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A criatividade digital no enfrentamento a blitz por brasileiros: agora também nos EUA
Apps, comunidades e grupos de WhatsApp e Telegram são utilizados para driblar fiscalizações em seus diversificados modelos - a última, para evitar possibilidades de deportações pelos agentes norte-americanos do ICE
Internet
Foto: https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/NWNW4HALEJCI5ALC5K3WSRKO54.png?auth=6e359ad6f7b8bbbdee9dfa1e30963663ceb788d43ffc830ef40d83ef4d3b8d28&width=414
■   Bernardo Cahue, 03/10/2025

Em um mundo cada vez mais conectado, comunidades estão utilizando a tecnologia de forma criativa para enfrentar operações de fiscalização. Seja para evitar deportações nos Estados Unidos ou multas de trânsito no Brasil, aplicativos e grupos de mensagem tornaram-se ferramentas de resistência e sobrevivência.

ICEBlock: A Vigilância Colaborativa Contra as Blitz Imigratórias

Nos Estados Unidos, a comunidade de imigrantes passou a contar com o ICEBlock, um aplicativo inovador que funciona com um princípio simples: "veja algo, toque em algo". A plataforma, disponível para iOS, permite que usuários reportem, de forma anônima, avistamentos de agentes da Imigração e Alfândega (ICE). O modelo é inspirado no Waze, mas focado em alertar sobre a presença da ICE em um raio de 5 milhas. Para proteger a privacidade dos usuários, o aplicativo não coleta dados pessoais e os relatos são automaticamente apagados após quatro horas.

Essa necessidade não surgiu do nada. Em meio a um clima de "medo e terror" entre imigrantes brasileiros durante operações do governo Trump, alternativas caseiras já eram utilizadas. Antes do ICEBlock, brasileiros recorriam ao aplicativo Padlet para criar mapas colaborativos e marcar os locais onde ocorriam as "blitz da imigração". Esses links circulavam avidamente em grupos de brasileiros, funcionando como um sistema de alerta primitivo, porém vital.

Lei Seca RJ: O Mapeamento das Operações de Trânsito

No Brasil, uma criatividade similar é observada no aplicativo Lei Seca RJ. A ferramenta agrega informações de perfis especializados no Twitter e as apresenta em um mapa interativo, ajudando os motoristas a se localizarem e evitarem os pontos de fiscalização da operação Lei Seca no Rio de Janeiro. O objetivo declarado do app é ser útil e direto ao ponto, poupando o usuário de navegar por uma linha do tempo cheia de tweets aleatórios.

Vale notar que o termo "Lei Seca" no Brasil também é associado a outra categoria de aplicativos, como o Decorando a Lei Seca e o Vade Mecum de Questões, focados em ajudar concurseiros a memorizar a legislação brasileira para provas de vestibular e concursos.

WhatsApp: A Rede de Sobreaviso dos Motoristas de Vans

Por fim, a estratégia se repete de forma ainda mais informal, porém não menos eficaz, nos grupos de WhatsApp entre motoristas de vans. Esses profissionais utilizam a ferramenta de mensagens para criar redes de comunicação ágeis e alertar uns aos outros sobre a localização de blitz do DNER no Rio de Janeiro. O WhatsApp, que permite a criação de grupos com até 1000 pessoas, oferece a estrutura perfeita para essa comunicação rápida e em massa, com troca de mensagens de texto, voz e localização em tempo real.

Análise: Padrões de Resistência Digital

Analisando esses três fenômenos, é possível identificar um padrão de comportamento:

  • Anonimato ou Baixa Exposição: Tanto o ICEBlock, que não coleta dados, quanto os grupos de WhatsApp, que podem ser semi-privados, oferecem uma camada de proteção aos usuários.
  • Inteligência da Multidão: Todos dependem do princípio da colaboração em massa. A utilidade de cada ferramenta é diretamente proporcional ao número de usuários ativos reportando informações.
  • Instantaneidade: O valor da informação é extremamente perecível. A localização de uma blitz ou operação é útil por apenas algumas horas, exigindo plataformas que ofereçam atualizações em tempo real.
  • Resposta a uma Necessidade Urgente: Essas ferramentas não surgem no vácuo. Elas são uma resposta direta a um contexto percebido como opressivo ou excessivamente punitivo, seja uma política de imigração, seja uma rigorosa fiscalização de trânsito.

Em comum, essas iniciativas mostram como a tecnologia mobile e as redes sociais podem ser apropriadas por comunidades para criar sistemas de alerta e defesa, reconfigurando o jogo entre fiscalizadores e fiscalizados na era digital.

Nota da Redação: a tensão central reside no duplo propósito dessas tecnologias. Elas podem ser vistas tanto como instrumentos de empoderamento comunitário e autoproteção para grupos vulneráveis, quanto como ferramentas que facilitam a evasão de leis e regulamentações, dificultando o trabalho de fiscalização e, principalmente no caso do transportes clandestinos no Brasil, perpetuando uma atividade que coloca em risco a segurança dos passageiros.

Com informações de: Google Play Store, ICEBlock.app, VEJA Abril, Apple App Store. ■