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PF investiga crimes na pandemia com nova investigação autorizada pelo STF
Ministro Flávio Dino atende pedido da Polícia Federal e determina abertura de inquérito para investigar conduta de Bolsonaro e aliados durante a crise sanitária, incluindo esquemas de corrupção em contratos de vacinas
Politica
Foto: https://ogimg.infoglobo.com.br/in/25094012-f06-be2/FT1086A/760/precisa.jpg
■   Bernardo Cahue, 20/09/2025

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, determinou a abertura de um inquérito policial pela Polícia Federal (PF) para investigar as conclusões do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. O ex-presidente Jair Bolsonaro é um dos principais investigados, junto com seus três filhos e mais de 20 aliados, incluindo parlamentares e empresários.

A decisão, publicada em 18 de setembro de 2025, atende a um pedido da PF formulado na Petição 10.064 e estabelece um prazo inicial de 60 dias para as investigações, que pode ser prorrogado. O ministro destacou que a investigação parlamentar apontou indícios de crimes contra a Administração Pública, incluindo fraudes em licitações, superfaturamentos, desvio de recursos públicos e contratação de empresas de fachada.

Modus operandi de Ricardo Barros em esquemas de corrupção

Entre os investigados está o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), implicado no caso da vacina indiana Covaxin. Barros, que já havia sido mencionado em escândalos anteriores envolvendo a compra de medicamentos para tratar leucemia em Maringá durante o governo Temer, é acusado de atuar com o mesmo modus operandi na pandemia.

O esquema envolvendo a Covaxin teria incluído a superfaturamento em até 10 vezes o valor original da vacina, por meio de uma revenda representada pela empresa Precisa, que atuou como intermediária entre o governo brasileiro e os fornecedores principais [citation:6]. O relatório da CPI da Covid apontou indícios de que Barros e outros envolvidos buscaram beneficiar empresas específicas em licitações, desviando recursos públicos e fraudando processos de compra.

Crimes imputados a Bolsonaro e possíveis penas

O relatório final da CPI, aprovado em outubro de 2021, recomendou o indiciamento de Bolsonaro por nove crimes, incluindo:

  • Charlatanismo
  • Prevaricação
  • Infração a medidas sanitárias
  • Epidemia com resultado morte
  • Emprego irregular de verbas públicas
  • Falsificação de documento particular
  • Incitação ao crime

Além disso, a CPI acusou o ex-presidente de crimes de responsabilidade e crimes contra a humanidade, como extermínio e perseguição, conforme descritos no Estatuto de Roma.

As investigações da PF podem resultar no indiciamento de Bolsonaro e, se condenado, aumentar significativamente sua pena em até 81 anos somando-se às condenações já existentes, como a recente condenação por tentativa de golpe de Estado.

Contexto Político e Reações

A decisão de Dino ocorre em um momento de tensão entre o STF e o Congresso. Na véspera da autorização do inquérito, a Câmara dos Deputados aprovou a "PEC da Blindagem", que dificulta processos criminais contra congressistas, e um requerimento de urgência para uma proposta de anistia a condenados por atos antidemocráticos, o que poderia beneficiar Bolsonaro.

O inquérito também marca uma reviravolta na impunidade relacionada aos casos da CPI da Covid. Até então, a Procuradoria-Geral da República (PGR), sob o comando de Augusto Aras, havia arquivado a maioria das petições decorrentes do relatório da CPI. A PF, no entanto, solicitou acesso às provas e defendeu a necessidade de novas investigações, o que foi acolhido por Dino.

Lista de investigados

Além de Bolsonaro e Ricardo Barros, estão entre os investigados:

  • Flávio Bolsonaro (senador)
  • Eduardo Bolsonaro (deputado federal)
  • Carlos Bolsonaro (vereador)
  • Carla Zambelli (deputada federal)
  • Bia Kicis (deputada federal)
  • Osmar Terra (deputado federal)
  • Onyx Lorenzoni (ex-ministro)
  • Ernesto Araújo (ex-ministro)
  • Luciano Hang (empresário da Havan)
  • Carlos Wizard (empresário)
  • Allan dos Santos (blogueiro)
  • Outros envolvidos em esquemas de desinformação e corrupção.

Impacto da Gestão Pandêmica no Brasil

A CPI da Covid concluiu que as ações e omissões de Bolsonaro tiveram um papel crucial na escalada de mortes evitáveis no país, que atingiu a trágica marca de mais de 700 mil óbitos pela doença, 97% deles ocorridos durante sua gestão. O relatório destacou que o governo federal agiu de forma "não técnica" no enfrentamento à pandemia, "expondo deliberadamente a população a risco concreto de infecção em massa".

Além da tragédia humanitária, as campanhas de desinformação e os esquemas de corrupção durante a pandemia reduziram a confiança dos brasileiros nas vacinas e na ciência, legado que ainda impacta o país.

Com informações de: Agência Brasil, BBC, VEJA, CNN Brasil, Agência Pública, Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), G1, Migalhas.■