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Tornado no Paraná suspende ENEM e reacende debate sobre impactos climáticos em exames nacionais
Fenômenos climáticos extremos impedem realização das provas em cidade paranaense; candidatos terão direito à reaplicação
Analise
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSAkevvX7gTf1_HKCWlUuyqaDeno49T5Ae9Rw&s
■   Bernardo Cahue, 09/11/2025

Às vésperas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 2025, a passagem de um tornado pela cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, forçou o cancelamento das provas no município, replicando em escala local um problema que já havia atingido âmbito nacional em 2024, com as enchentes no Rio Grande do Sul. A situação crítica na cidade, onde 90% da área urbana sofreu danos, impede o deslocamento seguro de candidatos e compromete a infraestrutura das escolas, reacendendo o debate sobre a capacidade de resposta do sistema educacional brasileiro a desastres naturais.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) suspendeu a aplicação do ENEM em Rio Bonito do Iguaçu seguindo seu protocolo para eventos climáticos severos. A cidade, que tem aproximadamente 14 mil habitantes, decretou estado de calamidade pública após ser atingida por um tornado de categoria F3 na escala Fujita, com ventos de até 250 km/h. As duas escolas estaduais que seriam usadas como locais de prova – Colégio Estadual Ludovica Safraider e Colégio Estadual Ireno Alves – tiveram suas estruturas comprometidas, tornando impossível a realização do exame. Todos os estudantes afetados terão direito à reaplicação em data a ser anunciada.

O ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou que "nenhum inscrito no Enem será prejudicado por causa dos acontecimentos no Paraná". O governo federal mobilizou-se para oferecer ajuda humanitária à região, onde seis pessoas morreram, 750 ficaram feridas e cerca de 1.028 foram desalojadas ou desabrigadas.

Este não é o primeiro caso em que desastres naturais impactam processos seletivos no Brasil. Em 2024, as enchentes históricas no Rio Grande do Sul afetaram 90% das fábricas do estado e forçaram o adiamento do primeiro concurso nacional unificado, evidenciando um padrão de vulnerabilidade que se repete em diferentes regiões do país. A situação expõe a necessidade de protocolos mais robustos para lidar com os crescentes desafios climáticos.

Embora a escala do tornado no Paraná seja localizada, os problemas de locomoção e acesso que ele causa são semelhantes aos observados em eventos climáticos anteriores. A obstrução de vias por destroços, árvores e escombros impede fisicamente que candidatos cheguem aos locais de prova, mesmo que estes estejam estruturalmente intactos. Em contextos de desastres, as prefeituras normalmente implementam esquemas especiais de trânsito, com interdições e restrições de estacionamento, como ocorreu durante o Carnaval de Paripueira em Alagoas, onde a Prefeitura montou um esquema com 24 pontos de bloqueio, 9 policiais e 20 staffs para garantir a segurança viária.

O ENEM 2025 está programado para os dias 9 e 16 de novembro em todo o país, com exceção de algumas cidades do Pará que farão as provas em 30 de novembro e 7 de dezembro. A região de Itapetininga em São Paulo, por exemplo, tem 19.660 estudantes inscritos para as provas. Em situações normais, muitas prefeituras oferecem transporte gratuito para facilitar o acesso aos locais de prova, um contraste gritante com a realidade dos candidatos de Rio Bonito do Iguaçu, que sequer poderão sair de suas casas para tentar fazer o exame.

A repetição de eventos climáticos extremos às vésperas de exames nacionais levanta questões críticas sobre a resiliência do sistema educacional brasileiro. Especialistas apontam que, em um contexto de mudanças climáticas, é urgente desenvolver planos de contingência mais abrangentes e flexíveis, capazes de responder rapidamente a diferentes cenários de desastre. A previsibilidade das datas do ENEM – com inscrições entre maio e junho e provas em novembro – coloca o exame justamente no período de transição entre estações com diferentes padrões climáticos extremos no Brasil.

Enquanto os estudantes de Rio Bonito do Iguaçu aguardam uma nova data para realizar suas provas, o caso serve como alerta para a necessidade de incorporar a variável climática no planejamento de grandes eventos, como vestibulares e concursos públicos. A capacidade de adaptação a esses cenários de crise tornou-se não apenas uma medida de eficiência administrativa, mas uma questão de equidade e justiça social, garantindo que nenhum estudante seja penalizado por circunstâncias completamente fora de seu controle.

Com informações de Agência Brasil, VEJA, ND+, Business & Human Rights Resource Centre, Prefeitura de Paripueira. ■