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Imprensa na mira: a guerra suja por trás da cobertura da "pauta-bomba"
Investigação revela como conglomerados midiáticos distorcem fatos e violam princípios éticos para proteger interesses bilionários de empresas terceirizadas na saúde pública
Analise
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■   Bernardo Cahue, 27/11/2025

A disputa pela aposentadoria especial de mais de 500 mil Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias transformou-se num dos mais emblemáticos casos de manipulação jornalística dos últimos anos. Enquanto grandes veículos de comunicação insistem na narrativa da "bomba fiscal", documentos oficiais e especialistas independentes comprovam que o verdadeiro temor reside no fim de lucrativos contratos de terceirização que movimentam bilhões anualmente.

Violação sistêmica dos princípios éticos jornalísticos

O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros estabelece com clareza solar: é vedado ao profissional "confundir o trabalho jornalístico com o de publicidade ou divulgação comercial". Contudo, a cobertura predominante sobre as propostas PEC 14/2021 e PLP 185/2024 revela uma simbiose perigosa entre interesses comerciais e conteúdo noticioso.

Fontes do mercado publicitário confirmam que as Organizações Sociais de Saúde figuram entre os maiores anunciantes de veículos que lideram a campanha contra as propostas. O conflito de interesses, longe de ser mera coincidência, representa violação grave aos princípios fundamentais da profissão, que incluem:

  • Compromisso inalienável com a verdade factual;
  • Independência frente a quaisquer grupos de poder;
  • Transparência sobre fontes e conflitos potenciais;
  • Responsabilidade social perante o interesse público.

Arquitetura da desinformação: como se constrói uma narrativa enganosa

Especialistas em comunicação política identificaram pelo menos três eixos estratégicos na campanha de desinformação sobre as propostas:

  • Apocalipse Fiscal: Divulgação seletiva de números superdimensionados sobre supostos impactos nas contas públicas, omitindo que os recursos já constam no Orçamento da União;
  • Pânico Administrativo: Alegação infundada de que estados e municípios arcarão com ônus extras, ignorando que a PEC mantém a União como principal financiadora;
  • Silêncio Conveniente: Omissão sistemática sobre os R$ 18 bilhões anuais em contratos de terceirização que seriam redirecionados aos trabalhadores.

O quarto poder em colisão com o interesse público

A teoria clássica do quarto poder, que atribui à imprensa função fiscalizatória sobre os demais poderes, sofre grave erosão quando meios de comunicação assumem papel de defensores de interesses corporativos. A cobertura enviesada sobre as propostas trabalhistas dos agentes de saúde evidencia crise profunda na função social do jornalismo.

Pesquisa recente do Instituto de Estudos em Comunicação aponta que 68% dos brasileiros desconfiam de matérias sobre impacto financeiro de políticas públicas quando veiculadas por grupos midiáticos com interesses comerciais conhecidos no tema. O dado revela crescente conscientização popular sobre as engrenagens que movem certos conteúdos "jornalísticos".

Consequências reais para a saúde pública

Além dos prejuízos éticos e democráticos, a campanha midiática contra as propostas gera consequências concretas no sistema de saúde:

  • Desvalorização profissional de categorias essenciais ao SUS;
  • Insegurança jurídica para gestores públicos que apoiam as medidas;
  • Retardo na votação de matérias que beneficiariam meio milhão de trabalhadores;
  • Prejuízo à qualidade dos serviços de saúde básica em todo o país.

O outro lado que não sai no jornal

Enquanto as manchetes destacam supostos "rombos", omitem completamente que o modelo atual de terceirização:

  • Drena recursos públicos através de contratos superfaturados;
  • Precariza condições de trabalho dos agentes de saúde;
  • Fragiliza o SUS ao transferir gestão para entidades privadas;
  • Concentra lucros em poucas organizações com forte poder de lobby.

O silêncio midiático sobre estas questões fundamentais configura, na avaliação de especialistas em ética jornalística, omissão deliberada tão grave quanto a divulgação de informações falsas.

Com informações de: Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, Instituto de Estudos em Comunicação, Tribunal de Contas da União, Conselho Nacional de Saúde, Frente Nacional de Prefeitos, Sindicato Nacional dos Agentes Comunitários de Saúde ■