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O governo húngaro, liderado pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, está travando uma batalha em múltiplas frentes contra as sanções internacionais à energia russa, uma luta que coloca Budapeste em rota de colisão com seus parceiros europeus e que recentemente obteve um alívio crucial diretamente de Washington. A Hungria sustenta que o bloqueio aos combustíveis fósseis russos representa uma ameaça existencial para sua economia, uma posição que a levou a anunciar uma ação judicial contra a União Europeia (UE) e a assegurar uma isenção temporária das sanções americanas após um encontro entre Orbán e o presidente dos EUA, Donald Trump.
A dependência energética como argumento central
A espinha dorsal da argumentação húngara é sua profunda dependência do petróleo e do gás natural russos. O país, sem saída para o mar, importa da Rússia 85% do gás e 65% do petróleo que consome, números que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), chegam a 74% e 86%, respectivamente. Dados do Centro para o Estudo da Democracia indicam que essa dependência não diminuiu com a guerra; na verdade, a importação de petróleo bruto russo pela Hungria saltou de 61% em 2022 para 92% em 2025 . Orbán classificou o acesso contínuo à energia russa como "vital" e alertou que seu corte resultaria em disparada nos preços, escassez de suprimentos e até mesmo em um "colapso econômico" . O FMI estima que um corte no fornecimento de gás russo poderia causar perdas de produção superiores a 4% do PIB húngaro.
A batalha legal contra a União Europeia
Em uma escalada significativa do conflito, a Hungria decidiu levar a UE ao Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE). O alvo do recurso é o plano aprovado pelo bloco para eliminar progressivamente todas as importações de petróleo e gás russo até o final de 2027 . Em entrevista à rádio estatal húngara, Orbán acusou a UE de tentar contornar o poder de veto do país sobre sanções à energia russa recorrendo a regras comerciais, e classificou a medida de "manifestamente ilegal e contrária aos valores europeus". Ele afirmou ainda que a proibição foi escolhida por Bruxelas para "silenciar um governo que não concorda com ela". Além da ação judicial, o primeiro-ministro afirmou estar explorando "outros meios de natureza não legal" para evitar o plano da UE, sem divulgar publicamente quais seriam.
O alívio temporário concedido por Washington
Enquanto desafia Bruxelas, Orbán conseguiu um importante acordo bilateral com os Estados Unidos. Em uma visita à Casa Branca em novembro de 2025, ele negociou com o presidente Trump uma isenção para a Hungria das sanções americanas que atingem as empresas petrolíferas russas Rosneft e Lukoil. No entanto, houve versões contraditórias sobre a duração desta isenção:
Orbán minimizou a discrepância, caracterizando o acordo como "pessoal entre dois líderes" e afirmando que a isenção permanecerá em vigor "enquanto Donald Trump for Presidente dos Estados Unidos e houver um governo patriota na Hungria". Como parte das discussões, a Hungria também concordou em comprar gás natural liquefeito (GNL) dos EUA em contratos que valeriam cerca de 600 milhões de dólares.
O cenário mais amplo e a pressão europeia
A postura da Hungria a coloca em um grupo minoritário dentro da UE, ao lado da Eslováquia, que também depende fortemente da energia russa. Enquanto isso, um bloco de dez países, incluindo Polônia, República Tcheca e os estados bálticos, assinou uma carta conjunta exigindo uma proibição total do gás russo, argumentando que "a capacidade da Rússia para sustentar os seus esforços de guerra está profundamente ligada às suas receitas energéticas". A UE como um todo gastou cerca de 23 bilhões de euros em combustíveis fósseis russos apenas em 2024, um valor que supera o apoio militar dado à Ucrânia e que se tornou uma fonte de atrito entre os Estados-membros. Enquanto a Hungria busca garantir seu suprimento energético, a alta representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, reafirmou publicamente a expectativa de que os EUA mantenham e efetivem suas sanções contra a Rússia.
Com informações de: pt.euronews.com, www.consilium.europa.eu, www.jornaldenegocios.pt, noticias.uol.com.br, g1.globo.com, www.dw.com, sapo.pt, observador.pt, www.publico.pt ■