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Índia prepara corte nas importações de petróleo russo após nova rodada de sanções dos EUA
Movimento de Nova Déli, um dos maiores compradores do combustível russo, provoca alta abrupta nos preços internacionais do barril e pode reconfigurar o comércio global de energia
Leste Asiatico
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■   Bernardo Cahue, 23/10/2025

Os preços do petróleo dispararam globalmente nesta quinta-feira (23/10/2025), impulsionados por uma mudança estratégica na Índia, que sinalizou um corte drástico nas importações de crude da Rússia. A decisão é uma resposta direta às novas sanções impostas pelo governo do presidente Donald Trump contra as gigantes energéticas russas Rosneft e Lukoil, e representa o primeiro recuo significativo de um dos maiores compradores do petróleo russo com desconto.

Os contratos futuros do petróleo Brent, referência mundial, subiram para acima de US$ 65 o barril, registrando um salto de 7% em dois dias – o movimento de alta mais acentuado em mais de dois anos. Já o West Texas Intermediate (WTI), benchmark americano, também seguiu a tendência, sendo negociado a US$ 61,80, com alta de 5,66%. A tabela abaixo mostra os preços aproximados no fechamento:

  • Petróleo Brent: US$ 65,69 o barril (alta de ~4,95%)
  • Petróleo WTI (EUA): US$ 61,52 o barril (alta de ~5,16%)

O anúncio das sanções pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Tesouro dos EUA ocorreu na quarta-feira (22), com o objetivo declarado de "sufocar as receitas de guerra do Kremlin". A medida bloqueia todos os bens das empresas Rosneft e Lukoil que estejam sob jurisdição americana e dá um prazo até 21 de novembro para que compradores globais encerrem suas transações com as companhias sancionadas.

Reação Imediata na Índia e Impacto no Mercado

A reação entre os principais compradores foi rápida. A Índia, que se tornou o maior comprador de petróleo bruto russo transportado por mar desde a invasão da Ucrânia em 2022, importando uma média de 1,7 milhão de barris por dia nos primeiros nove meses de 2025, deu o primeiro sinal de recuo.

Fontes do setor relatam que refinarias indianas estão se preparando para reduzir maciçamente os carregamentos. A Reliance Industries, maior compradora privada indiana de petróleo russo, planeja reduzir significativamente ou até mesmo interromper temporariamente essas importações. Um porta-voz da empresa afirmou que uma "recalibração das importações de petróleo russo está em andamento" e que a Reliance "estará totalmente alinhada às diretrizes do governo da Índia". Pelo menos quatro refinarias estatais também revisam sua logística e documentos comerciais para evitar transações diretas com as empresas sancionadas.

Pressão Geopolítica e Reconfiguração do Comércio Global

Esse movimento coloca em evidência a complexa teia geopolítica que envolve o mercado de energia. A dependência indiana do petróleo russo barato havia se tornado um ponto de atrito nas relações comerciais com os EUA, que recentemente impuseram tarifas extras de 25% sobre produtos indianos em retaliação ao comércio do país com a Rússia.

Especialistas avaliam que as sanções podem forçar uma reconfiguração dos fluxos globais de comércio. "Se Nova Déli reduzir as compras devido à pressão dos EUA, poderemos ver a demanda asiática se voltar para o petróleo bruto dos EUA, elevando os preços do Atlântico", projetou Priyanka Sachdeva, analista sênior da Phillip Nova.

No entanto, há vozes que expressam ceticismo sobre o impacto de longo prazo. Claudio Galimberti, diretor de análise da Rystad Energy, vê o aumento do preço mais como uma "reação instintiva dos mercados do que como uma mudança estrutural". Ele lembra que, até agora, a maioria das sanções nos últimos anos não conseguiu afetar significativamente os volumes produzidos pela Rússia, em grande parte porque compradores como Índia e China mantiveram suas aquisições.

Além da Índia: Brasil na Mira

A pressão americana não se limita à Índia. O Brasil, que se tornou um dos maiores compradores de diesel russo, também está na mira. Nos últimos quatro anos, a Rússia foi responsável por 60% de todo o diesel importado pelo Brasil, um negócio bilionário que movimentou cerca de US$ 13 bilhões desde 2022.

Há um temor no governo e no setor empresarial brasileiro de que sanções semelhantes às aplicadas à Índia possam causar um desequilíbrio no mercado nacional, aumentando os custos dos combustíveis para o consumidor final e pressionando a inflação no país. Um projeto de lei em tramitação no Congresso americano prevê tarifas de até 500% para países compradores de petróleo e derivados da Rússia, o que elevaria significativamente o risco para o Brasil.

Perspectivas Futuras

No curto prazo, os mercados estarão observando:

  1. O desenrolar das decisões da OPEP+, que continua a expandir a produção.
  2. Os níveis de estoque de petróleo bruto na China e sua possível reação às sanções.
  3. A evolução dos conflitos geopolíticos na Ucrânia e no Oriente Médio.

Enquanto a Agência Internacional de Energia (AIE) projeta um excesso de oferta global de petróleo para o próximo ano, as novas sanções desafiam essa narrativa, reintroduzindo o risco geopolítico como um fator volátil e decisivo para os preços da commodity.

Com informações de: ADVFN, BBC, InfoMoney, Jornal Económico, O Globo, The Moscow Times, TradingView. ■