Siga nossas redes sociais | ![]() | Siga nossos canais |
Os dez adolescentes apreendidos durante a megaoperação Operação Contenção, nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, assim como suas famílias, serão acompanhados de perto pelos conselhos tutelares da região. A iniciativa, que conta com apoio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, visa proteger os jovens tanto de execuções por "queima de arquivo" quanto do aliciamento pelo tráfico de drogas.
Em reunião com órgãos federais, conselheiros tutelares estabeleceram um plano de ação com três medidas principais :
Segundo Lívia Vidal, coordenadora-geral do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, a maioria dos adolescentes não tem antecedentes criminais, o que abre a possibilidade de cumprirem medidas em regime de semiliberdade ou liberdade assistida, em vez de permanecerem em unidades socioeducativas. "Não ficando internados, a gente precisa que esses adolescentes estejam resguardados e protegidos", afirmou.
Um levantamento da Vara da Infância e da Juventude do Rio revelou que das 117 pessoas mortas na operação, 26 já haviam sido apreendidas pela polícia quando menores e passaram pelo sistema socioeducativo. A juíza Vanessa Cavalieri, responsável pela Vara, criticou a ineficácia do sistema: "Eles receberam medidas socioeducativas que não fizeram nenhum efeito na vida deles. Porque o sistema socioeducativo do Rio está completamente abandonado pelo Poder Executivo há muitos anos".
Dados do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase) mostram uma taxa de reincidência de 42% entre janeiro e outubro deste ano, enquanto a Secretaria Municipal de Assistência Social afirma que o índice em medidas de meio aberto é inferior a 3%.
O relatório da Ouvidoria Geral da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro detalha o profundo impacto da operação na rotina de crianças e adolescentes, que ficaram sem aulas e alimentação escolar por três dias. Há relatos de crianças atingidas por gás de pimenta e de policiais usando residências para práticas de "Tróia" – entrar em uma casa para emboscar suspeitos.
"Eles entraram na minha casa e nos prenderam no quarto e usaram nossa janela para ficar atirando nas pessoas. Tem várias cápsulas de bala em cima da cama do meu filho. Eles atiraram com a gente dentro de casa. Meu filho só sabe gritar", relatou uma moradora identificada como F. no documento.
A violência que cerceia a adolescência na região não é nova. No documentário Adolescência no Complexo da Penha, de 2004, jovens já relatavam o medo e a angústia de viver entre abusos policiais e facções criminosas. "Aqui, na Penha, para me divertir, às vezes, eu venho para escola e brinco, o que não faço em casa. Em casa, não posso sair, porque o clima é [de briga entre] facções", contou uma jovem à época.
Para a juíza Vanessa Cavalieri, a solução passa por políticas públicas eficazes. "É fácil tirar um adolescente da vida do crime. Difícil é tirar o chefe após 20 anos no alto do morro. Ou a gente cobra agora as políticas necessárias para prevenir, ou vamos continuar medindo a violência pelo número de cadáveres que contamos".
Com informações de Imirante.com, G1, Correio Braziliense, O Globo e Global Initiative. ■