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Prêmio Nobel da Paz de 2025 acirra crise entre Venezuela e Estados Unidos
Líder oposicionista María Corina Machado aposta em aliança com governo Trump, enquanto pressão militar e diplomática sobre o regime de Maduro se intensifica
America do Sul
Foto: https://www.semana.com/resizer/v2/JNDL5FEUXRARZPTTCAUTBQQQ5A.jpg?auth=f15f5967dbe4c569f676c3cb2cb664f08189bf5673ef1b0c6ca5528c33d97aaf&smart=true&quality=75&width=1280
■   Bernardo Cahue, 28/10/2025

A concessão do Prêmio Nobel da Paz de 2025 à líder oposicionista venezuelana María Corina Machado tornou-se o epicentro de uma crise geopolítica que reacendeu as tensões entre Washington e Caracas. Machado, uma ferrenha crítica do presidente Nicolás Maduro, dedicou o prêmio ao presidente americano, Donald Trump, solidificando uma aliança que tem como objetivo declarado a promoção da democracia na Venezuela.

Do outro lado, o governo Maduro, que não é reconhecido pelos Estados Unidos como legítimo desde as eleições de 2024 – amplamente questionadas internacionalmente por falta de transparência e integridade –, acusa Washington de orquestrar uma campanha para um mudança de regime.

Pressão Militar e a Estratégia Americana

Nos últimos meses, os EUA iniciaram uma significativa mobilização militar no Caribe, a maior em décadas, que inclui o envio de porta-aviões, navios de guerra, caças e bombardeiros de longo alcance B-52 para a região. Oficialmente, a Casa Branca justifica as ações como parte de uma guerra contra o narcotráfico, alegando que embarcações venezuelanas estariam envolvidas no tráfico de drogas.

No entanto, analistas e especialistas enxergam uma campanha de intimidação com o objetivo final de pressionar a saída de Maduro do poder. "Trata-se de uma mudança de regime. Provavelmente não vão invadir, a esperança é que se trate de uma sinalização", afirmou Christopher Sabatini, pesquisador do think tank Chatham House, à BBC. A estratégia parece ser incutir medo nos militares venezuelanos e no círculo íntimo de Maduro, incentivando uma rebelião interna.

Além dos ataques a embarcações, Trump autorizou a CIA a conduzir operações dentro da Venezuela, um movimento que especialistas acreditam visar fomentar um golpe militar ou preparar o terreno para uma intervenção mais direta.

Interesses em Jogo: Do Petróleo à Política Interna

Por trás da retórica antidrogas e pró-democracia, existem interesses geopolíticos e econômicos profundos. A Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do mundo, e um governo aliado em Caracas permitiria aos EUA um acesso privilegiado a esse recurso e a outras matérias-primas, além de frear a influência de China e Rússia na região.

Internamente, a postura dura contra Maduro rende a Trump dividendos políticos. A questão é sensível no estado da Flórida, onde o voto da comunidade cubana e venezuelana é significativo, e fortalece a imagem de um presidente "duro" perante sua base eleitoral. A influência do secretário de Estado Marco Rubio, um crítico histórico do chavismo, é apontada como um fator crucial para a adoção dessa política de confronto.

Cenário Interno: Repressão e Crise Humanitária

Enquanto a pressão internacional aumenta, a situação dentro da Venezuela permanece grave. Relatórios de direitos humanos documentam uma intensa repressão política por parte do governo Maduro, especialmente após as eleições contestadas de 2024. Milhares de manifestantes foram detidos de forma arbitrária, e há relatos de assassinatos e tortura cometidos por forças de segurança e grupos armados pró-governo.

O país também enfrenta uma crise humanitária profunda, com mais de 20 milhões de pessoas vivendo na pobreza e sem acesso adequado a alimentos, medicamentos e serviços essenciais. Essa crise já forçou cerca de 8 milhões de venezuelanos a deixarem o país desde 2014.

Uma Aposta de Alto Risco

A aposta de María Corina Machado em uma aliança estratégica com Donald Trump coloca a líder oposicionista no centro de um jogo geopolítico perigoso. Se, por um lado, o prêmio Nobel e o apoio americano dão projeção internacional à sua causa, por outro, a associação direta com uma potência estrangeira pode ser explorada pela propaganda do regime para retratá-la como uma marionete dos interesses dos EUA.

O futuro da Venezuela parece depender de um delicado e volátil equilíbrio: a capacidade de resistência de Maduro frente a uma pressão externa sem precedentes, a disposição da oposição interna de capitalizar o momento, e os cálculos de uma administração americana que demonstra estar disposta a ir longe para alcançar seus objetivos na região.

Com informações de BBC, CNN Brasil, The Guardian, Human Rights Watch, Wikipedia e Latinoamerica21. ■