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Desmonte dos Correios durante o Governo Bolsonaro marcam maior crise da estatal, diz sindicato
Empresa pública acumula rombo bilionário, perde espaço para concorrentes e traça plano de reestruturação que inclui fechamento de agências e demissões em meio à resistência por aporte do Tesouro
Politica
Foto: https://media.gazetadopovo.com.br/2021/02/01151657/9e14ede0-e6f1-11ea-9ca6-9d54f175f843-wp-960x540.jpg
■   Bernardo Cahue, 20/11/2025

Os Correios enfrentam a maior crise de sua história, com uma sequência de 12 trimestres de prejuízos que se arrasta desde meados de 2022. No primeiro semestre de 2025, a empresa pública registrou um déficit de R$ 4,36 bilhões, o maior da sua trajetória, e anunciou a busca por um empréstimo de R$ 20 bilhões para tentar conter o colapso financeiro.

Uma análise detalhada da situação revela uma combinação de fatores internos e externos que explica a gravidade do momento:

  • Gastos crescentes com pessoal: Acordos coletivos concederam reajustes salariais acima da inflação, como o de 10,12% em 2022 (quase o dobro da inflação daquele ano) e 6,57% em 2024, elevando a folha de pagamento em centenas de milhões a cada novo acordo. Somado a isso, a empresa assumiu uma dívida de R$ 2,4 bilhões com um plano de aposentadoria dos funcionários.
  • Queda brutal na receita: O programa Remessa Conforme, do governo federal, permitiu que empresas internacionais de transporte realizassem a distribuição de encomendas no Brasil, quebrando o monopólio operacional dos Correios nesse segmento. Um estudo interno da estatal apontou uma frustração de receita de R$ 2,2 bilhões após a implementação do programa.
  • Perda de mercado e concorrência agressiva: A participação dos Correios no mercado de encomendas, que responde pela metade de sua receita, caiu de 52% em 2018 para 26% em 2023. Concorrentes como JadLog, Loggi, Amazon e Mercado Livre, com modelos de negócio mais enxutos e menos onerosos, cresceram nos trajetos mais competitivos.
  • Problemas de gestão e tecnologia defasada. Uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) já alertava, desde 2013, para a "degradação da liquidez, rentabilidade e viabilidade econômica" da estatal. Centros de distribuição dependem excessivamente de mão de obra manual por falta de automação, e investimentos em modernização, anunciados em 2023, não foram realizados no ritmo previsto devido à falta de caixa.

Para o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo (Sintect-SP), a crise é fruto de um sucateamento iniciado no governo Bolsonaro, marcado pela falta de concursos – o último ocorreu em 2011 – e pela retirada de 50 cláusulas do acordo coletivo, o que precarizou as condições de trabalho. O sindicato defende um aporte emergencial do governo federal para investir em novas tecnologias e permitir que a empresa cumpra seu papel social.

Em meio ao agravamento da crise, o Tesouro Nacional se mostra resistente a um aporte. O secretário Dario Durigan afirmou que um eventual auxílio financeiro direto deve ser considerado apenas como último recurso, e que a prioridade do governo é acompanhar o plano de reestruturação da nova diretoria dos Correios.

Para enfrentar a crise, a nova gestão da estatal, sob o comando de Emmanoel Rondon, anunciou um plano de reestruturação que prevê:

  1. O fechamento de 700 agências até o final de 2025, priorizando a rentabilidade e eficiência.
  2. Um Programa de Demissão Voluntária (PDV) com a meta de desligar 10 mil empregados, o que representaria uma economia anual de aproximadamente R$ 2 bilhões na folha salarial.
  3. A captação de R$ 10 bilhões ainda em 2025 para fechar as contas do ano, com prazo até 25 de novembro para que bancos apresentem propostas.

A estatal, que já tomou empréstimos emergenciais para honrar compromissos de curto prazo, viu seu caixa evaporar: de R$ 3,2 bilhões em 2023, a disponibilidade encolheu para R$ 249 milhões em 2024, uma redução de 92%. A situação atual coloca em risco não apenas o futuro da empresa, mas também uma das suas funções sociais mais essenciais: garantir o acesso a correspondências, encomendas e serviços postais em todos os 5.570 municípios brasileiros.

Com informações de: G1, Valor Econômico, UOL, CNN Brasil, TNH1, Brasil de Fato■