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Trump luta contra seu maior pesadelo: a Venezuela nos BRICS
Uma análise sobre como a pressão militar dos EUA no Caribe está intrinsecamente ligada ao temor de uma aliança entre Venezuela e BRICS, que poderia reconfigurar o mercado global de energia e desafiar o domínio do petrodólar
Analise
Foto: https://www.estadao.com.br/resizer/v2/QSXGHGACAVGCJDJC7PZVSOCL3I.jpg?quality=80&auth=ed9a932fc1f8a2403785358c44930ac52a38b5d16d6ff4388f8c44645f9949a1&width=380
■   Bernardo Cahue, 30/11/2025

O Caribe tornou-se o palco de uma tensão geopolítica que transcende as justificativas oficiais de um "combate ao narcotráfico". A crescente pressão militar dos Estados Unidos sobre a Venezuela, intensificada sob o governo de Donald Trump, ocorre em um momento em que o país caribenho projeta aumentar sua produção de petróleo e busca maior integração com o bloco dos BRICS. Esse movimento potencializaria o controle do grupo sobre as reservas energéticas globais, acendendo um alerta em Washington sobre uma possível erosão do petrodólar e do poder financeiro americano. Esta análise investiga os fios que conectam a estratégia venezuelana, a expansão dos BRICS e a resposta militar norte-americana.

O Aumento da Pressão Militar dos EUA

A campanha norte-americana contra o governo de Nicolás Maduro entrou em uma nova fase, marcada por um significativo aparato militar e ações letais. O cenário inclui:

  • Build-up Militar Histórico: Os EUA reuniram sua maior presença militar no Caribe desde a invasão do Panamá em 1989, incluindo o porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior do mundo, e cerca de 12.000 a 15.000 militares .
  • Bloqueio Aéreo Indireto: Trump declarou que o espaço aéreo "acima e ao redor" da Venezuela deve ser "considerado fechado em sua totalidade", uma medida de efeito prático incerto, mas que gerou cancelamentos de voos e aumentou o isolamento do país .
  • Ataques Letais e Questionamentos: Ações militares contra embarcações supostamente envolvidas no tráfico de drogas resultaram em pelo menos 83 mortes, ações que a ONU classificou como execuções extrajudiciais, especialmente porque os EUA não apresentaram evidências públicas sobre a carga das embarcações.
  • Nova Justificativa Legal: A designação do suposto "Cartel de los Soles" – uma rede atribuída a altos funcionários venezuelanos – como organização terrorista estrangeira abre um leque de opções de pressão, embora especialistas contestem que isso autorize ações militares .

Venezuela e os BRICS: Uma Estratégia de Sobrevivência e Influência

Do outro lado, a Venezuela não está parada. Apesar das sanções e da crise interna, o governo Maduro busca reinserir o país no jogo global por meio de duas frentes principais:

  • Recuperação da Indústria Petrolífera: A vice-presidente Delcy Rodríguez anunciou publicamente o Plano de Recuperação e Produção Petrolífera 2025, destacando os 174 anos de experiência do país no setor e o compromisso de otimizar a indústria para fortalecer a economia nacional.
  • Integração ao Eixo BRICS+: A lógica de expansão do bloco se encaixa perfeitamente com a estratégia de Caracas. O BRICS, sob a presidência brasileira, dobrou de tamanho recentemente, incorporando Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes e Indonésia. O objetivo declarado é fortalecer a soberania tecnológica e energética, reduzir a exposição ao dólar e reformar a governança global – uma agenda que atrai países sob pressão ocidental.

O Xeque-Mate ao Petrodólar: A Hipótese por Trás da Ação Americana

A justificativa oficial norte-americana centra-se no combate ao narcotráfico, mas analistas e o próprio governo venezuelano apontam motivações mais profundas. A hipótese é que a adesão da Venezuela ao BRICS, somada às suas vastas reservas de petróleo e às dos outros membros, poderia:

  1. Concentrar a Oferta Global de Petróleo: O bloco BRICS ampliado, com Rússia, Arábia Saudita (que foi convidada), Emirados Árabes, Irã e Venezuela, controlaria uma fatia de cerca de 66% de todo o lastro petrolífero mundial.
  2. Acelerar a Desdolarização: Com tamanho poder de mercado, o bloco teria força para conduzir transações em outras moedas, como o yuan chinês ou moedas locais, minando a hegemonia do dólar no comércio de commodities. A Rússia já colocou a desdolarização na agenda do bloco.
  3. Enfraquecer a Hegemonia Financeira dos EUA: O fim do petrodólar poderia desencadear uma fuga de capitais e uma desvalorização aguda da moeda americana, um cenário catastrófico para a economia dos Estados Unidos. O ministro do Petróleo venezuelano, Delcy Rodríguez, já acusou os EUA de cobiçar os recursos naturais do país "de graça".

Conclusão: Uma Crise com Múltiplas Camadas

A crise no Caribe não pode ser compreendida apenas através da lente do "combate às drogas". Ela é, na realidade, um microcosmo de uma disputa geopolítica muito mais ampla pela redefinição da ordem global. De um lado, os Estados Unidos, com uma política externa agressiva sob Trump, buscam conter a ascensão de um bloco rival que desafia sua hegemonia econômica e militar. Do outro, a Venezuela e os BRICS representam um projeto alternativo de multipolaridade, em que a soberania energética e a redução da dependência do dólar são pilares fundamentais. O desfecho dessa disputa não apenas determinará o futuro da Venezuela, mas também moldará os contornos do sistema financeiro e de poder internacional nas próximas décadas.

Com informações de Al Jazeera, Military.com, The Guardian, TV BRICS, Phenomenal World ■