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A Venezuela vive uma nova fase de tensão econômica com uma ofensiva governamental contra a divulgação da taxa de câmbio paralela do dólar, que chegou a operar com diferença de até 50% em relação ao valor oficial. Desde maio de 2025, o regime de Nicolás Maduro prendeu aproximadamente 50 pessoas acusadas de "fixar ilegalmente" o valor da moeda americana no mercado negro, incluindo administradores de plataformas que monitoravam a cotação paralela.
A Venezuela possui uma história de instabilidade monetária que remonta ao "Viernes Negro" em 18 de fevereiro de 1983, quando o bolÃvar sofreu uma desvalorização abrupta, marcando o fim de décadas de estabilidade cambial e iniciando uma era de controles e distorções . Desde então, a moeda passou por várias redenominações: em 2008 (bolÃvar forte, VEF), 2018 (bolÃvar soberano, VES) e 2021 (bolÃvar digital, VED), removendo 14 zeros de sua denominação original em pouco mais de uma década.
Em 2018, diante de hiperinflação que atingiu nÃveis astronômicos, o governo informalmente permitiu o uso do dólar como "válvula de escape", embora nunca tenha oficializado a dolarização. Essa medida fez com que a economia se tornasse informalmente dolarizada, com a maioria das transações, especialmente bens e serviços turÃsticos, sendo precificadas em dólares ou usando a taxa paralela como referência.
Atualmente, o Banco Central de Venezuela (BCV) define uma taxa oficial, que em setembro de 2025 foi fixada em aproximadamente Bs. 62,10 por dólar . No entanto, o mercado paralelo – influenciado por plataformas de criptomoedas P2P como Binance, Yadio.io e Eldorado.io – operava com valores significativamente mais altos, entre Bs. 75,79 e Bs. 78,10 por dólar, representando uma diferença de mais de 25% .
A recente repressão ao câmbio negro levou ao fechamento de sites e perfis em redes sociais que publicavam a cotação paralela. Carlos Pérez, administrador do "Monitor Dólar", foi um dos presos, acusado de crimes como "terrorismo" e "associação para delinquir" . O poderoso ministro Diosdado Cabello justificou as detenções como parte de uma operação "silenciosa" contra supostos especuladores .
A falta de uma referência clara gerou caos no comércio. Os estabelecimentos são legalmente obrigados a usar a taxa oficial, mas muitos aplicavam um valor intermediário ou usavam a taxa do euro como referência indireta para o dólar paralelo. Outros ofereciam descontos para pagamentos em dólar fÃsico ou via Zelle (sistema de transferência popular no paÃs) .
Eleazar Armas, um escolta de Caracas, relatou situações absurdas: "Me queriam cobrar 86 dólares em bolÃvares por algo que custava 60 se pagasse em efetivo" . Nelson MartÃnez, um comerciante de 30 anos, explicou o dilema: "Perco como comerciante se uso só o oficial. Mas agora ninguém se atreve a dizer qual é o preço real" .
Economistas alertam que a repressão não resolve as causas fundamentais da disparidade cambial. Luis Vicente León, economista, destacou que "eliminar as referências do mercado paralelo não corrige o desequilibrio" . Aaron Olmos, professor do IESA, acrescentou que "a brecha não vai desaparecer da noite para o dia. Pode diminuir momentaneamente por medo, mas o povo buscará outras formas de estabelecer preços" .
A crise é agravada por fatores externos, como a reversão das flexibilizações do embargo petrolero dos EUA, que reduziu a entrada de divisas no paÃs. A inflação, que havia dado uma trégua, volta a assombrar os venezuelanos, temendo o retorno da hiperinflação que devastou o paÃs entre 2016 e 2019.
A perseguição ao "dólar criminal", como denominou Maduro, representa um retrocesso à s polÃticas de controle cambial rigoroso que vigiaram entre 2003 e 2018. No entanto, a dolarização informal já está profundamente enraizada na economia venezuelana. A falta de transparência e referências confiáveis apenas aumenta a incerteza para comerciantes e consumidores, enquanto a economia real continua sofrendo com distorções que nenhuma operação policial é capaz de resolver.
Com informações de Infobae, CartaCapital, Swissinfo, Wikipedia (español e português), BBC News, DolarVenezuela.com, Guia de Destinos, Monitor Dólar Venezuela, Facebook/ElChamainfor. ■