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A liquidação do Banco Master e a prisão de seu controlador, Daniel Vorcaro, suspeito de aplicar um prejuízo de R$ 12,2 bilhões ao sistema financeiro, representam mais do que o colapso de uma única instituição. Para o economista e ex-banqueiro Eduardo Moreira, o caso é uma oportunidade histórica de "desvendar o funcionamento da Faria Lima" e expor uma rede complexa que conecta o mercado financeiro, políticos e fundos de investimento públicos.
O Banco Master cresceu de forma meteórica e agressiva. De 2019 a 2024, seu patrimônio saltou de R$ 219,6 milhões para R$ 4,7 bilhões, enquanto o lucro líquido foi de R$ 38,5 milhões para R$ 1,068 bilhão. Essa expansão foi alimentada por uma estratégia considerada arriscada e pouco convencional:
Conforme a crise do banco se aprofundava, Vorcaro acionou sua extensa rede de influências em uma tentativa desesperada de evitar o colapso. A chave dessa estratégia foi uma articulação política de alto escalão.
O que começou como uma crise de liquidez transformou-se em um escândalo de fraude em larga escala. A Polícia Federal investiga um esquema no qual o Banco Master vendeu ao BRB R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito falsas, a maior parte de empréstimos consignados.
De acordo com as investigações, o Master adquiriu essas carteiras de uma "empresa de prateleira" chamada Tirreno – criada no fim de 2024 e dirigida por um ex-funcionário do banco – sem realizar qualquer pagamento por elas. Imediatamente, o banco as revendeu ao BRB, que efetuou o pagamento à vista. A PF concluiu que a operação foi arquitetada por "pura camaradagem" como uma "tentativa de abafar a fiscalização" do Banco Central.
A gota d'água para a intervenção foi um anúncio feito na segunda-feira (17) sobre um suposto acordo de recapitalização com o grupo Fictor Holding
O escândalo pode ter ramificações ainda mais sombrias. Reportagens apontam que o Banco Master e outros negócios de Daniel Vorcaro receberam investimentos bilionários do fundo Hans 95, da Reag, o maior fundo investigado pela Operação Carbono Oculto da Polícia Federal.
Esse fundo, que movimentou cerca de R$ 35 bilhões, está no centro de uma investigação que apura as conexões entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o mercado financeiro formal, a chamada "Faria Lima".
A quebra do Banco Master já é considerada o maior fracasso bancário da história do Brasil em termos de impacto no sistema de garantia de depósitos . O FGC terá que cobrir R$ 41 bilhões em CDBs segurados, valor que supera o custo corrigido da quebra do Bamerindus.
Além disso, o colapso deixou um rastro de prejuízos em fundos públicos:
Eduardo Moreira amplia o conceito de crime organizado ao incluir esquemas financeiros e corrupção política que, em sua avaliação, operam de forma semelhante a uma máfia. "A Faria Lima mostrou crime organizado no setor de combustíveis, criptomoedas. Isso é igual máfia, tem três famílias que dominam", afirmou o economista.
Ele e outros analistas enxergam a ação firme do Banco Central, que decretou a liquidação extrajudicial do banco e resistiu a fortes pressões políticas, como um ponto positivo em meio à crise. "Se essa operação não foi fechada temos que dar o mérito para o Banco Central, porque, com certeza, houve pressão para essa operação ser fechada", disse Moreira.
Com a liquidação em curso e as investigações da Polícia Federal se aprofundando, a promessa é de que novas e reveladoras conexões entre o dinheiro, o poder e o mercado financeiro brasileiro venham à tona.
Com informações de Valor International, ICL Notícias, Metrópoles, Gazetaweb e Gazeta do Povo ■