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Maduro confirma diálogo "respeitoso e cordial" com Trump em meio a tensões militares históricas
Presidente venezuelano revela detalhes de contato telefônico ocorrido há dez dias, enquanto EUA mantêm amplo dispositivo naval próximo ao país e ameaças de ação militar continuam
America do Sul
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTSIkMpJ8rTCTwM22pwVOXOhopDyJwqtDhrVA&s
■   Bernardo Cahue, 04/12/2025

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, confirmou publicamente nesta quarta-feira (03) que manteve uma conversa telefônica com seu homólogo dos Estados Unidos, Donald Trump, há aproximadamente dez dias. Durante um evento em Petare para supervisionar obras do governo comunal, Maduro descreveu o tom do diálogo como "respeitoso e cordial" e expressou esperança de que isso possa significar um caminho para a diplomacia. A confirmação ocorre em um momento de extrema tensão bilateral, marcada por um massivo desdobramento militar norte-americano no Caribe e acusações mútuas entre os governos.

Trump havia sido o primeiro a mencionar o contato no último domingo (30), após um relatório do The New York Times, mas evitou dar detalhes. Questionado por jornalistas a bordo do Air Force One, ele respondeu: "Não quero comentar sobre isso. A resposta é sim", e acrescentou: "Não diria que foi boa nem ruim. Foi uma ligação telefônica". Fontes ouvidas pelo New York Times revelaram que a ligação, que também incluiu o secretário de Estado Marco Rubio, discutiu a possibilidade de um encontro futuro entre os dois líderes nos Estados Unidos, embora nenhuma reunião esteja marcada.

Um Diálogo em Meio ao Crescente Cerco Militar

A revelação do contato diplomático de alto nível ocorre contra um pano de fundo de ameaças militares explícitas e uma significativa movimentação de tropas. Desde agosto, os Estados Unidos mobilizaram um amplo aparato militar na região do Caribe, próximo à costa venezuelana.

Os principais elementos desta presença militar incluem:

  • O porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior do mundo, que chegou à região em novembro.
  • Oito navios de guerra adicionais e caças de última geração F-35.
  • Operações de bombardeio contra embarcações suspeitas de narcotráfico, que já resultaram em pelo menos 83 mortes, segundo o governo americano.

Enquanto a Casa Branca justifica a operação como parte do combate ao narcotráfico internacional, autoridades americanas, sob anonimato, admitiram que o objetivo último é a remoção de Nicolás Maduro do poder. A tensão escalou ainda mais com a recente decisão do Departamento de Estado de classificar o chamado Cartel de Los Soles como uma organização terrorista estrangeira, acusando o próprio Maduro de liderá-la. Em resposta, o governo venezuelano nega veementemente qualquer vínculo com o cartel e acusa Washington de buscar uma mudança de regime para se apoderar das vastas reservas de petróleo do país.

A Posição de Maduro: Diplomacia Sim, Mas com Defesa da Soberania

Ao discursar para apoiadores na Comuna Simón Rodríguez, no bairro San Blas de Petare, Maduro adotou um tom que mesclou abertura ao diálogo com um forte discurso de resistência nacional. Ele afirmou que, se a ligação com Trump for um passo para um diálogo respeitoso, "bem-vindo seja o diálogo, bem-vinda a diplomacia, porque sempre buscaremos a paz". Em inglês, chegou a declarar: "Welcome dialogue, welcome diplomats, welcome the peace. Peace, yes. War, never, never in your life".

No entanto, Maduro também fez questão de evocar o espírito histórico de luta da Venezuela. Ele relembrou a resistência durante o período de emancipação da Espanha, citando uma carta em que um general espanhol se referia aos venezuelanos como "feras resolutas", e afirmou que esse mesmo espírito prevalece hoje. A mensagem foi clara: mesmo aberto à conversa, seu governo não cederia à pressão. "Não puderam então, nem jamais poderão conosco, os venezolanos", declarou, em aparente referência às ameaças contemporâneas.

O Cenário Interno: Maduro Consolida o Poder Comunal

O local escolhido por Maduro para fazer a revelação não foi por acaso. A atividade em Petare fez parte da chamada "Ruta de Consolidación del Sistema de Gobierno Comunal y Popular". Durante o evento, o presidente inaugurou obras comunitárias e destacou este modelo de organização local como um pilar de sua governança.

Entre os projetos entregues à comunidade estavam:

  1. Uma planta potabilizadora de água para garantir acesso seguro ao serviço.
  2. A reinauguração de um ambulatório tipo I para fortalecer a atenção primária à saúde.
  3. A abertura de uma Sala de Autogobierno Comunal para a tomada de decisões locais.

Maduro utilizou o cenário para defender seu projeto político, afirmando que a Venezuela construiu "a democracia mais vibrante, mais participativa e mais completa da história de Nuestra América", em contraste com o que chamou de "democracia burguesa e oligárquica" de outros países. Ele ainda celebrou a recente criação da quarta milésima comuna no país, com a meta de chegar a seis mil até 2027.

Perspectivas Incertas entre a Diplomacia e a Ameaça Militar

O futuro das relações entre os dois países permanece em uma encruzilhada perigosa. De um lado, o contato direto entre os presidentes e a menção a um possível encontro sugerem uma via diplomática que parecia impensável há poucas semanas. Maduro demonstrou disposição ao diálogo, e Trump, apesar de seu tom contido, não descartou a interação.

Por outro lado, o cenário militar continua extremamente carregado. Trump já afirmou que os EUA devem iniciar "muito em breve" uma ofensiva terrestre contra o narcotráfico na Venezuela e que a designação do Cartel de Los Soles como grupo terrorista dá base legal para atacar alvos dentro do território venezuelano. Autoridades de aviação dos EUA emitiram alertas para a região do Caribe, o que levou oito companhias aéreas a suspenderem voos para a Venezuela por motivos de segurança.

Enquanto isso, o governo venezuelano descreve a pressão internacional como uma forma de "terrorismo psicológico". A conversa "cordial" entre Maduro e Trump surge, portanto, como um frágil fio de esperança em um contexto onde a retórica belicista e o poderio militar mobilizado ainda falam mais alto. Se o diálogo evoluirá para negociações concretas ou será ofuscado por uma escalada de conflito é a questão que agora domina as relações entre Washington e Caracas.

Com informações de: G1, Swissinfo.ch, The New York Times, Red Latina STL, Band.com.br, teleSUR, PSUV.org.ve, Últimas Noticias, Mazo4F.com ■