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Relatório da PF revela trama de Bolsonaro, Malafaia e Eduardo para obstruir Justiça e coagir STF
Documento aponta esquema para interferir no julgamento do processo de tentativa de golpe, com pedido de sanções internacionais e movimentação suspeita de R$ 30 milhões. Eduardo Bolsonaro expressa preocupação sobre inteligência dos EUA em mensagem: "Torce para não levar isso ao Trump"
Politica
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■   Bernardo Cahue, 22/08/2025

O relatório final da Polícia Federal (PF) que baseou o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do pastor Silas Malafaia revela uma articulação detalhada para coagir o Supremo Tribunal Federal (STF) e obstruir o andamento da ação penal que trata da tentativa de golpe de Estado. O documento, encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes e à Procuradoria-Geral da República (PGR), descreve operações financeiras suspeitas, tentativas de ludibriar autoridades internacionais e uma campanha coordenada para pressionar por anistia.

Os investigados são acusados dos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação envolvendo organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O plano teria como objetivo principal interferir no julgamento da Ação Penal 2668, que tem Bolsonaro como réu, inicialmente marcado para começar em 2 de setembro de 2025.

Eduardo Bolsonaro, em mensagem obtida pela PF, demonstra preocupação com a reação do governo norte-americano, num tom que a polícia interpreta como pejorativo em relação aos mecanismos de inteligência dos EUA: "Torce para a inteligência americana não levar isso aqui ao conhecimento do Trump".

Com base no relatório, o ministro Alexandre de Moraes determinou que o ex-presidente prestasse esclarecimentos em 48 horas sobre descumprimento de medidas cautelares, reiteração de condutas ilícitas e risco de fuga.

O pastor Silas Malafaia também foi alvo de medidas cautelares, incluindo proibição de deixar o país e de se comunicar com os outros investigados, após ter seu celular apreendido no Aeroporto do Galeão, no Rio, ao desembarcar de Lisboa. Ele inicialmente ficou em silêncio durante depoimento, alegando falta de acesso ao inquérito.

Abaixo, os principais atos descritos no relatório, em ordem cronológica:

  • Movimentações Financeiras Suspeitas (Março/2023 a Fevereiro/2024):
    • Período de um ano em que R$ 30.576.801,36 ingressaram nas contas de Jair Bolsonaro, e R$ 30.595.430,71 saíram, conforme dados do Coaf repassados ao Banco do Brasil.
    • Do total recebido, R$ 19,2 milhões vieram de 1,2 milhão de transações PIX, e R$ 8,7 milhões de resgates de CDB/RDB.
    • O PL, partido de Bolsonaro, foi um dos principais depositantes (R$ 291 mil).
    • Entre os principais destinatários dos recursos que saíram estão o advogado Paulo Cunha Bueno (R$ 3,3 milhões) e o escritório DB Tesser (R$ 3,3 milhões).
    • A PF afirma haver suspeitas de lavagem de dinheiro e outros ilícitos.
  • Articulação com Representantes Norte-Americanos (Início de 2025):
    • Identificação de conversas via WhatsApp entre Jair Bolsonaro e o advogado norte-americano Martin de Luca, representante da Trump Media&Technology Group (TMTG) e da plataforma Rumble.
    • Em fevereiro de 2025, de Luca moveu ações judiciais nos EUA contra o ministro Alexandre de Moraes, alegando censura e violação de tratados internacionais.
  • Estratégia de Pressão Internacional por Sanções (Maio/Junho de 2025):
    • Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo passam a buscar ativamente, junto a autoridades dos EUA, a imposição de sanções contra agentes públicos brasileiros, sob alegação de perseguição política ao ex-presidente.
    • O relatório aponta que os investigados atuaram para "convencer autoridades governamentais estrangeiras, induzindo-as em erro, para aplicar sanções contra o Estado brasileiro e autoridades nacionais" com o objetivo de garantir impunidade.
    • Nesse contexto, Eduardo Bolsonaro envia mensagem ao pai alertando: "Torce para a inteligência americana não levar isso aqui ao conhecimento do Trump", em referência às articulações.
  • Envolvimento de Silas Malafaia e a Estratégia da Anistia (Julho de 2025):
    • O pastor Silas Malafaia atua na definição de estratégias de pressão, propagação de informações falsas e direcionamento de ações coordenadas contra a cúpula do Judiciário.
    • Em áudios e mensagens de texto enviados a Jair Bolsonaro, recuperados pela perícia, Malafaia orienta condicionar a suspensão das tarifas norte-americanas à concessão de anistia.
    • Num áudio de 11 de julho, Malafaia critiva Eduardo Bolsonaro e elogia o senador Flávio Bolsonaro: "Pô, toda a carta do Trump é pra você!... A faca e o queijo tá na tua mão... E vem teu filho babaca falar mer**!".
    • Malafaia insiste para que Bolsonaro grave vídeos para "viralizar" a narrativa de que a anistia levaria ao fim das sanções.
    • Numa mensagem, Malafaia afirma: "a próxima retaliação vai ser contra ministros do STF e suas famílias. Vão dobrar a aposta apoiando o ditador? DUVIDO!".
    • A PF conclui que o objetivo da articulação era salvar apenas Jair Bolsonaro, e não todos os envolvidos.
  • Descumprimento de Medidas Cautelares e Risco de Fuga (Até Agosto/2025):
    • A perícia no celular de Jair Bolsonaro, sob prisão domiciliar, constata o descumprimento reiterado da proibição de usar redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros.
    • O ex-presidente compartilhou vídeos relacionados às sanções dos EUA contra Alexandre de Moraes e promoveu eventos.
    • A PF encontra um documento de 33 páginas com um pedido de asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei, indicando risco de fuga.
  • Ação Judicial e Medidas Cautelares Contra Malafaia (20 de Agosto de 2025):
    • Com base na representação da PF e aval da PGR, o ministro Alexandre de Moraes autoriza busca e apreensão contra Silas Malafaia.
    • O pastor é abordado pela PF ao desembarcar no Aeroporto do Galeão, no Rio, vindo de Lisboa, e tem seus celulares apreendidos.
    • Moraes impõe medidas cautelares: proibição de deixar o país e de se comunicar com outros investigados, como Jair e Eduardo Bolsonaro.
    • Malafaia entrega passaportes e é obrigado a prestar depoimento imediato.
    • A PF também é autorizada a quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico do pastor.
  • Encaminhamento do Relatório e Pedido de Esclarecimentos (20 de Agosto de 2025):
    • O ministro Alexandre de Moraes encaminha o relatório final da PF à PGR.
    • O documento atribui a Jair e Eduardo Bolsonaro a prática de crimes de coação e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.
    • O ministro dá 48 horas para a defesa do ex-presidente prestar esclarecimentos sobre o descumprimento de medidas cautelares, reiteração de condutas ilícitas e risco de fuga.
    • A PGR também tem o mesmo prazo para se manifestar sobre o indiciamento.

O caso continua em andamento, e novas decisões do STF são aguardadas após a análise dos esclarecimentos e das manifestações da defesa e da PGR.

Com informações de: G1, CNN Brasil, Folha de S.Paulo, Supremo Tribunal Federal (STF)