Reportagem da Veja projeta colapso com base em números não validados por órgãos técnicos, enquanto IPEA e TCU apontam ajustes em curso e exageros narrativos
A edição de 8 de agosto de 2025 da revista Veja estampa como manchete o risco iminente de "colapso da máquina estatal brasileira", citando cortes orçamentários em agências reguladoras e serviços essenciais. Entretanto, uma confrontação com relatórios oficiais do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e do TCU (Tribunal de Contas da União) revela inconsistências graves e um viés sensacionalista que aproveita o timing pré-eleitoral. Eis as divergências:
1. Projeção Especulativa sem Amparo Oficial
- A Veja projeta estrangulamento catastrófico em 2026, com apenas R$ 33 bilhões para custeio da máquina pública – valor inexistente em relatórios do IPEA ou TCU.
- O IPEA confirma déficit primário de R$ 41,6 bilhões em junho/2025, mas destaca redução de 89% no acumulado anual ante 2024, indicando ajuste fiscal em curso.
2. Narrativa de "Imobilismo Legislativo" vs. Realidade
- A revista alega paralisia em PECs (Propostas de Emenda Constitucional) para "desengessar" o Orçamento, porém omite debates ativos no Congresso sobre o PL 1.087/2025, que institui tributação mÃnima para rendas acima de R$ 600 mil/ano.
- O TCU, em auditorias recentes, não menciona "imobilismo", mas sim discussões técnicas sobre eficiência orçamentária – tema ignorado na matéria.
3. Alegações Setoriais sem Confirmação
- A desativação de 30% dos sensores hidrológicos da ANA, citada como prova do "apagão", não consta em relatórios do IPEA ou TCU. O instituto reconhece pressão inflacionária no setor energético (+7% em 2025), mas sem ligar isso a um desmonte.
- O TCU identificou falhas em 43% das licitações dos Correios (2023), porém atribuiu-as a gestão deficiente – não a cortes orçamentários generalizados.
4. Timing Eleitoral e Linguagem Alarmista
- A edição analisada (nº 2956) inclui outra matéria sobre radicalização bolsonarista, sugerindo enquadramento editorial polÃtico .
- Termos como "apagão" e "colapso" – usados 12 vezes na reportagem – não aparecem em relatórios oficiais, que preferem "restrições orçamentárias".
- A ênfase no risco sistêmico a 14 meses das eleições de 2026 coincide com pesquisas citadas pela Veja sobre erosão da base governista.
5. Contradições no Diagnóstico Energético
- Enquanto a Veja associa cortes na ANA a riscos de "apagão energético", o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) atribui o déficit estrutural à falta de leilões de capacidade desde 2021 – não aos contingenciamentos.
- O PEN 2025-29 do ONS prevê crescimento de 40 GW em energia solar até 2029, mas reconhece que essa fonte não resolve o gargalo noturno – nuance ausente na matéria.
Ao manipular dados sem contextualização com fontes oficiais e usar jargões catastróficos, a Veja transforma um desafio fiscal real em uma narrativa de colapso iminente. O IPEA e o TCU não negam pressões orçamentárias, mas suas análises técnicas refutam o tom apocalÃptico e expõem o oportunismo de vincular a crise a um suposto fracasso irremediável do governo à s vésperas de eleições.
Com informações de: Veja, ASMETRO-SI, Seu Dinheiro, BBC
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