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Operação naval dos EUA no Caribe completa dois meses com resultados opacos
Ofensiva militar que mobiliza milhares de soldados e navios de guerra relata apenas quatro embarcações pequenas destruídas; especialistas e autoridades questionam legalidade e efetividade da missão
America do Sul
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ-UiI3G1rc9IR-fDbWaKvqMhkh7zZg5O2bMg&s
■   Bernardo Cahue, 07/10/2025

Há dois meses, uma ordem secreta do presidente Donald Trump colocou a Marinha dos Estados Unidos em estado de prontidão no Caribe, iniciando uma ofensiva justificada como combate ao narcotráfico. A operação, que envolve uma frota de até oito navios de guerra, um submarino nuclear e aproximadamente 4.500 militares, tem como alvo principal cartéis com supostas ligações com o governo da Venezuela. No entanto, o saldo após este período é marcado por poucas ações letais e uma ampla controvérsia sobre seus métodos e reais objetivos.

A presença militar massiva começou a se materializar em meados de agosto de 2025, com o deslocamento de destróieres da classe Arleigh Burke e do grupo anfíbio liderado pelo navio USS Iwo Jima. A operação foi formalmente anunciada como uma resposta à ameaça de organizações criminosas designadas como terroristas, com foco no chamado "Cartel de los Soles", que os EUA alegam ser liderado pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro.

Resultados Operacionais Questionáveis

Desde o início das operações, o governo norte-americano divulgou a destruição de um número limitado de embarcações:

  • O primeiro ataque, em 2 de setembro, resultou no afundamento de uma lancha e na morte de 11 pessoas.
  • Um segundo ataque foi anunciado em meados de setembro, com três supostos narcotraficantes mortos, na explosão do que parecia ser um barco de pesca.
  • Um terceiro ataque ocorreu na noite de 4 de outubro, conforme anunciado pelo presidente Trump.

No total, quatro embarcações foram destruídas e pelo menos 21 pessoas morreram nos ataques divulgados publicamente. Contudo, as evidências públicas sobre o vínculo dessas embarcações com o narcotráfico são escassas. Um barco pesqueiro de atum venezuelano foi interceptado e revistado por horas sem que drogas fossem encontradas, e imagens dos ataques mostram o uso de mísseis contra pequenas lanchas, levantando dúvidas sobre a proporcionalidade da força.

Frota Poderosa, Alvos Mínimos

A discrepância entre o poderio militar empregado e os resultados anunciados é notável. A frota no Caribe inclui alguns dos mais avançados equipamentos militares dos EUA:

  • Destróieres de mísseis guiados USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson .
  • O cruzador de mísseis guiados USS Lake Erie .
  • O grupo anfíbio com o USS Iwo Jima, USS Fort Lauderdale e USS San Antonio, capazes de transportar e desembarcar fuzileiros navais.
  • Um submarino de ataque nuclear e aeronaves de patrulha P-8 Poseidon.

Este aparato, suficiente para uma intervenção militar de grande porte, tem sido usado para engajar um número muito reduzido de alvos, descritos pelo próprio Trump como "barcos" que já não são mais avistados.

Contraste com a Rota do Pacífico

Enquanto a atenção militar se concentra no Caribe, as principais rotas do narcotráfico sul-americano operam em outra direção. Dados internacionais indicam que:

  • O comércio global de cocaína atingiu um recorde, com a produção ilegal chegando a 3.708 toneladas em 2023, um aumento de 34% em relação a 2022.
  • A Europa se consolidou como o maior mercado mundial de cocaína, superando os Estados Unidos, com rotas que partem majoritariamente dos portos do Atlântico na América do Sul.
  • Portos brasileiros como Santos e Paranaguá, assim como rotas que passam pelo Uruguai, são os principais pontos de escoamento da droga para a Europa e África, e não pelo Caribe.

Especialistas alertam que novas rotas, como o Corredor Bioceânico que ligará o Brasil ao Chile, podem ser aproveitadas por facções como o PCC para expandir o tráfico para a Oceania e Ásia, distanciando ainda mais o epicentro do problema da área de operação da marinha norte-americana.

Questionamentos e o Futuro da Operação

A operação enfrenta críticas crescentes. O contra-almirante Donald Guter, ex-procurador-geral da Marinha dos EUA, classificou os afundamentos como "ataques ilegais". Senadores democratas questionam a legalidade das ações, argumentando que o presidente não pode "travar uma guerra em segredo". Do ponto de vista estratégico, a eficácia de usar navios de guerra para interceptar pequenas lanchas é posta em dúvida, contrastando com métodos recomendados pela ONU, como inteligência e controle de portos.

O presidente Trump, no entanto, sinaliza uma escalada. Após declarar que já "não há embarcações" transportando drogas no Caribe, ele sugeriu que o próximo passo seriam operações terrestres contra o narcotráfico. Esta perspectiva mantém tensa a relação com a Venezuela, onde Maduro mobilizou milhões de milicianos em resposta ao que chama de preparativos para uma "agressão militar".

Com informações de: CNN Brasil, Naval.com.br, G1, Forum21BR, Gazeta do Povo, Folha de S.Paulo.■