Siga nossas redes sociais
Logo     
Siga nossos canais
   
Ex-premiê de Bangladesh condenada à morte por crimes contra a humanidade
Sheikh Hasina recebeu a sentença máxima por seu papel na repressão letal a protestos estudantis em 2024 que resultou em mais de mil mortes
Leste Asiatico
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRhyNKyLNv6rTS20OyB7RidFzyvoUBxRk9LNQ&s
■   Bernardo Cahue, 17/11/2025

Em um veredicto histórico que abala o cenário político de Bangladesh, a ex-primeira-ministra Sheikh Hasina foi condenada à morte nesta segunda-feira (17) por crimes contra a humanidade. A sentença foi proferida pelo Tribunal de Crimes Internacionais de Bangladesh, um tribunal interno de crimes de guerra localizado na capital Daca.

O juiz Golam Mortuza Mozumder, que presidiu o tribunal de três juízes, declarou durante a leitura do veredicto: "Todos os elementos constitutivos de um crime contra a humanidade estão reunidos. Decidimos impor uma única pena, a pena de morte". O tribunal considerou Hasina culpada por ordenar uma violenta repressão a manifestações de estudantes no ano passado que terminou com mais de mil mortes .

Os crimes e as acusações

Sheikh Hasina enfrentou cinco acusações principais relacionadas à repressão dos protestos, incluindo:

  • Incitamento ao assassinato de manifestantes
  • Ordenar que manifestantes fossem enforcados
  • Autorizar o uso de armas letais, drones e helicópteros para suprir os protestos
  • Ordenar a eliminação de manifestantes
  • Envolvimento em incidentes específicos de mortes de estudantes

Os juízes afirmaram que estava "cristalino" que Hasina "expressou seu incitamento aos ativistas de seu partido... e, além disso, expressou que ordenou matar e eliminar os estudantes protestando".

A repressão fatal de 2024

Os eventos que levaram à condenação de Hasina remontam a julho e agosto de 2024, quando protestos estudantis eclodiram em Bangladesh. De acordo com um relatório das Nações Unidas, estima-se que até 1.400 pessoas podem ter sido mortas durante os protestos, a maioria por disparos das forças de segurança .

O relatório da ONU, publicado em fevereiro de 2025, concluiu que a resposta brutal foi uma "estratégia calculada e bem coordenada do antigo governo para manter o poder diante da oposição em massa". A investigação documentou que 12% a 13% dos mortos eram crianças e que as forças de segurança deliberadamente atiraram para matar manifestantes, incluindo incidentes de pessoas baleadas à queima-roupa.

A defesa e a reação de Hasina

Sheikh Hasina, que atualmente está no exílio na Índia após fugir de Bangladesh em agosto de 2024, não compareceu ao tribunal para o veredicto. Em resposta à condenação, ela afirmou que a sentença é enviesada e acusou haver motivação política por trás do julgamento .

A ex-premiê argumentou que "não teve acesso à ampla defesa" e que pretende "enfrentar meus acusadores em um tribunal adequado, onde as provas possam ser avaliadas e examinadas de forma justa" . Seu partido, a Liga Awami, já havia classificado o tribunal como ilegítimo, apesar de a própria Hasina tê-lo estabelecido em 2009 para investigar crimes da guerra de independência de 1971.

Contexto político e consequências

O veredicto ocorre a apenas alguns meses das eleições parlamentares previstas para fevereiro de 2026. O partido de Hasina, a Liga Awami, foi impedido de concorrer, e há temores de que a condenação possa desencadear nova onda de violência política no país.

O governo interino, liderado pelo ganhador do Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus, que assumiu após a queda de Hasina, defende que os julgamentos são um passo essencial para restaurar a responsabilidade e reconstruir a confiança pública nas instituições democráticas do país.

Sheikh Hasina pode recorrer da sentença à Suprema Corte de Bangladesh. Seu filho, Sajeeb Wazed, já declarou que não recorreriam a menos que um governo democraticamente eleito assumisse o poder com a participação da Liga Awami.

Com informações de: The Guardian, G1, United Nations, Al Jazeera, Opera Mundi, CNN ■