquet, situado a cerca de 200 metros do condomínio de Bolsonaro, poderia ter sido cogitado como peça central em um plano de fuga .

  • Localização e características: A pista, registrada na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) como aeródromo privado, tem 590 metros de comprimento e é asfaltada, com autorização para operação visual diurna e noturna. Ela é considerada adequada para operações com monomotores, bimotores leves e, principalmente, helicópteros .
  • Relação com Bolsonaro: O ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet, aliado declarado de Bolsonaro, visitou o ex-presidente durante a prisão domiciliar no início de novembro, com autorização do próprio STF. O responsável pela pista é Geraldo Piquet Souto Maior, irmão de Nelson, um piloto experiente.

A PF estuda realizar diligências no local, incluindo o levantamento de imagens e a eventual oitiva de Geraldo Piquet. Apesar de partes da pista estarem ocupadas por um empreendimento imobiliário, o espaço remanescente segue tecnicamente utilizável para operações de helicópteros.

A violação da tornozeleira e a noite decisiva

O risco de fuga foi considerado iminente após a violação da tornozeleira eletrônica de Bolsonaro na madrugada de sábado, 22 de novembro, por volta das 0h08 . O ministro Alexandre de Moraes foi informado sobre o ocorrido pelo Centro de Monitoração Integrada do Distrito Federal.

Em sua decisão, Moraes foi taxativo: "a informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho" . Inicialmente, em vídeo, Bolsonaro disse ter danificado o equipamento com um ferro de solda "por curiosidade". Posteriormente, em audiência de custódia, sua defesa alterou a argumentação, alegando que ele agiu movido por "paranoia" e "alucinação" causadas pela interação de medicamentos (Pregabalina e Sertralina).

Os fundamentos jurídicos da prisão preventiva

Alexandre de Moraes listou em sua decisão os elementos que configuravam o "elevado risco de fuga":

  1. A tentação de violar a tornozeleira eletrônica na mesma madrugada em que uma aglomeração foi convocada.
  2. A convocação da vigília por Flávio Bolsonaro, interpretada como uma reedição do "modus operandi" de usar manifestações para causar tumulto e obter vantagens.
  3. A proximidade com o Setor de Embaixadas, que fica a 13 km do condomínio (cerca de 15 minutos de carro), e o histórico de Bolsonaro de cogitar asilo em embaixadas, como a da Hungria e da Argentina.

A defesa e os próximos passos

A defesa de Bolsonaro neta que houvesse qualquer intenção de fuga e sustenta a tese do problema de saúde. Os advogados pediram a reversão da prisão preventiva para o regime domiciliar, alegando que o episódio da tornozeleira apenas reforça o comprometimento da saúde do ex-presidente.

Bolsonaro foi preso na manhã de sábado (22) e transferido para a Superintendência da PF em Brasília, onde ocupa uma "Sala de Estado". A prisão decretada é preventiva, sem prazo determinado, e tem o objetivo de impedir um risco específico, não sendo ainda o início do cumprimento da pena de 27 anos pela tentativa de golpe de Estado.

Com informações de: CNN Brasil, G1, The Intercept, BBC News, Agência Brasil, Consultor Jurídico ■