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Geração Z leva protesto contra a violência ao Palácio Nacional no México
Assassinato do prefeito Carlos Manzo, conhecido como "Bukele mexicano", serviu de estopim para que milhares de jovens exigissem segurança e confrontassem o governo de Claudia Sheinbaum
America do Sul
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■   Bernardo Cahue, 16/11/2025

Uma onda de protestos liderados pela Geração Z tomou as ruas da Cidade do México neste sábado (15), em uma manifestação de indignação contra a violência e a política de segurança do governo da presidente Claudia Sheinbaum. O movimento, que culminou em confrontos em frente ao Palácio Nacional, foi catalisado pelo assassinato do prefeito de Uruapan, Carlos Manzo, em 1º de novembro, um caso que expôs a fragilidade do Estado frente ao crime organizado.

Os manifestantes, muitos usando chapéus de caubói em homenagem ao prefeito morto, portavam cartazes com mensagens como "Todos somos Carlos Manzo" e bandeiras inspiradas no mangá "One Piece", símbolo de protestos juvenis globais. A marcha, inicialmente pacífica, tornou-se violenta quando um grupo de encapuchados, identificado como "Bloque Negro", atacou policiais e derrubou as grades de proteção do Palácio Nacional. As forças de segurança reagiram com gás lacrimogêneo e extintores, resultando em cerca de 100 policiais feridos e 40 detidos, segundo a Secretaria de Segurança Cidadã.

O prefeito que desafiou o crime

Carlos Manzo, prefeito de Uruapan, no estado de Michoacán, foi assassinado a tiros durante uma celebração pública do Dia dos Mortos, minutos após fazer uma transmissão ao vivo nas redes sociais. Apesar de contar com uma escolta de 14 agentes da Guarda Nacional, o atirador conseguiu se aproximar e efetuar vários disparos, sendo morto em seguida no local.

Manzo havia construído sua imagem pública em uma postura dura contra o crime organizado. Ele patrulhava as ruas de colete à prova de balas e, em suas aparições, ordenava à polícia local que não tivesse "clemência" com criminosos armados, o que lhe rendeu a comparação com o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, e o apelido de "Bukele mexicano". Ele era um crítico da estratégia de segurança do governo federal, tendo pedido publicamente mais apoio para combater os cartéis.

Crise de segurança em Michoacán

O assassinato de Manzo não é um caso isolado, mas sim um sintoma da grave crise de segurança que assola o estado de Michoacán, uma importante região agrícola do México. O estado é palco de disputas territoriais entre pelo menos cinco grupos criminosos, incluindo o Cartel Jalisco Nova Geração (CJNG) e os Cavaleiros Templários. A violência tem impactado diretamente a economia local, que depende de cultivos como abacate e limão, cuja exportação para os Estados Unidos movimenta bilhões de dólares anualmente.

Poucos dias antes do assassinato de Manzo, Bernardo Bravo, líder dos produtores de limão de Michoacán, também foi morto a tiros. Bravo havia denunciado publicamente que era vítima de extorsão, um crime que a própria presidente Sheinbaum reconhece não ter conseguido conter. Dados oficiais mostram que, somente entre janeiro e setembro de 2025, foram registrados 1.024 homicídios dolosos em Michoacán, colocando a região como a sétima mais violenta do México.

A resposta do governo e as acusações

Em resposta à comoção nacional, a presidente Claudia Sheinbaum apresentou um novo plano de segurança para Michoacán, que inclui um trabalho conjunto entre forças federais e a Justiça estadual para combater homicídios e extorsões. Ela se comprometeu a chegar à verdade sobre o "covarde assassinato" de Carlos Manzo.

No entanto, a presidente questionou a organicidade dos protestos da Geração Z. Em coletiva de imprensa, Sheinbaum afirmou que a convocação foi "inorgânica" e "paga", movimentando cerca de 90 milhões de pesos em uma campanha digital que, segundo sua análise, teve participação de contas do exterior e de setores da direita política. A viúva de Manzo e atual prefeita de Uruapan, Grecia Quiroz, desvinculou o "Movimento do Chapéu", fundado pelo marido, da marcha.

Um grito de insatisfação orgânica

Apesar das alegações de manipulação política, analistas enxergam nos protestos uma genuína expressão de descontentamento. David Mora, analista sênior do International Crisis Group, descreveu as manifestações como "uma reação honesta dos cidadãos de Michoacán que, durante muitos anos, têm vivido em um contexto de insegurança extrema e alta violência". A análise sugere que o assassinato de Manzo e a morte de Bernardo Bravo, figuras de setores diferentes da sociedade, mostraram como a violência toca todas as partes da vida em Michoacán, gerando um cansaço social transgeracional.

Com informações de: CNN Brasil, Swissinfo, UOL, Diário do Centro do Mundo, Gazeta do Povo, Infobae, CNN, O Globo. ■