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Na madrugada de sábado, 22 de novembro de 2025, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou a prisão preventiva de Jair Bolsonaro. O decisivo gatilho para a ação não foi apenas a violação da tornozeleira eletrônica, mas a percepção da Justiça de que uma mobilização pública convocada pelo senador Flávio Bolsonaro criava um risco iminente e concreto de fuga. A análise dos autos revela que a "vigília pela saúde de Bolsonaro e pela liberdade no Brasil" era, na avaliação do ministro, a repetição de um modus operandi golpista, destinado a obstruir a ação da polícia e da Justiça.
Na noite de sexta-feira, 21 de novembro, Flávio Bolsonaro publicou um vídeo nas redes sociais dirigindo-se a seus seguidores. No trecho transcrito na decisão judicial, ele afirmou: "Vamos invocar o Senhor dos Exércitos! A oração é a verdadeira armadura do cristão. É por meio dela que vamos vencer as injustiças, as lutas e todas as perseguições". Em seguida, veio o convite concreto: "Vigília pela saúde de Bolsonaro e pela liberdade no Brasil! Sábado, 22 de novembro, às 19h, no balão do Jardim Botânico, na altura do condomínio Solar de Brasília 2". Para as autoridades, a linguagem utilizada não era de simples apelo religioso. Na ordem de prisão, Moraes classificou o conteúdo como de "caráter beligerante" que "incita o desrespeito ao texto constitucional, à decisão judicial e às próprias instituições".
A Polícia Federal, ao pedir a prisão preventiva por volta das 23h de sexta-feira, avaliou que a vigília tinha o potencial de reunir "centenas de adeptos" nas imediações da casa do ex-presidente, o que poderia "inviabilizar o cumprimento de eventuais medidas" judiciais e gerar um "grave dano à ordem pública". A PF temeu a reedição dos acampamentos golpistas estimulados pela organização criminosa perto de instalações militares no final de 2022.
A decisão judicial pintou um quadro em que várias peças se encaixavam para configurar um risco de fuga inadiável. A análise conectou os pontos de forma inexorável:
O contexto foi crucial para a interpretação da convocação da vigília. Esta é a segunda vez que uma publicação de Flávio Bolsonaro é citada em uma decisão que leva à prisão do pai. Em agosto de 2025, a prisão domiciliar de Bolsonaro foi decretada após o ex-presidente aparecer em vídeos exibidos por apoiadores em manifestações, violando a proibição de usar redes sociais. Na ocasião, Flávio admitiu a autoria da postagem, afirmando: "Quem fez fui eu".
Além disso, Moraes citou na decisão o precedente de aliados do ex-presidente que já se evadiram do país. Foram mencionados os casos do deputado Alexandre Ramagem, condenado a 16 anos de prisão e atualmente em Miami, e da deputada Carla Zambelli, condenada a dez anos e presa na Itália aguardando extradição. Para o ministro, esse histórico demonstrava que a estratégia de fuga era um recurso plausível e já utilizado pelo grupo.
Em reação à prisão, Flávio Bolsonaro manteve a vigília marcada para as 19h de sábado. Em transmissão ao vivo, ele criticou a decisão, classificando-a como "absurdo completo" e afirmando que "criminaliza o livre exercício da crença" e o "direito de reunião". Questionando a lógica da Justiça, ele argumentou: "Ele já está preso, porque vai impedir a vigília agora?". O senador chegou a declarar, dirigindo-se a Moraes: "Se meu pai morrer, a culpa é sua".
A defesa de Jair Bolsonaro, por sua vez, sustentava que as condições de saúde do ex-presidente representavam um "risco à vida" caso ele fosse para a cadeia, pedindo a manutenção da prisão domiciliar por motivos humanitários, pedido que foi rejeitado por Moraes.
A prisão preventiva de Jair Bolsonaro é a materialização de um princípio jurídico fundamental: a Justiça age para preservar sua própria autoridade e a aplicação da lei. A convocação da vigília, vista isoladamente como um ato de fé ou protesto, foi interpretada no contexto de um padrão de conduta já reconhecido pelos tribunais. Ao conectar os pontos entre a mobilização de rua, a violação do equipamento de monitoramento e a proximidade com uma via de escape diplomática, o ministro Alexandre de Moraes entendeu que não se poderia correr o risco de esperar. A análise demonstra que, na visão do STF, a vigília era mais do que uma vigília; era o elemento catalisador de um plano de fuga que precisava ser contido antes que fosse tarde demais.
Com informações de: CNN Brasil, BBC, G1, UOL ■