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Uma operação de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master, considerada "atípica" e "arriscada" pela área técnica da própria Caixa Econômica Federal, resultou na demissão de dois gerentes que se opuseram ao negócio em outubro de 2024. A destituição dos gestores ocorreu em um contexto de fortes suspeitas sobre a saúde financeira do Banco Master, que mais tarde, em 2025, se tornaria alvo de um debate sobre intervenção pelo Banco Central.
Os gerentes Daniel Cunha Gracio e Maurício Vendruscolo, da Caixa Asset (braço de gestão de ativos do banco estatal), foram destituídos de seus cargos quatro dias após a elaboração de um parecer sigiloso que desaconselhava a compra dos títulos.
O documento, ao qual a imprensa teve acesso, apontava que o modelo de negócios do Banco Master era de "difícil compreensão" e alertava para um "alto risco de solvência". O parecer destacava ainda que a Caixa Asset nunca havia aplicado um volume sequer próximo a R$ 500 milhões em uma instituição com o perfil do Master, que possui um rating interno de BB+, considerado de médio risco.
A análise dos gerentes que barraram a operação listava uma série de irregularidades e riscos incomuns:
A demissão dos gerentes foi comunicada em uma videoconferência com a participação do CEO da Caixa Asset, Pablo Sarrento. A medida foi interpretada internamente como uma tentativa de eliminar resistências ao negócio, uma vez que o comitê de investimentos, responsável pelo aval a esse tipo de operação, seria recomposto com os novos gerentes.
O caso não se encerrou aí. Em 2025, o Banco Central chegou a debater uma intervenção no Banco Master, em um embate que dividiu a diretoria da autoridade monetária. Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro do BC, chegou a ameaçar renunciar se uma proposta de fusão do Master com o BRB fosse aprovada. Na época, técnicos do BC apontavam para a existência de uma carteira de créditos de cerca de R$ 12 bilhões com lastro questionável e a presença de precatórios inflados no balanço do banco.
O controle da Caixa Econômica Federal entre 2023 e 2025 foi resultado de um acordo político firmado entre PP e PL, que utilizou a presidência e diretorias do banco como moeda de troca para ampliar a base de apoio no Congresso. Esse esquema de "toma lá dá cá" colocou o corpo diretor da estatal sob comando de pessoas ligadas a esses partidos no período em que dois gerentes foram demitidos após barrar uma transação de R$ 500 milhões com o Banco Master.
O comando da Caixa foi entregue ao PP como parte de um acordo do Palácio do Planalto com o centrão para aumentar a base de apoio na Câmara. Carlos Antônio Vieira, indicado para a presidência do banco no fim de 2023, teve seu nome apadrinhado pelo então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Desde a indicação de Vieira, as principais posições do banco foram divididas entre partidos do centrão, como PP, União Brasil, Republicanos e PL. A nomeação de José Marcos de Carvalho para a vice-presidência de governo da Caixa em 2025, por exemplo, foi fruto de um acordo entre o atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), e o ex-presidente Arthur Lira (PP).
No período em que os gerentes foram demitidos por barrar a operação com o Banco Master, a assessoria direta da presidência da Caixa era ocupada por um aliado do PP. José Trabulo Junior, homem de confiança do senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, atuava como consultor do presidente Carlos Vieira.
Trabulo, que havia atuado na coordenação da campanha de Jair Bolsonaro (PL) após indicação do senador Ciro Nogueira, recebia cerca de R$ 40 mil mensais como consultor da presidência da Caixa. Sua nomeação constava em lista de assessores mantida sob sigilo até determinação da CGU para torná-la pública.
O PP manteve o controle político da Caixa mesmo após adotar discurso de oposição ao governo Lula. A federação PP e União Brasil definiu que apenas integrantes do governo com mandato eletivo deveriam entregar os cargos, preservando as indicações em estatais como a Caixa.
Essa estratégia permitiu que o PP mantivesse o controle da Caixa mesmo anunciando publicamente que não fazia parte do governo, com o qual não nutria "qualquer identificação ideológica ou programática".
Em 2025, o governo destituiu a direção da Caixa controlada pelo esquema político PP-PL. O acordo que resultou na indicação de José Marcos de Carvalho para a vice-presidência de governo representou a retomada do controle pelo Planalto após quase um ano e meio de impasse político em torno do cargo.
A mudança no comando ocorreu em um contexto de reestruturação do banco e críticas públicas do PP ao governo Lula, com o partido ameaçando entregar cargos mas preservando sua influência na estatal até a intervenção final do governo.
Com informações de: Guia do Investidor, Revista Oeste, Folha de S. Paulo ■