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EUA ameaça a vida de pescadores do Caribe
Uma análise crítica dos bombardeios norte-americanos e suas consequências não previstas para a segurança regional
America do Sul
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■   Bernardo Cahue, 24/11/2025

Desde setembro de 2025, o governo dos Estados Unidos iniciou uma série de operações militares no Mar do Caribe e no Pacífico Oriental, justificando-as como um combate frontal ao narcotráfico. No entanto, a estratégia, que já resultou em mais de 80 mortes e pelo menos 21 embarcações atacadas, gera profundas controvérsias no direito internacional, provoca o colapso da economia pesqueira local e omite a complexa teia criminosa que afirma combater, conforme revelado por uma reportagem do Fantástico de 23 de novembro.

Guerra Não Declarada e Seu Custo Humano

Os ataques, anunciados publicamente pelo secretário de Guerra norte-americano, Pete Hegseth, são caracterizados por uma retórica belicista. Hegseth chegou a declarar, em uma rede social, que a mensagem para os "narcoterroristas" é clara: "se continuarem traficando drogas mortais, nós os mataremos". No entanto, essa política tem um custo humano direto e documentado:

  • Vítimas Identificadas: Um dos mortos foi identificado como o pescador colombiano Alejandro Carranza, cuja família e governo colombiano negam qualquer envolvimento com o tráfico. O presidente Gustavo Petro classificou o bombardeio que matou Carranza como um "assassinato" e uma violação do direito internacional.
  • Medo e Colapso Econômico: A reportagem do Fantástico mostrou que pescadores de Santa Marta, na Colômbia, alteraram radicalmente sua rotina por medo de serem confundidos com traficantes. Antes se aventuravam até 60 milhas da costa, onde os peixes são maiores e mais lucrativos; hoje, limitam-se a pescar a apenas 3 milhas, o que impacta drasticamente sua subsistência.
  • Questionamento Legal: Conforme destacado na mesma reportagem, não há previsão legal no direito internacional para que uma nação ataque embarcações de forma preventiva em águas internacionais. Além disso, o governo Trump não apresentou publicamente provas que liguem os mais de 20 barcos afundados ao narcotráfico.

A Justificativa Invisível e a Ameaça Real

Um dos aspectos mais críticos é a completa ausência, na reportagem do Fantástico, da principal justificativa utilizada pelo governo Trump para escalada militar: o combate ao Cartel de los Soles. Esta organização, que os EUA designaram como uma Organização Terrorista Estrangeira, é acusada de ser liderada pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro e de ter "corrompido as instituições do governo da Venezuela". Os Estados Unidos afirmam que o Cartel de los Soles trabalha em conjunto com o Tren de Aragua para enviar narcóticos para seu território.

Enquanto a justificativa oficial fica em segundo plano, a reportagem joga luz sobre a ameaça concreta que se expande pelo território brasileiro: o Tren de Aragua (TDA). Esta facção venezuelana, que nasceu em uma penitenciária e se aproveitou da crise humanitária para se internacionalizar, já está consolidada em Roraima.

  • Crimes Bárbaros: A facção é acusada pela polícia de controlar a venda de drogas e a prostituição em Boa Vista, além de ser responsável por homicídios brutais com desmembramento de corpos e a descoberta de cemitérios clandestinos.
  • Rede Transnacional: Investigações mostram que o TDA mantém relações comerciais estratégicas com as principais facções brasileiras, como o PCC e o Comando Vermelho . Eles utilizam seu controle da fronteira para viabilizar o tráfico de drogas e, crucialmente, o tráfico de armas. Há relatos de que armamentos fornecidos pelo Tren de Aragua já abastecem uma grande facção no Rio de Janeiro.
  • Expansão Silenciosa: O grupo se beneficia da vulnerabilidade de imigrantes e, segundo o delegado Wesley Costa de Oliveira, de Roraima, da falta de checagem de antecedentes criminais durante o processo de interiorização, permitindo que criminosos "renasçam" no Brasil.

Conclusão: Uma Estratégia que Alimenta a Própria Cris

A análise crítica evidencia um paradoxo perigoso. A intervenção militar dos EUA, justificada por uma narrativa de guerra ao narcotráfico associada ao Cartel de los Soles, mostrou-se ineficaz e contraproducente. Ela gera instabilidade, vitima civis e não aborda a complexidade do crime organizado na região.

Paralelamente, a verdadeira ameaça criminosa, o Tren de Aragua, continua a se expandir pelo Brasil, aprofundando suas raízes por meio de alianças com facções locais e explorando a mesma vulnerabilidade social que a crise política e econômica venezuelana ajudou a criar. A operação militar, portanto, não only falha em resolver o problema declarado como também, ao fechar rotas marítimas e aumentar a pressão, pode inadvertidamente incentivar que grupos como o TDA intensifiquem rotas terrestres alternativas pelo Norte do Brasil, aprofundando a violência e a infiltração criminal no território nacional.

Com informações de Agência Brasil, CNN Brasil, Correio Braziliense, Fantástico - TV Globo, Folha de S.Paulo, Gazeta do Povo, G1, MidiaNews, Agência Senado ■