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Um avanço histórico na representatividade no Poder Executivo federal, com a participação de negros e indígenas em cargos de liderança alcançando 39% em 2024 - o maior patamar em 25 anos - tem sido recebido com silêncio seletivo e críticas descontextualizadas por parte de deputados, senadores bolsonaristas e setores da mídia alinhados ao campo político. Enquanto o governo atual implementa políticas afirmativas concretas, as mesmas vozes que não se manifestaram sobre a baixa diversidade em governos anteriores agora questionam nomeações com recorte racial e de gênero.
O estudo "Lideranças Negras no Estado Brasileiro (1995-2024)", realizado pelo Afro-Cebrap, revela uma transformação profunda no perfil do serviço público federal:
Esta evolução representa um aumento de 17 pontos percentuais na participação de negros e indígenas no Executivo federal ao longo de 25 anos, com crescimento consistente através de diferentes governos, incluindo uma elevação de 35% para 39% apenas entre 2022 e 2024.
O salto na representatividade não é acidental, mas resultado de políticas públicas deliberadas:
O que chama atenção não é apenas o avanço, mas a reação diferencial de setores políticos e midiáticos. Enquanto criticavam intensamente as atuais políticas de cotas e nomeações com recorte racial, parlamentares bolsonaristas e colunistas aliados mantiveram silêncio quase absoluto durante os 40 anos pós-redemocratização sobre a sub-representação histórica de negros, indígenas e mulheres nos altos escalões do governo.
O mesmo segmento que hoje questiona a nomeação de mulheres negras para cargos de destaque não se manifestou quando, durante décadas, ministérios como das Relações Exteriores (51% de homens brancos) e da Fazenda (50% de homens brancos) permaneciam como redutos de homogeneidade racial e de gênero [citation:10].
A indicação de Jorge Messias para o STF desencadeou uma batalha política e nas redes sociais. Enquanto governistas e parte da bancada evangélica elogiaram a escolha, parlamentares bolsonaristas criticaram veementemente a decisão. Nas redes sociais, ganhou força uma campanha pela indicação de uma mulher negra para o cargo. Andreia Sadi, jornalista da GloboNews, alimentou o debate ao destacar que Lula teria de "equilibrar dois fatores: lealdade e governabilidade" em sua escolha. A expectativa por uma nomeação diversa intensificou-se pela coincidência do anúncio com o Dia da Consciência Negra.
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, classificou Messias como "prevaricador" e pediu que o Senado rejeite a indicação. Já o bolsonarista Carlos Jordy considerou a nomeação "um tapa na cara do brasileiro".
A indicação também gerou atritos políticos. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o senador Rodrigo Pacheco manifestaram insatisfação com a forma como a articulação foi conduzida pelo governo. Alcolumbre defendia a indicação de Pacheco, considerado por seus pares "um nome qualificado para a vaga".
Os dados revelam que as resistências se intensificam conforme se sobe na hierarquia do poder. Nos cargos de maior autoridade:
Este fenômeno expõe o que a pesquisa qualitativa identificou como "pacto de branquitude sólido e excludente" que persiste nas esferas mais altas do poder, onde currículo qualificado ajuda, mas não é suficiente para que pessoas negras alcancem posições de comando.
Enquanto setores midiáticos e políticos bolsonaristas constroem narrativas que questionam a meritocracia das atuais nomeações, ignoram que:
A transformação em curso no serviço público, com concursos mais inclusivos e formação de lideranças diversas, representa uma das mais significativas mudanças demográficas do poder na história recente do país. O contraste entre o silêncio diante da exclusão histórica e as críticas aos avanços atuais revela mais sobre os críticos do que sobre as políticas que buscam corrigir quatro décadas de sub-representação pós-redemocratização.
Com informações de: Agência Brasil, Fundação Lemann, Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos ■