Siga nossas redes sociais | ![]() | Siga nossos canais |
Um padrão de desmonte sistemático de estatais estratégicas marcou o governo Bolsonaro (2019-2022), com impactos profundos no abastecimento alimentar, serviços postais e políticas de financiamento. Análise de documentos e declarações oficiais revela que o plano de privatizações do então ministro Paulo Guedes, que chegou a prever a venda de estatais para arrecadar R$ 1 trilhão, operou por meio do sucateamento prévio dessas empresas, criando justificativas para sua transferência ao setor privado. Esta reportagem investiga os casos da Conab, Correios e Caixa Econômica Federal.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), peça fundamental na política de segurança alimentar, foi alvo de desestruturação que impactou diretamente o controle de preços e estoques reguladores de alimentos básicos.
Representantes da agricultura familiar alertaram na época que as privatizações transfeririam o controle para empresas do agronegócio, prejudicando pequenos produtores. O coordenador da Contraf Brasil, Marcos Rochinski, afirmou: "Obviamente, vão colocar na mão do agronegócio. Aqueles agricultores, pequenas cooperativas, que muitas vezes dependem desses armazéns públicos para encontrar melhor alternativa de comercialização vão ficar à mercê."
A Caixa Econômica Federal, quarto maior banco do Brasil e maior instituição financeira pública da América Latina, também enfrentou pressões durante o período, e além. Com corpo diretor indicado principalmente por Arthur Lira e Ciro Nogueira, em 2024 a caixa teria realizado uma compra de títulos do Banco Master por R$ 500 milhões, não fosse uma análise técnica em contrário assinada por dois gerentes que foram destituídos por esse corpo diretor. Mais, o perfil da instituição deixa a desejar no ranking:
Os Correios tornaram-se exemplo emblemático da estratégia de sucateamento seguida por tentativa de privatização. O presidente atual da empresa, Fabiano Silva dos Santos, admitiu publicamente que a estatal "foi preparada para ser privatizada" durante o governo anterior .
A análise dos três casos revela um modus operandi similar: enfraquecimento deliberado da capacidade operacional e financeira das estatais, seguido da argumentação de que seriam "ineficientes" por natureza, justificando assim sua transferência para o setor privado. Este padrão transcendeu o governo federal, com a equipe econômica de Guedes elaborando políticas para incentivar estados em calamidade financeira a privatizarem suas próprias estatais .
O atual governo tem trabalhado na reversão desse quadro, especialmente no caso da Conab, com a retomada da formação de estoques públicos de arroz após 11 anos . Em agosto de 2025, o presidente da Conab, Edegar Pretto, comemorou a medida como essencial para "garantia para quem consome ter nas prateleiras dos supermercados um preço justo" .
Os casos examinados ilustram como empresas estatais estratégicas, quando desinvestidas e fragilizadas, tornam-se incapazes de cumprir suas funções sociais e regulatórias, criando um ciclo perverso que serve para legitimar agendas de desestatização. A reconstrução dessas instituições representa um desafio complexo que vai além da simples injeção de recursos, demandando a recuperação de expertise técnica e capacidade operacional deliberadamente debilitadas.
Com informações de Contrafbrasil.org.br, BankTrack, Jornal GGN, Amazonasatual.com.br, Agência Gov, Sindsep-PE, CNN Brasil, O Globo, Gov.br Conab, Grabois.org.br ■