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O dilema de Trump e a resistência de Maduro
Ultimato rejeitado, acusações de crimes de guerra e planos de guerrilha marcam o ápice de uma escalada perigosa, enquanto o presidente americano enfrenta críticas internas
America do Sul
Foto: https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/83/2025/12/01/nicolas-maduro-beija-a-bandeira-da-venezuela-durante-cerimonia-em-caracas-1764627676577_v2_900x506.jpg
■   Bernardo Cahue, 02/12/2025

A crise entre os Estados Unidos e a Venezuela atingiu um novo patamar de tensão, com o presidente Donald Trump enfrentando um dilema político e legal complexo. De um lado, a recusa categórica de Nicolás Maduro em aceitar um ultimato para deixar o poder; de outro, a crescente pressão doméstica por investigações sobre supostos crimes de guerra cometidos por forças americanas no Caribe. Este cenário coloca Washington à beira de uma intervenção militar de consequências imprevisíveis na América do Sul.

O Ultimato e a Rejeição

No dia 21 de novembro, uma ligação telefônica de 15 minutos entre Trump e Maduro selou o impasse. Fontes revelaram que Trump, através de um ultimato, ofereceu a Maduro e sua família um salvo-conduto para deixar a Venezuela imediatamente. Em troca, Maduro apresentou uma série de exigências consideradas impraticáveis pela Casa Branca:

  • Anistia legal total e imunidade judicial global para si e sua família.
  • Remoção de todas as sanções dos EUA contra ele, familiares e mais de 100 autoridades de seu governo.
  • O fim do processo contra ele no Tribunal Penal Internacional (TPI).
  • A manutenção de seu controle sobre as Forças Armadas venezuelanas, mesmo após uma eventual renúncia.

Com a rejeição das demandas e o fim do prazo do ultimato, Trump declarou o espaço aéreo venezuelano "totalmente fechado", um movimento interpretado como prelúdio para operações militares. Várias companhias aéreas já suspenderam seus voos para o país.

A Tempestade por Crimes de Guerra

Paralelamente, Trump enfrenta uma crise política interna. Reportagens do Washington Post e da CNN revelaram ordens verbais supostamente dadas pelo secretário de Guerra, Pete Hegseth, que poderiam configurar crimes de guerra. Após um ataque com mísseis a um barco suspeito de tráfico no Caribe, imagens de drone teriam mostrado dois sobreviventes agarrados a destroços. Um segundo ataque foi ordenado para "eliminá-los" e cumprir instruções.

A Casa Branca nega ilegalidades, atribuindo a decisão ao almirante Frank "Mitch" Bradley. No entanto, o caso gerou uma investigação bipartidária no Congresso americano, unindo republicanos e democratas preocupados com a violação do Direito Internacional Humanitário. Esse quadro mancha a narrativa de "guerra ao narcotráfico" e limita as opções de Trump, expondo-o a riscos jurídicos e políticos.

A Estratégia Desesperada de Caracas

Sem condições de travar uma guerra convencional contra as Forças Armadas dos EUA, que superam em muito e em tecnologia as suas, o regime de Maduro prepara uma estratégia de resistência assimétrica e de guerrilha.

Documentos de planejamento e fontes revelam um plano de "resistência prolongada", que envolveria:

  1. Unidades militares dispersas em mais de 280 locais para realizar atos de sabotagem e ataques de guerrilha.
  2. Uma operação de "anarquização", usando serviços de inteligência e grupos armados governistas para semear o caos em Caracas e tornar o país ingovernável para uma força invasora.

Fontes próximas ao governo venezuelano admitem a fraqueza militar: "Não duraríamos nem duas horas em uma guerra convencional". A estratégia, portanto, é aumentar o custo político de uma invasão, apostando na exaustão do inimigo.

O pano de fundo: narcotráfico, sanções e uma crise anterior

A justificativa pública dos EUA para a pressão é o combate ao narcotráfico. Recentemente, o governo Trump incluiu o suposto Cartel de Los Soles — que acusa Maduro de liderar — em sua lista de organizações terroristas estrangeiras. Esta designação fornece um arcabouço legal para ações militares e sanções.

No entanto, analistas apontam que a classificação é discrecional e carregada de interesses políticos. "Cada Estado define o terrorismo como quer, é um exercício retórico para difamar seu inimigo, tirar sua legitimidade e justificar certas ações", avalia Andreas Feldmann, professor da Universidade de Illinois.

Esta escalada ocorre sobre uma Venezuela já devastada por uma profunda crise econômica e humanitária que se arrasta desde 2010, marcada por hiperinflação, escassez de alimentos e medicamentos, e uma diáspora de milhões de pessoas. O embargo econômico liderado pelos EUA é apontado por alguns estudos como um agravante decisivo desta crise, enquanto o governo Maduro atribui a ela todos os males do país.

Um Futuro de Incertezas

O caminho à frente é incerto. Trump, que oscilou entre ameaças de ação terrestre — "a terra será a próxima" — e a abertura para diálogo, agora vê suas opções restritas pela resistência de Maduro e pela investigação no Congresso.

A comunidade internacional observa com apreensão. Um conflito aberto na Venezuela teria consequências humanitárias catastróficas, potencialmente desestabilizadoras para toda a região, e colocaria os EUA em um novo e complexo cenário de ocupação e insurgência. O dilema venezuelano de Trump, portanto, é também um teste para a ordem internacional em 2025, balançada entre a soberania nacional, a justiça por crimes de guerra e a imprevisibilidade da política de grandes potências.

Com informações de: UOL, CNN Brasil, Deutsche Welle (DW), CELAG, G1, Washington Centre for International Policy, Global Rights Compliance, Wikipedia ■