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Decisão de Dino expõe crise bancária e subserviência financeira aos EUA
Queda da Ibovespa revela dilema geopolítico dos bancos brasileiros, entre a soberania nacional e o domínio do sistema financeiro norte-americano
Politica
Foto: https://ichef.bbci.co.uk/ace/ws/660/cpsprodpb/6fd2/live/25ad6a40-7c82-11f0-a34f-318be3fb0481.jpg.webp
■   Bernardo Cahue, 20/08/2025

A decisão do ministro do STF Flávio Dino, que invalidou a aplicação automática de leis estrangeiras no Brasil - incluindo a Lei Magnitsky -, desencadeou uma crise sem precedentes no sistema financeiro nacional. As ações dos principais bancos brasileiros despencaram, arrastando o Ibovespa para uma queda de 2,26% em um único dia, com perdas bilionárias em valor de mercado.

O epicentro do terremoto financeiro está na subserviência histórica das instituições brasileiras ao sistema norte-americano, que as coloca agora entre a espada da jurisdição nacional e a parede das sanções internacionais. Enquanto bancos globais diversificavam reservas para ouro em antecipação a crises geopolíticas, os brasileiros permaneceram cegos à disruptura do império dólar.

O dilema financeiro: Dino versus Magnitsky

Os bancos enfrentam o que especialistas chamam de "escolha de Sofia": descumprir a ordem do STF ou arriscar sanções devastadoras dos EUA.

  • Multas bilionárias, como os US$ 8,8 bilhões aplicados ao BNP Paribas em 2014 por descumprir embargos
  • Bloqueio de ativos no exterior e restrições ao sistema Swift
  • Exclusão do sistema financeiro internacional

O Banco do Brasil, responsável pela folha de pagamento do STF, viu suas ações caírem 5,5%, enquanto Itaú, Bradesco e BTG Pactual registravam perdas entre 3,5% e 4%.

Cegueira geopolítica e apostas erradas

Enquanto instituições globais migravam para ouro diante da desdolarização, a Faria Lima manteve sua "fé dogmática" na valorização inevitável do dólar. A estratégia revelou-se apocalíptica:

  1. Ignoraram sinais de que stablecoins lastreadas em dólar criaram um sistema paralelo, fora do alcance do BACEN
  2. Subestimaram o impacto da Lei Genius americana, que legitimou criptomoedas estáveis globalmente
  3. Mantiveram dependência excessiva do sistema norte-americano, mesmo diante de alertas de ruptura

Viés ideológico nas decisões financeiras

O caso do bloqueio de Alexandre de Moraes pelo Bradesco - presidido pelo ex-militar Octavio de Lazari Junior - expõe motivações que transcendem a compliance:

  • Decisão tomada apesar de Moraes não manter vínculos com o banco
  • Alinhamento com agenda bolsonarista de confronto com o STF
  • Envolvimento de banqueiros em reuniões com ministros do Supremo para discutir sanções
  • Envolvimento de banqueiros em reuniões políticas com Tarcísio de Freitas, acompanhado de membros da imprensa brasileira, sinalizando a estratégia de boicote ao Governo Federal e manobra especulativa.
  • O PT já acusa a Faria Lima de "face perversa" e especulação contra a economia nacional, enquanto defende regulação mais firme do setor.

    Consequências da crise soberania-financeira

    O impasse criado por Dino revela a fragilidade da autonomia financeira brasileira:

    1. Risco de fuga de capitais via stablecoins, fora do alcance do BACEN
    2. Possível perda de acesso a sistemas de pagamento em dólar
    3. Aumento do custo de captação internacional
    4. Descrédito institucional perante investidores estrangeiros

    Como resumiu um analista: "Não é uma questão de não atender à Lei Magnitsky, e sim de enfrentar as mazelas decorrentes daquela escolha. Na hipótese de que os bancos decidam atender à decisão de Flávio Dino, sob pena de serem enquadrados em crime contra a soberania nacional, eles fecharão as suas portas".

    Os BRICS como alternativa viável

    Entretanto, a decisão do ministro Flávio Dino, ao invalidar a aplicação automática de leis estrangeiras no Brasil - como a Lei Magnitsky -, pode catalisar uma transformação geopolítica positiva, reforçando a soberania nacional e acelerando a integração financeira estratégica com os BRICS. Ao rejeitar a extraterritorialidade das sanções norte-americanas, o Brasil não apenas protege seu sistema jurídico de interferências unilaterais, mas também se posiciona como peça central na construção de alternativas multilaterais.

    Essa movimentação coincide com a aceleração de acordos bilaterais com Rússia e China, que estabelecem mecanismos permanentes de diálogo econômico-financeiro e priorizam a cooperação em infraestrutura, ambiente e reforma da governança financeira global. O impulso para adoção de sistemas de pagamento independentes do SWIFT - como o proposto "BRICS Pay" - ganha força, reduzindo a vulnerabilidade a sanções e permitindo comércio em moedas locais, o que, aliado ao apoio chinês ao fundo Rainforests Forever e à coordenação em fóruns como G20 e BRICS, cria um caminho viável para desvincular-se da hegemonia do dólar e fortalecer a autonomia estratégica brasileira.

    Com informações de: G1, Estúdio 5 Elemento, Gazeta do Povo, Valor Econômico, InfoMoney, UOL, BBC