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Como a fuga de Ramagem para Miami influenciou a prisão de Bolsonaro
A evasão do deputado Alexandre Ramagem para os EUA expôs fragilidades no sistema de monitoramento e criou um argumento decisivo usado pela PF e pelo STF para decretar a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, temendo uma repetição do caso
Analise
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■   Bernardo Cahue, 22/11/2025

A fuga bem-sucedida do deputado Alexandre Ramagem para Miami, nos Estados Unidos, em novembro de 2025, tornou-se um ponto de virada na condução judicial dos condenados na ação penal da trama golpista. O episódio não apenas expôs vulnerabilidades no sistema de controle da Justiça, mas também forneceu à Polícia Federal e ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, um argumento concreto e urgente para decretar a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, impedindo que a história se repetisse com o principal condenado do processo.

O Caso Ramagem: A Fuga que Alertou o Sistema

Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin e deputado federal, foi condenado pelo STF a 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão pelos crimes de organização criminosa, golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Apesar de estar proibido de sair do país e de ter seus passaportes recolhidos, Ramagem deixou o Brasil de forma clandestina em setembro de 2025.

Suas estratégias para burlar a vigilância judicial incluíram:

  • Uso de atestados médicos consecutivos para justificar sua ausência, enquanto participava de votações na Câmara dos Deputados de forma remota.
  • Uma rota de fuga complexa, envolvendo um voo para Boa Vista, em Roraima, e um deslocamento terrestre até a fronteira, provavelmente com a Venezuela ou Guiana Francesa, de onde seguiu para os EUA.
  • Manutenção de aparências, utilizando a cota parlamentar para gastos no Brasil, como combustível e serviços de marketing, mesmo estando foragido no exterior.

O paradeiro de Ramagem só foi descoberto em 19 de novembro, quando o site PlatôBR localizou e filmou o deputado em um condomínio de luxo em North Miami. No dia 21, Moraes decretou sua prisão preventiva.

O Efeito Dominó: Como a Fuga de Ramagem Impactou o Caso Bolsonaro

A evasão de Ramagem teve um impacto imediato e profundo na análise do risco representado por Jair Bolsonaro. A condenação do ex-presidente – 27 anos e 3 meses de prisão – era ainda mais severa, e o precedente mostrou que as medidas cautelares então em vigor poderiam ser insuficientes.

Este episódio foi instrumentalizado diretamente pelas autoridades:

  • Na decisão do ministro Alexandre de Moraes que decretou a prisão de Bolsonaro, ele citou explicitamente que Ramagem "evadiu-se do país com a finalidade de se furtar a aplicação da lei penal".
  • O pedido da Polícia Federal pela preventiva de Bolsonaro também usou o caso Ramagem como justificativa central para o risco de fuga.
  • Analistas políticos e a própria PGR passaram a ver com extrema desconfiança qualquer movimento de Bolsonaro e sua família, entendendo que a fuga era uma possibilidade real.

As Respostas do Sistema: Do Alerta Geral à Prisão Preventiva

O caso Ramagem funcionou como um alerta geral para o sistema de Justiça, que precisou agir para não cometer o mesmo erro. As ações subsequentes demonstraram uma mudança de postura:

  1. Fortalecimento do Argumento de Risco de Fuga: A fuga de um condenado de alto perfil mostrou que o risco não era teórico. Isso deu lastro sólido ao pedido da PF e à decisão de Moraes sobre Bolsonaro, especialmente após a violação de sua tornozeleira eletrônica e a convocação de uma vigília por Flávio Bolsonaro, vista como potencial cortina de fumaça.
  2. Cooperação Internacional e Limites: A prisão de Ramagem foi decretada, mas seu cumprimento depende agora de um complexo processo de extradição junto às autoridades norte-americanas, o que pode levar meses e envolve impasses políticos, dado o alinhamento de figuras do governo Trump com a narrativa de "perseguição" a Bolsonaro. Esse cenário complicado tornava imperativo evitar uma segunda fuga.
  3. Pressão Política e Judicial: A fuga gerou intensa pressão sobre o STF, com partidos como o PSOL pedindo a prisão imediata de Ramagem e, por extensão, medidas mais duras para todos os condenados. O STF não poderia ser pego novamente em descompasso.

Conclusão: Um Erro que Não se Repetiria

A fuga de Alexandre Ramagem para Miami foi mais do que um episódio isolado; foi um evento catalisador que forçou o sistema de Justiça a recalibrar sua estratégia em relação aos condenados do núcleo golpista. Ele materializou o risco de fuga que antes era apenas uma hipótese, tornando-o tangível e urgente. Para o STF e a PF, errar com Ramagem foi uma falha operacional e de avaliação que serviu de lição. Permitir que Jair Bolsonaro, a figura central de todo o processo, seguisse o mesmo caminho seria uma falha institucional de proporções incalculáveis. A prisão preventiva de Bolsonaro foi, portanto, a resposta direta a um precedente que o Judiciário não estava disposto a aceitar pela segunda vez.

Com informações de: CNN Brasil, Agência Brasil, UOL, O Globo, PlatôBR, BBC, Gazeta do Povo ■