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Após anúncio de Trump, Alckmin vê avanço, mas cobra correção de "distorção" tarifária
Vice-presidente avalia que redução de taxas sobre produtos brasileiros está na 'direção correta', mas defende que taxa de 40% para itens como café ainda prejudica a competitividade
Politica
Foto: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/wp-content/uploads/2025/11/alckimin-tarifas-1200x675.png
■   Bernardo Cahue, 15/11/2025

O governo dos Estados Unidos anunciou na noite de sexta-feira (14) a redução das tarifas de importação para cerca de 200 produtos alimentícios, incluindo itens como café, carne, açaí e manga. Para o Brasil, a medida significou uma queda geral das taxas de 50% para 40%, um movimento que o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, classificou como positivo, porém insuficiente.

Uma "direção correta" que ainda precisa de ajustes

Em coletiva no Palácio do Planalto no sábado (15), Alckmin afirmou que a última ordem executiva do presidente Donald Trump foi "positiva e na direção correta" e reflete o avanço da diplomacia brasileira. No entanto, ele foi enfático ao apontar uma "distorção" que ainda precisa ser corrigida nas tratativas entre os dois países.

"Há uma distorção que precisa ser corrigida. Todo mundo teve 10% a menos. Só que, no caso do Brasil, que tinha 50%, ficou com 40%, que é muito alto", explicou o vice-presidente. A manutenção de uma tarifa de 40% para uma série de produtos brasileiros, enquanto concorrentes tiveram suas taxas zeradas, é vista como o principal desequilíbrio.

O detalhe do corte e a desvantagem competitiva

A decisão norte-americana envolve apenas a retirada da chamada "tarifa de reciprocidade" de 10%, imposta globalmente por Trump em abril. A sobretaxa adicional de 40%, decretada em julho e aplicada especificamente ao Brasil, continua em vigor, o que explica a taxa final de 40%.

Essa situação coloca o Brasil em desvantagem frente a seus concorrentes. Enquanto o café brasileiro, por exemplo, passou a ser taxado em 40%, produtores de países como Colômbia e Vietnã conseguiram a isenção total das tarifas para o mesmo produto. "O café também reduziu 10%, mas tem concorrente que reduziu 20%. Então esse é o empenho que tem que ser feito agora para melhorar a competitividade", destacou Alckmin.

Impacto setorial: do otimismo à frustração

A redução foi recebida de forma heterogênea pelos diferentes setores da economia brasileira:

  • Suco de Laranja: Foi o grande beneficiado, com a tarifa caindo de 10% para zero, o que deve beneficiar um setor que movimenta cerca de US$ 1,2 bilhão.
  • Café: A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) lamentou que as tarifas não tenham sido "integralmente" excluídas, sinalizando que a manutenção de uma "elevada posição tarifária" deve intensificar a queda nas exportações para os EUA.
  • Carnes e Frutas: O setor de carnes vê a medida como uma "boa sinalização", enquanto a Abrafrutas a classifica como um "avanço relevante", mas demonstra preocupação com a exclusão da uva - a segunda fruta mais exportada para os EUA - da lista de produtos com taxas reduzidas.
  • Madeira: Dados da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci) mostram que as exportações de produtos de madeira para os EUA já caíram 55% desde a imposição das tarifas, com risco de perda permanente de mercado.

O pano de fundo diplomático e os próximos passos

O anúncio ocorre após uma sequência de esforços diplomáticos do governo brasileiro, incluindo uma reunião bilateral entre os presidentes Lula e Trump em outubro, na Malásia, e encontros entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio. Alckmin reiterou que o governo "continuará trabalhando" para que as tarifas caiam ainda mais.

No entanto, a perspectiva de novos cortes no curto prazo é limitada. Questionado sobre o assunto, Trump afirmou na sexta-feira: "Não acho que será necessário". Ele justificou a redução atual como uma forma de conter a alta de preços no varejo norte-americano, onde o café, por exemplo, subiu mais de 40% no último ano.

Balanço comercial e medidas de mitigação

Segundo o governo brasileiro, a redução ampliou de 23% para 26% o percentual das exportações nacionais para os EUA isentas de tarifas adicionais, o que equivale a cerca de US$ 10 bilhões em produtos.

Os efeitos negativos do "tarifaço", no entanto, já são mensuráveis. O Ministério da Fazenda informou que, de agosto a outubro, as exportações brasileiras para os Estados Unidos caíram cerca de US$ 2,5 bilhões (24,9%) na comparação com o mesmo período de 2024. Para enfrentar esse cenário, o governo federal lançou em agosto o Plano Brasil Soberano, um conjunto de medidas para fortalecer o setor produtivo, proteger trabalhadores e ampliar a diplomacia comercial, com ações que totalizam R$ 30 bilhões em linhas de crédito e apoio aos exportadores.

Com informações de: G1, CNN Brasil, Agência Brasil, CBN Globocom, Gov.br MEC, Diário do Nordeste. ■