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Esquema daria a Vorcaro 36% do BRB e assento no conselho, com aval de Ibaneis
Documentos analisados pelo Banco Central revelam que controlador do Master desenhou holding para comandar banco público; operação desmontada pela PF gerou prisões e liquidação
America do Sul
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■   Bernardo Cahue, 20/11/2025

Um plano ousado, elaborado por Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, teria garantido a ele cerca de 36% das ações do Banco de Brasília (BRB) e um assento no conselho de administração da instituição pública. O esquema, que contou com o conhecimento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e de sua vice, Celina Leão (PP), foi detalhado em documentos que estão sendo analisados pelo Banco Central (BC), Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF).

O desenho do controle e o papel político

De acordo com as investigações, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) foi peça central no lobby que viabilizou as negociações entre Master e BRB. O parlamentar, que é presidente do PP, partido da vice-governadora Celina Leão, teria sido o responsável por "quebrar as resistências" do então presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e por colocar todas as partes à mesa.

A indicação do novo presidente do BRB, Nelson Souza, foi uma escolha pessoal do senador Ciro Nogueira, a pedido de Celina Leão. Essa não foi a primeira vez: tanto Paulo Henrique Costa quanto Celso Elói, seu substituto imediato por um curto período, também foram indicações do senador.

A batalha interna no Banco Central

O caso abriu um polo de divergências dentro do próprio Banco Central. A diretoria de Fiscalização, comandada por Ailton de Aquino Santos, era alvo de críticas internas pela lentidão na apuração de processos investigatórios envolvendo o Master.

Em contrapartida, o diretor de Organização do Sistema Financeiro, Renato Gomes, sempre foi um crítico contundente dos métodos heterodoxos de Vorcaro e de seu sócio, Augusto Lima. Foi Gomes quem segurou o ímpeto da área de Fiscalização e, com o apoio do presidente do BC, Gabriel Galípolo, garantiu o aprofundamento das investigações que culminaram na operação Compliance Zero.

A crise do Master e as tentativas de salvação

  • A trajetória que levou à tentativa desesperada de fusão com o BRB começou com o crescimento acelerado do Banco Master
  • O Master recebeu um empréstimo de emergência de cerca de R$ 4 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC)
  • Daniel Vorcaro vendeu R$ 1,5 bilhão em ativos pessoais ao BTG Pactual
  • O acordo com o BRB, anunciado em março, foi a solução encontrada
  • No final, o BRB adquiriria apenas cerca de R$ 25 bilhões em ativos

A fraude desmontada

  1. A investigação da Polícia Federal identificou que o BRB transferiu cerca de R$ 12,2 bilhões ao Master
  2. Segundo o BC, essas carteiras eram falsas e simplesmente não existiam
  3. Documentos com data de 2024 foram produzidos para tentar justificar o negócio
  4. Mesmo após o Banco Central ter rejeitado o negócio, o BRB continuou transferindo recursos

Consequências e novo comando

Com a liquidação do Master e as prisões, o conselho de administração do BRB elegeu um novo presidente. Nelson Souza, funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal e ex-presidente do Banco do Nordeste, foi indicado para o cargo.

O esquema, no entanto, deixou um rastro de prejuízos. A decisão judicial que autorizou a operação da PF estima que as manobras irregulares possam ter gerado perdas superiores a R$ 10 bilhões para o banco público.

Com informações de Valor International, ICL Notícias, Bloomberg, Seu Dinheiro ■