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Em outubro de 2025, uma fábrica da Nexperia em Dongguan, no sul da China, tornou-se o epicentro de uma crise global que paralisou a indústria automotiva mundial. O mesmo setor que, após a escassez de semicondutores durante a pandemia, jurou diversificar suas fontes e reforçar estoques, viu-se novamente refém de um único fornecedor em um contexto geopolítico explosivo. Desta vez, o gatilho não foi um evento natural ou sanitário, mas uma disputa internacional por controle tecnológico que expôs vulnerabilidades estruturais irremediáveis.
A Nexperia, com sede na Holanda, é pouco conhecida do público geral, mas mantém uma posição estratégica na indústria global. A empresa controla aproximadamente 40% do mercado mundial de componentes básicos como transistores e diodos, que são essenciais para sistemas eletrônicos automotivos. Um veículo moderno utiliza entre mil a 3 mil chips da empresa, que atuam em funções críticas como gerenciamento do motor, freios, airbags e sistemas de entretenimento.
Essa dominância de mercado transformou a empresa em um elo indispensável para praticamente todas as montadoras do mundo, incluindo Volkswagen, Toyota, BMW e Mercedes-Benz. Cerca de 60% dos produtos da Nexperia são destinados ao setor automotivo, criando uma dependência crítica que se revelaria catastrófica quando a crise geopolítica eclodiu.
O conflito começou a se desenhar quando o governo holandês invocou uma lei da Guerra Fria — a Lei de Disponibilidade de Produtos — para assumir o controle da Nexperia em 30 de setembro de 2025. A justificativa foi evitar que conhecimento tecnológico crucial fosse transferido para a China, já que a empresa é subsidiária da chinesa Wingtech Technology.
A resposta chinesa foi imediata: o Ministério do Comércio da China impôs restrições à exportação de componentes eletrônicos produzidos nas fábricas da Nexperia em território chinês . Como aproximadamente 70% do processamento final dos chips da empresa ocorria na China, a medida interrompeu brutalmente o fluxo global de suprimentos.
O ápice da crise ocorreu quando a gestão chinesa da Nexperia instruiu funcionários a ignorarem ordens da sede holandesa, declarando a empresa como "chinesa com operações rooted na China". O conflito de governança paralisou completamente as operações.
O impacto sobre as montadoras foi imediato e severo:
A crise da Nexperia revelou problemas estruturais profundos na indústria automotiva:
Em novembro de 2025, a China sinalizou a possibilidade de exceções à proibição de fornecimento , mas especialistas alertam que o problema fundamental permanece. A indústria automotiva não aprendeu com a crise anterior de semicondutores da pandemia e continuou operando com cadeias de suprimentos extremamente frágeis.
Projetos europeus para reduzir dependências, como a fábrica da TSMC em Dresden, programada para 2027 , mostram que soluções estruturais levarão anos. Enquanto isso, a indústria permanece refém de tensões geopolíticas que transformaram componentes eletrônicos básicos em armas estratégicas.
A crise da Nexperia serve como um alerta contundente: na economia global hiperconectada, segurança nacional, interesses corporativos e cadeias de suprimentos estão inextricavelmente ligados. Até que essa lição seja verdadeiramente aprendida, interrupções catastróficas continuarão a ameaçar setores industriais inteiros.
Com informações de DW, Z2Data, O Globo, Xpert Digital ■