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EUA e Rússia à beira do abismo nuclear com fim do último Tratado
Com a expiração do New START em 2026 e a recente troca de ameaças de testes atômicos entre Trump e Putin, o mundo enfrenta o colapso do controle de armas nucleares pela primeira vez em meio século
Internacional
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■   Bernardo Cahue, 16/11/2025

O cenário da segurança global está à beira de uma transformação perigosa. Pela primeira vez em mais de 50 anos, os Estados Unidos e a Rússia podem ficar sem qualquer tratado bilateral de controle de armas nucleares em fevereiro de 2026, quando expira o New START (Tratado de Redução de Armas Estratégicas). Este contexto é agravado por uma recente e pública troca de ameaças entre os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin sobre a possível retomada de testes nucleares, mergulhando as relações internacionais em uma tensão não vista desde o auge da Guerra Fria.

O Fim de uma Era: A Expiração do New START

O New START, assinado em 2010 e prorrogado por cinco anos em 2021, é o último acordo remanescente de controle de armas nucleares entre as duas maiores potências atômicas do mundo. Ele estabelece limites verificáveis para os arsenais estratégicos de ambos os países, restringindo cada um a 1.550 ogivas nucleares estratégicas implantadas e 700 mísseis, submarinos e bombardeiros para lançá-las.

Em setembro de 2025, o presidente Vladimir Putin fez uma proposta para evitar o colapso total do acordo. Ele sugeriu que a Rússia estaria disposta a observar voluntariamente os limites centrais do tratado por mais um ano após sua expiração, sob a condição crucial de que os Estados Unidos agissem "de maneira semelhante". Trump inicialmente considerou a ideia "muito boa", mas, até o momento, não houve uma resposta formal nem esclarecimentos concretos de Washington, deixando o destino do acordo em um limbo perigoso.

Uma Perigosa Escalada Retórica: Ameaças de Testes Nucleares

O vácuo deixado pela incerteza do controle de armas foi rapidamente preenchido por uma retórica inflamada. No final de outubro de 2025, o presidente Donald Trump ordenou que os militares dos EUA reiniciassem "imediatamente" o processo de testes de armas nucleares. A ordem, no entanto, foi ambígua, não deixando claro se se referia a testes de voo de mísseis (prática comum) ou à retomada de testes com explosões nucleares reais, que os EUA não realizam desde 1992 e a Rússia desde 1990.

A resposta russa foi rápida e contundente. Putin ordenou que seu governo preparasse um relatório sobre a "necessidade" de iniciar os preparativos para a realização de testes nucleares. O Kremlin afirmou que Moscou só realizaria um teste nuclear se outra potência nuclear o fizesse primeiro, colocando a bola no campo americano e alertando que "faria o mesmo" em resposta. Esta sequência de eventos levou o duelo nuclear entre os dois líderes a "atingir um novo nível", conforme destacado por análises internacionais.

Armas Novas e o Risco de uma Corrida Armamentista

Além das ameaças verbais, ambos os países estão desenvolvendo e exibindo novos sistemas de armas que complicam ainda mais o cenário estratégico:

  • Rússia: Apresentou o míssil de cruzeiro Burevestnik e o "torpedo do Juízo Final" Poseidon, ambos com capacidade nuclear e propulsão que lhes conferem autonomia praticamente ilimitada. Também possui sistemas hipersônicos como o Kinzhal e o Avangard.
  • Estados Unidos: Trump afirmou ter um projeto para o "Domo de Ouro", uma rede de satélites projetada para detectar, rastrear e potencialmente interceptar mísseis no espaço, um plano que Putin advertiu ser "desestabilizador".

Especialistas alertam que, sem a estrutura do New START, ambos os lados poderiam dobrar o tamanho de seus arsenais strategicos, iniciando uma nova e imprevisível corrida armamentista.

O Pano de Fundo Mais Amplo: A Erosão do Regime de Controle Nuclear

A crise atual não é um evento isolado. Ela representa a erosão contínua de um complexo sistema de acordos internacionais construído por décadas para evitar uma catástrofe nuclear. O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), de 1970, é a pedra angular desse regime, com 189 países signatários. Seus três pilares são:

  1. Não proliferação: Estados não nucleares se comprometem a não adquirir armas atômicas.
  2. Desarmamento: Estados nucleares (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido) se comprometem a buscar o desarmamento.
  3. Uso pacífico: Direito de todos os estados de desenvolver energia nuclear para fins civis, sob inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

No entanto, a eficácia do TNP é constantemente desafiada. Países como Índia, Paquistão e Israel possuem armas nucleares e não são signatários do tratado, enquanto a Coreia do Norte se retirou do acordo em 2003. A possível expiração do New START, sem um sucessor, representa um golpe severo no pilar do desarmamento, minando a credibilidade do regime internacional como um todo.

Um Mundo à Beira de uma Nova Era Nuclear

O colapso do New START e a retórica belicosa marcam um ponto de inflexão perigoso. A comunidade internacional observa com apreensão, ciente de que EUA e Rússia, juntos, detêm cerca de 87% das mais de 14.500 armas nucleares existentes no mundo – arsenal suficiente para destruir o planeta múltiplas vezes. Enquanto diplomatas e organizações como a ONU pedem desesperadamente um retorno à diplomacia e à construção de confiança, as ações em Washington e Moscou parecem estar conduzindo o mundo a uma nova e assustadora era de incerteza e ameaça nuclear existencial.

Com informações de CNN Brasil, Folha, Wikipedia, Gazeta do Povo, Reaching Critical Will, disarmament.unoda.org, Poder360, UOL, Veja. ■