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Um homem mascarado, de óculos escuros e luvas, sentado no banco de trás de um carro, concede uma entrevista à CNN. Ele se identifica como um líder do Cartel de Sinaloa e, quando questionado, admite que as políticas de fronteira do presidente Donald Trump estão tornando seu "trabalho" mais difícil. A cena, que parece extraída de um roteiro de filme, levantou questões sobre os limites entre o jornalismo e a encenação com objetivos políticos.
O suposto membro do cartel, que confessou ter cometido assassinatos, respondeu de forma afirmativa e direta quando perguntado se as ações de Trump estavam atrapalhando suas operações. A reportagem ainda destacou que, por causa do rigor nas fronteiras, os cartéis agora cobram até $10.000 por migrante, um aumento significativo em relação ao valor anterior. A entrevista foi rapidamente comparada a um caso clássico da televisão brasileira: a falsa entrevista com membros do PCC no programa de Gugu Liberato.
As semelhanças entre os dois casos são perturbadoras e levantam dúvidas sobre a autenticidade de ambas as produções:
Diferente da entrevista da CNN, que permanece envolta em dúvidas, o caso do Domingo Legal foi completamente desmontado pela polícia e pela imprensa. Em 2003, o programa exibiu uma entrevista com dois homens que se passavam por membros do PCC. A fraude foi descoberta quando um dos participantes, Antônio Rodrigues da Silva, confessou à polícia que havia recebido R$ 150 para interpretar o "bandido Beta" e que seguiu um cartaz com os pontos a serem abordados durante a gravação.
As consequências para o SBT e Gugu foram graves: o programa foi multado e suspenso temporariamente, e o apresentador foi processado. Gugu sempre negou saber do teor da entrevista, mas o delegado responsável pelo caso afirmou não ter dúvidas sobre sua responsabilidade como comandante do programa. O escândalo marcou definitivamente a credibilidade do apresentador e do seu programa.
Enquanto a CNN exibe sua entrevista, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, navega em um cenário complexo. Seu governo tem adotado uma postura de maior cooperação com os Estados Unidos em questões de segurança, em contraste com seu predecessor. Prova disso foi a expulsão de 26 figuras de alto escalão de cartéis para os EUA em agosto de 2025, um movimento visto como parte de um acordo para evitar a imposição de tarifas comerciais punivas por Trump.
No entanto, essa cooperação tem seus limites. Sheinbaum descreveu claramente uma linha quando se trata da soberania do México, rejeitando publicamente qualquer sugestão de intervenção militar norte-americana em seu território. Além disso, seu governo enfrenta o desafio de manter a economia crescendo sob a constante ameaça de tarifas dos EUA, tendo que prever um menor investimento público para 2025 em um contexto de consolidação fiscal. A estratégia parece ser de contenção: ceder o mínimo necessário na arena da segurança para preservar a estabilidade econômica.
Colocar lado a lado a entrevista da CNN, o caso Gugu e a política mexicana revela um padrão onde o crime organizado é usado como peça em um jogo de interesses maiores:
No fim, a lição que fica é de ceticismo. Seja na mídia internacional ou nacional, entrevistas espetacularizadas com criminosos, sem transparência ou provas contundentes, merecem ser vistas com extrema desconfiança. A linha que separa a informação da manipulação, seja para fins políticos ou comerciais, é tênue e, como mostrou o passado, facilmente ultrapassada.
Com informações de CNN, Diário do Centro do Mundo, IMDb, Mexico-Now, Reuters, Wikipedia (Escândalo Gugu-PCC e Domingão do Faustão). ■