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Organizações internacionais, incluindo a Organização das Nações Unidas (ONU), direcionaram críticas e pedidos de explicação formais ao governo brasileiro após a "Operação Contenção" no Rio de Janeiro, que se tornou a ação policial mais letal da história do estado. A operação, que visava combater a expansão do Comando Vermelho, resultou em um elevado número de mortos e detidos, gerando um amplo debate sobre a política de segurança pública.
Realizada na última terça-feira (28), a megaoperação mobilizou 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio. O governo estadual confirmou um balanço de 64 mortos e 81 presos durante os confrontos. Entre os mortos estão quatro policiais, sendo dois da Polícia Civil e dois da Polícia Militar. Foram apreendidos 81 fuzis e uma grande quantidade de drogas.
O governador Cláudio Castro (PL) defendeu a ação, classificando os alvos como "narcoterroristas" e afirmando que a operação, fruto de mais de um ano de investigação e 60 dias de planejamento, era necessária para conter a expansão territorial da facção. Em coletiva, Castro criticou a falta de apoio do governo federal, declarando que o Rio está "sozinho" no combate ao crime organizado.
O alto número de vítimas levantou questionamentos de organismos nacionais e internacionais. O Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) enviaram um ofício ao governador solicitando explicações detalhadas sobre a operação. As instituições questionam se não havia um "meio menos gravoso" de atingir os objetivos e pedem comprovação do cumprimento de normas estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como o uso de câmeras corporais e a presença de ambulâncias no local.
Em resposta, o governador Castro atacou a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como ADPF das Favelas, movida pelo PSB no STF. Ele a chamou de "maldita" e afirmou que a ação, que busca limitar a letalidade policial em comunidades, restringe o trabalho das forças de segurança e favorece os criminosos.
A operação atraiu a atenção da comunidade internacional e de organizações de direitos humanos. Pelo menos 27 entidades, incluindo a Justiça Global, emitiram uma nota conjunta repudiando a ação, que qualificaram como uma "chacina". O texto afirma que a política de segurança do estado é seletiva e dirigida contra populações negras e empobrecidas, usando a morte como instrumento de controle.
A organização Human Rights Watch também se manifestou, considerando a operação "uma enorme tragédia". César Muñoz, coordenador da entidade no Brasil, declarou que "uma operação policial que resulta na morte de mais de 60 moradores e policiais é uma enorme tragédia" e defendeu que o Ministério Público apure as circunstâncias de cada morte. A sucessão de operações letais no estado é vista por especialistas como um fracasso da política de segurança pública.
De acordo com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF), esta foi a operação policial mais letal já registrada na região metropolitana do Rio desde 1990. Pesquisadores apontam que as três operações mais letais documentadas ocorreram durante a gestão de Cláudio Castro, incluindo a do Jacarezinho em 2021 e outra na Penha em 2022.
Um especialista da UFF ouvido em reportagem anterior havia alertado que operações puramente repressivas, que não miram as bases econômicas e o controle territorial dos grupos armados, falham em produzir resultados duradouros em segurança pública. Para Daniel Hirata, a atuação deveria ser repensada para minimizar os impactos de letalidade e a interrupção de serviços essenciais para a população local.
Enquanto isso, os moradores dos complexos do Alemão e da Penha seguem enfrentando o medo e a interrupção de seu cotidiano. Relatos dão conta de tiroteios intensos, dificuldade de locomoção e suspensão de atividades escolares e de serviços de saúde, aprofundando a insegurança na região.
Com informações de: BBC, Bloomberg, Al Jazeera, Portal do Holanda. ■