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Venezuela: CIA autorizada e o risco real de escalada militar por golpe de Estado
Anúncio de Trump sobre operações secretas e possíveis ataques terrestres reacende memórias de intervenções americanas na América Latina e coloca região em alerta
America do Sul
Foto: https://clickpetroleoegas.com.br/wp-content/uploads/2025/09/eua-trump-venezuela-maduro.jpg
■   Bernardo Cahue, 16/10/2025

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu publicamente nesta quinta-feira (15) ter autorizado a Agência Central de Inteligência (CIA) a conduzir operações secretas dentro da Venezuela. A declaração, feita no Salão Oval ao lado do diretor do FBI e da procuradora-geral, marca um passo significativo na escalada de pressão contra o governo de Nicolás Maduro. Trump também afirmou que seu governo "estuda realizar ataques terrestres" contra cartéis de drogas venezuelanos, justificando a medida pelo envio de drogas e criminosos para os EUA a partir do país vizinho.

A autorização, revelada inicialmente pelo The New York Times, permitiria à CIA realizar operações na Venezuela de forma unilateral ou como parte de qualquer atividade militar mais ampla dos EUA. Questionado se os agentes teriam autoridade para eliminar o presidente venezuelano, Trump evitou responder, classificando a pergunta como "ridícula", mas ressaltou que "a Venezuela está sentendo a pressão". Em resposta, Maduro condenou os "golpes de Estado orquestrados pela CIA" e mobilizou forças militares e milicianas, afirmando que o país não quer uma guerra, mas está pronto para se defender.

Contexto de uma escalada militar

A tensão na região não é nova, mas se intensificou rapidamente nos últimos meses:

  • Presença militar: Os EUA reposicionaram para o Caribe um arsenal que inclui pelo menos sete navios de guerra, um submarino nuclear, caças F-35 e aproximadamente 4.500 militares.
  • Operações letais: Nas últimas semanas, forças americanas realizaram uma série de ataques a barcos suspeitos de transportar drogas, resultando em pelo menos 27 mortes. O ataque mais recente, na terça-feira (14), matou seis pessoas.
  • Justificativa legal: O governo Trump emitiu um memorando interno declarando estar em um "conflito armado não internacional" com organizações de narcotráfico, uma base legal que analistas interpretam como preparação para ações mais amplas.

Especialistas consultados pela imprensa apontam que o aparato militar enviado é incompatível com uma simples operação antidrogas. "Se você olhar o tipo de equipamento enviado para a Venezuela, não é um equipamento de prevenção ou de ação contra o tráfico, ou contra cartéis", avalia Carlos Gustavo Poggio, professor do Berea College, nos EUA.

Padrão histórico: As intervenções dos EUA na América Latina

A autorização para operações da CIA na Venezuela evoca um longo histórico de intervenções americanas em assuntos internos de países latino-americanos, notadamente durante a Guerra Fria, com o objetivo de depor governos de esquerda e instalar regimes alinhados a Washington.

  • Guatemala (1954): O presidente democraticamente eleito Jacobo Árbenz foi derrubado por um golpe de Estado apoiado pela CIA, que instalou décadas de governos autoritários. O movimento foi orquestrado após Árbenz ameaçar os interesses da United Fruit Company, empresa norte-americana.
  • Chile (1973): O governo socialista democraticamente eleito de Salvador Allende foi vítima de um golpe que levou ao poder o general Augusto Pinochet. A CIA esteve envolvida em ações de desestabilização econômica e política que prepararam o terreno para a tomada de poder.
  • Brasil (1964): O presidente João Goulart foi deposto por um golpe militar que contou com apoio logístico e político dos Estados Unidos. O objetivo declarado era "evitar que o Brasil se tornasse outra China ou Cuba".

Em casos mais recentes, como o da Bolívia em 2019, a renúncia de Evo Morales também foi considerada por analistas e governos regionais como um golpe de Estado respaldado pelos EUA e pela Organização dos Estados Americanos (OEA).

Análise: Semelhanças, diferenças e o risco de uma nova guerra

A estratégia atual contra Maduro apresenta elementos familiares, mas também novas nuances. A alegação de combate ao narcotráfico e o enquadramento do governo venezuelano como uma "organização criminosa" criam uma justificativa de segurança nacional para ações ofensivas, assim como o combate ao comunismo serviu de pano de fundo durante a Guerra Fria.

No entanto, a publicidade da autorização à CIA é considerada "invulgar" por especialistas. Tradicionalmente, tais operações são clandestinas. A admissão pública pode ser uma tática de coerção, uma "diplomacia de caçonete do século XXI", destinada a forçar uma transição de poder sem uma invasão em grande escala.

A comunidade internacional reage com preocupação. Especialistas da ONU classificaram os ataques a barcos como "execuções extrajudiciais ilegais". Enquanto isso, a Venezuela busca apoio na CELAC e leva sua denúncia ao Conselho de Segurança da ONU, alertando para "consequências políticas perigosas" de uma escalada militar.

O fantasma de conflitos passados paira sobre o Caribe. Maduro, em seu discurso, citou explicitamente as "guerras eternas fracassadas no Afeganistão, Iraque e Líbia" como o futuro que deseja evitar. Resta saber se a pressão máxima dos EUA conseguirá seu objetivo de mudança de regime ou se precipitará a região em mais um capítulo trágico de sua história.

Com informações de G1, RTP, Fox News, VEJA, BBC. ■