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Uma intensa campanha na grande imprensa tem classificado como "pauta-bomba" projetos em tramitação no Congresso que garantem direitos trabalhistas a Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias. No entanto, uma análise crítica revela que a narrativa do "impacto bilionário" carece de fundamentação orçamentária e esconde o principal interessado no debate: as Organizações Sociais (OS), que movimentam um mercado bilionário na terceirização desses profissionais. A ausência de transparência sobre os vínculos entre veículos de comunicação e esses grupos empresariais alimenta a desconfiança sobre uma cobertura jornalística pautada por interesses escusos.
Um estudo recente do Movimento Orçamento Bem Gasto revela que 80% dos projetos de lei enviados ao Congresso sobre despesas não contam com estimativas de impacto nas contas públicas. Esse dado desmonta a premissa central da narrativa alarmista: se a maioria esmagadora das propostas legislativas sequer possui cálculos de seu custo, a divulgação de valores precisos e consolidados sobre supostos "rombos bilionários" torna-se, no mínimo, questionável. O próprio coordenador do movimento, Marcelo Issa, ressalta que "o procedimento legislativo correto para projetos que impactem o orçamento público deveria incluir a análise das propostas nas comissões das Casas Legislativas", mas muitos avançam sem esse crivo.
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros é explícito em seu artigo 7º, inciso VI: os profissionais não podem "realizar cobertura jornalística para o meio de comunicação em que trabalha sobre organizações públicas, privadas ou não-governamentais, da qual seja assessor, empregado, prestador de serviço ou proprietário". No entanto, casos recentes expuseram graves violações desse princípio, como o da jornalista da TV Record que vazou trechos descontextualizados de entrevista com o presidente Lula para uma corretora de investimentos da qual era sócia. Tais episódios alimentam a desconfiança do público sobre a integridade da imprensa.
Pesquisa do relatório State of Media 2024 confirma que 42% dos jornalistas entrevistados consideram "manter a credibilidade como fonte de notícias confiável" seu maior desafio. Esta preocupação supera até mesmo questões como inteligência artificial e cortes de verba, refletindo uma crise de confiança profunda no setor. Analistas apontam que "o jornalismo nacional tem feito muito pouco para se mostrar confiável para o público", especialmente pela falta de transparência sobre quem banca o jornalismo e como grupos midiáticos se relacionam com partidos, autoridades e governos.
O modus operandi da desinformação identificado em campanhas eleitorais ajuda a entender a estratégia por trás da narrativa da "pauta-bomba":
Enquanto a imprensa brasileira não adotar maior transparência sobre seus conflitos de interesse potenciais, especialmente em pautas que envolvem bilhões de reais em contratos de terceirização, a desconfiança do público continuará aumentando. Como alertou o ministro Luiz Fux, "o jornalismo de qualidade pode incomodar, mas sua existência deve ser garantida" - desde que pautada pela ética e pelo compromisso com o interesse público, e não por campanhas encomendadas.
Com informações de: Valor Econômico, CNN Brasil, Estado de Minas, G1, objETHOS, MediaTalks, Cision, Aos Fatos ■