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Trump planeja conversa direta com Maduro por telefone, diz site
Intenção de diálogo surge em meio a tensão máxima, com designação de "organização terrorista" contra o governo venezuelano e grande presença militar dos EUA no Caribe
America do Sul
Foto: https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2025/10/Nicolas-Maduro-e-Donald-Trump.jpg?crop=1&resize=1212,909
■   Bernardo Cahue, 25/11/2025

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse a assessores próximos que planeja conversar diretamente por telefone com o líder da Venezuela, Nicolás Maduro. A informação foi divulgada pelo site de notícias Axios, citando fontes não identificadas do governo americano. A ligação, que ainda não tem data definida para acontecer, está "em fase de planejamento".

O plano para uma chamada telefônica representa um movimento diplomático significativo da Casa Branca em um momento de extrema tensão bilateral. A intenção de diálogo foi noticiada no mesmo dia em que o governo dos EUA incluiu oficialmente o chamado Cartel de los Soles em sua lista de organizações terroristas estrangeiras, designação que Washington afirma ser chefiada pelo próprio Maduro.

Fontes do governo americano enfatizaram que, pelo menos no momento, não há intenção de uma ação militar direta contra o líder venezuelano. "Ninguém está planejando entrar lá e atirar nele ou sequestrá-lo — neste momento. Eu não diria que nunca, mas esse não é o plano agora", disse uma autoridade anônima ao Axios. A mesma fonte acrescentou que, enquanto isso, as forças americanas continuarão a "explodir barcos que transportam drogas" como parte da Operação Lança do Sul.

Contexto de Pressão Militar e Diplomática

A possibilidade de um contato direto entre os dois presidentes ocorre em um cenário de escalada militar na região do Caribe. Os Estados Unidos reforçaram substancialmente sua presença militar na área, com o envio de oito navios de guerra, caças F-35 e o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford. Esta operação, batizada de "Lanza del Sur" (ou "Southern Spear"), já realizou pelo menos 21 ataques a embarcações suspeitas de narcotráfico, resultando na morte de pelo menos 83 pessoas, segundo relatos.

Um assessor presidencial citado pelas fontes demonstrou otimismo em relação a uma solução pacífica: "Vejo uma solução diplomática como algo bastante provável". O mesmo conselheiro afirmou que Trump deseja que seu legado presidencial seja o de ter feito tudo ao seu alcance para conter o fluxo de drogas ilegais que entram nos Estados Unidos.

A Designação do Cartel de los Soles

O anúncio da possível conversa foi ofuscado pela decisão do Departamento de Estado dos EUA de designar o Cartel de los Soles como uma organização terrorista estrangeira. O governo americano alega que este grupo, supostamente integrado por funcionários e militares corruptos da Venezuela, é liderado por Maduro e facilita o envio de drogas para os EUA, trabalhando em conjunto com a gangue Tren de Aragua.

No entanto, especialistas contestam a natureza desta organização. Para Jeremy McDermott, codiretor do InSight Crime, o Cartel de los Soles não é uma organização centralizada como os cartéis mexicanos ou colombianos, mas sim uma "rede de redes" que facilita o tráfico de drogas, composta por membros de várias patentes militares e estratos políticos. O nome "Cartel de los Soles" teria sido cunhado pela mídia na década de 1990, referindo-se às insígnias usadas pelos generais venezuelanos, e não é uma denominação usada pelos próprios supostos integrantes. O governo venezuelano, por sua vez, nega veementemente a existência do cartel e classificou a acusação norte-americana como uma "mentira ridícula".

Disputa Política e de Direitos Humanos na Venezuela

As tensões atuais têm como pano de fundo a profunda crise política e de direitos humanos na Venezuela. De acordo com a Human Rights Watch, o período que antecedeu e sucedeu as eleições presidenciais de 28 de julho de 2024 foi marcado por uma intensa repressão contra defensores de direitos humanos e membros da oposição. Observadores eleitorais internacionais, incluindo o Centro Carter, levantaram sérias preocupações sobre a integridade do processo, questionando o resultado oficial que declarou Maduro como vencedor e indicando que as atas eleitorais sugeriam uma vitória do candidato da oposição, Edmundo González.

Após os protestos massivos que se seguiram à divulgação dos resultados, as autoridades venezuelanas responderam com uma repressão brutal. A organização não governamental Foro Penal documentou mais de 1.900 "presos políticos" detidos desde 29 de julho, incluindo 42 adolescentes. A Missão de Averiguação de Fatos da ONU afirmou que o governo empregou "os mecanismos mais duros e violentos de seu aparato repressivo", gerando um "clima generalizado de medo na população".

Antecedentes das Relações EUA-Venezuela

As relações entre os dois países são historicamente conturbadas. Os atritos se intensificaram com a ascensão do socialista Hugo Chávez ao poder em 1999 e sua posterior nacionalização da indústria petrolífera. Um ponto crítico ocorreu em 2002, com uma tentativa de golpe de Estado que removeu Chávez do poder por 48 horas; a Venezuela sempre acusou os EUA de apoiar o levante, uma alegação que Washington nega. Durante o primeiro governo Trump (2017-2021), os EUA impuseram pesadas sanções econômicas ao país e reconheceram o opositor Juan Guaidó como presidente interino em 2019, em uma tentativa fracassada de desalojar Maduro do poder.

Com informações de: G1, El País, InfoMoney, Veja, Human Rights Watch, UOL, CNN Brasil, EFE, O Globo, Al Jazeera ■