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A operação de segurança pública no Complexo do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, desencadeou uma série de eventos que transcendem a questão da criminalidade, adentrando os campos do ordenamento jurídico, das relações internacionais e da manipulação da opinião pública. Uma análise crítica desses fatos revela um embate complexo entre o Governo Federal, o Governo Estadual e instituições chave, levantando questões sobre o cumprimento de ritos legais e a soberania nacional.
De acordo com a legislação brasileira, especificamente o Decreto nº 5.289/2004 e a Lei nº 11.473/2007, a atuação da Força Nacional de Segurança Pública é rigidamente regulamentada. O artigo 4º do Decreto estabelece que o emprego desta força deve ser solicitado pelo Governador do Estado ou do Distrito Federal, e a decisão final compete exclusivamente ao Ministro de Estado da Justiça. O dispositivo legal é claro: "Compete ao Ministro de Estado da Justiça determinar o emprego da Força Nacional de Segurança Pública, que será episódico e planejado" .
Um pedido de reforço de segurança direto ao governo norte-americano, contornando o Ministério da Justiça, representaria uma grave quebra do protocolo legal e do princípio da hierarquia dentro da administração pública federal. O Ministério da Justiça e Segurança Pública, atualmente sob o comando do Ministro Ricardo Lewandowski, é a instância máxima para tais deliberações, atuando como elo entre a União e os Estados . Qualquer ação que ignore essa via não só desrespeita a lei como também fragiliza a autoridade do Governo Federal e o pacto federativo.
A Constituição Federal é taxativa ao atribuir à União a competência para manter relações com Estados estrangeiros. A existência de canais de comunicação diretos entre um governo estadual e uma potência estrangeira, como os Estados Unidos, para tratar de temas sensíveis como segurança pública, configura um grave desvio diplomático. Esta prática, conhecida como paradiplomacia, quando realizada sem o aval e a coordenação do Itamaraty, pode:
Esse tipo de conduta descentraliza a comunicação e pode ser interpretado como uma tentativa de criar uma crise diplomática "proposital", minando a autoridade do Chanceler brasileiro e do Presidente da República.
Em meio a operações de alto impacto, a opinião pública torna-se um campo de batalha crucial. A acusação de que institutos de pesquisa como Datafolha, Quaest e Paraná Pesquisas estariam divulgando enquetes "preparadas" para inflar a aprovação do governador Cláudio Castro pós-operação é grave e requer contextualização.
Essas pesquisas, quando publicadas após um evento de grande visibilidade, exploram um fenômeno conhecido como "síndrome do efeito Lula" – onde ações de grande visibilidade geram picos momentâneos de popularidade para governantes. A crítica se concentra na metodologia e no timing dessas pesquisas:
Este esforço de manipulação da percepção serve para legitimar ações extra-legais perante a população, criando uma cortina de fumaça para as controvérsias jurídicas e diplomáticas em curso.
Os eventos que se sucederam à operação no Rio configuram uma tempestade institucional. A possível desconsideração dos ritos legais para o reforço de segurança, combinada com uma diplomacia paralela e uma intensa batalha por narrativa, aponta para um cenário de profunda erosão das instituições. O caso evidencia como a segurança pública, área que deveria ser pautada pela estrita legalidade e pela cooperação entre entes federativos, pode se tornar palco de disputas políticas que colocam em risco a coesão nacional e a própria democracia. A manutenção do Estado Democrático de Direito exige que todos os atores envolvidos – executivos estadual e federal, parlamento e judiciário – ajam com absoluto respeito à Constituição e às leis que regem a República.
Com informações de: Devex, Congresso Nacional, Wikipedia, CNN Brasil, G1. ■