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Quase colisão no Caribe: avião comercial e aeronave militar dos EUA se encontram em rota aérea
Incidente ocorre em meio a escalada militar norte-americana na região e alertas sobre o fechamento do espaço aéreo venezuelano, levantando preocupações sobre segurança e soberania
America do Sul
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTh67secyXYwfb3wc16cTYScmDX-1EAgDE2RQ&s
■   Bernardo Cahue, 15/12/2025

Um voo comercial da JetBlue quase colidiu com uma aeronave de reabastecimento da Força Aérea dos Estados Unidos no espaço aéreo próximo à Venezuela, em um incidente que expõe os riscos da intensa e controversa operação militar norte-americana no Caribe. O piloto do voo 1112, que partiu de Curaçao com destino a Nova York, classificou a situação como "um absurdo" após ser forçado a interromper bruscamente sua subida para evitar uma colisão midair.

O incidente, ocorrido na sexta-feira, 12 de dezembro, foi registrado em áudio entre o piloto e o controle de tráfego aéreo. De acordo com as gravações, o tanque de reabastecimento aéreo (KC-135 ou similar) cruzou diretamente o caminho do avião comercial a uma distância estimada entre 2 e 5 milhas náuticas e à mesma altitude. O piloto relatou com indignação que a aeronave militar não tinha seu transponder ligado, dispositivo eletrônico crítico que identifica aeronaves e fornece dados como altitude aos controladores e a outros aviões.

"Acabamos de ter um tráfego passando diretamente na nossa frente... era um reabastecedor ar-ar da Força Aérea dos Estados Unidos e estava na nossa altitude. Tivemos que parar nossa subida", relatou o piloto no áudio. "Eles passaram diretamente em nossa trajetória de voo... Eles não têm o transponder ligado, é um absurdo".

Contexto de Tensão e Operação Militar Expansiva

O quase acidente não é um evento isolado, mas sim um sintoma do aumento massivo e perigoso da atividade militar dos EUA no Caribe. Desde setembro, o Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM) iniciou a "Operação Southern Spear", uma campanha que já realizou ataques a mais de 20 embarcações suspeitas de narcotráfico, resultando em mais de 80 mortes.

Para sustentar estas operações, os Estados Unidos implantaram na região um poderio militar formidável, que inclui:

  • O porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior do mundo.
  • Esquadrões de caças stealth F-35.
  • Navios de guerra, submarinos e cerca de 15.000 militares.
  • Aeronaves de vigilância e, como ficou evidente, tanques de reabastecimento aéreo.

Esta presença foi justificada pela administração Trump como necessária para combater o narcotráfico, acusando o presidente venezuelano Nicolás Maduro de liderar o "Cartel de los Soles", designado como organização terrorista. No entanto, autoridades venezuelanas e de outros países latino-americanos condenaram as ações dos EUA como uma violação da soberania e uma demonstração de força hostil.

Investigações, Reações e um Padrão Perigoso

Diante da repercussão do incidente aéreo, tanto a JetBlue quanto o Comando Sul dos EUA anunciaram que estão revisando o caso. A companhia aérea afirmou que reportou o fato às autoridades federais e que a segurança é sua prioridade máxima. O Comando Sul, por sua vez, emitiu um comunicado padronizado, afirmando que suas tripulações são "profissionais altamente treinados" que operam de acordo com os procedimentos e que a segurança é uma "prioridade máxima".

Um oficial norte-americano familiarizado com o incidente tentou minimizar o risco, alegando que o tanque militar estava dentro de uma distância aprovada do jato comercial. O mesmo oficial também afirmou que não é incomum que aeronaves militares voem com seus transponders desligados durante operações.

Este episódio perigoso no Caribe ecoa um incidente semelhante ocorrido dentro dos Estados Unidos em julho de 2025. Na ocasião, um avião regional da SkyWest, operando um voo da Delta, foi forçado a fazer uma manobra evasiva brusca para evitar um bombardeiro estratégico B-52 durante a aproximação para o aeroporto de Minot, em Dakota do Norte. Naquele caso, o piloto também destacou falhas no controle de tráfego aéreo, observando que a torre local não possuía radar e dependia apenas de observação visual.

Alerta de Espaço Aéreo e a Ampliação do Conflito

A situação no Caribe se tornou tão volátil que a Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA emitiu um alerta em novembro, aconselhando todos os pilotos a exercerem "extrema cautela" devido à piora da situação de segurança e ao aumento da atividade militar no espaço aéreo em torno da Venezuela.

A escalada retórica e militar atingiu um novo patamar no último sábado, quando o presidente Donald Trump declarou em sua rede social que o "espaço aéreo acima e ao redor da Venezuela está FECHADO EM SUA TOTALIDADE". A declaração, direcionada a "todas as companhias aéreas, pilotos, traficantes de drogas e traficantes de pessoas", aumenta drasticamente a tensão e a incerteza para a aviação civil na região.

Enquanto isso, as operações militares terrestres e marítimas continuam. O governo Trump já sinalizou que pode estender suas ações para alvos dentro da Venezuela, com o próprio presidente afirmando que ações em terra para deter traficantes "começarão muito em breve". Esta postura agressiva ocorre apesar de pesquisas indicarem que cerca de 70% dos americanos se opõem a qualquer engajamento militar no país sul-americano.

O quase desastre do voo JetBlue 1112 serve como um alerta crítico: a sobreposição entre operações militares de alta intensidade e rotas de aviação comercial em um espaço aéreo congestionado cria uma receita para a tragédia. A menos que sejam estabelecidos protocolos de segurança e comunicação mais claros e respeitados, o risco de uma colisão catastrófica permanecerá real, com consequências impensáveis para centenas de civis inocentes.

Com informações de: Press TV, NBC News, Military.com, The Hill, G1, O Globo, CNN Brasil, The New Yorker, California State University Times e CNN Facebook ■