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Caças venezuelanos realizam sobrevoo sobre navio de guerra dos EUA no Caribe
Tensão se intensifica no Caribe com confronto militar direto, enquanto EUA justificam presença naval como combate ao narcotráfico, mas especialistas alertam para riscos de escalada e desvio de rotas de drogas para o Pacífico
America do Sul
Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQbGEWujbr-c_stu9hAOaLhzy8VgiVnuSoiMSjhU-C2Nnuol9Tp1p3LUqE&s=10
■   Bernardo Cahue, 05/09/2025

Dois caças F-16 da Força Aérea Venezuelana realizaram um sobrevoo próximo ao destroyer norte-americano USS Jason Dunham em águas internacionais do Caribe, em um ato que o Pentágono classificou como "altamente provocativo". O incidente ocorreu na quinta-feira (4) e amplia as tensões já acirradas entre os dois países, que vivem um momento de alta hostilidade diplomática e militar.

O Departamento de Defesa dos EUA emitiu um comunicado alertando que "o cartel que governa a Venezuela é fortemente aconselhado a não perseguir qualquer esforço adicional para obstruir, dissuadir ou interferir nas operações de contra-narcóticos e contra-terrorismo realizadas pelos militares dos EUA". Em resposta, o governo venezuelano, até o momento, não se manifestou oficialmente sobre o ocorrido.

Este incidente é mais um capítulo na escalada de confrontação que se intensificou após o ataque ordenado pelo presidente Donald Trump na terça-feira (2), que teria supostamente resultado na morte de 11 pessoas em uma embarcação que os EUA alegavam ser vinculada ao grupo Tren de Aragua e ao narcotráfico.

A presença militar dos EUA na região inclui pelo menos sete navios de guerra, entre os quais o próprio USS Jason Dunham, além de um submarino nuclear e aeronaves de inteligência, totalizando mais de 4.500 militares deslocados. Embora Washington afirme que se trata de uma operação de combate ao tráfico de drogas, analistas e especialistas enxergam a movimentação como uma clássica demonstração de força com possíveis intenções bélicas mais amplas.

Alan McPherson, professor de Relações EUA-América Latina na Temple University, afirma que o despliegue militar estadunidense é o maior na região desde 1965 e lembra os dias da "diplomacia de canhoneiras" de mais de um século atrás.

Stephen Donehoo, ex-oficial de inteligência militar dos EUA, pondera que, apesar do grande poderio, não se trata de uma força para invadir um país, mas admite que pode haber missões mais precisas e diretas, como operações com drones armados no espaço aéreo venezuelano.

Enquanto isso, o governo de Nicolás Maduro se prepara para um possível conflito. Maduro prometeu mobilizar mais de 4 milhões de milicianos em todo o território nacional, embora analistas questionem o número real e a capacidade de combate efetivo dessas forças. Ele ainda ameaçou declarar uma "república em armas" caso haja uma invasão estadunidense.

Além do aspecto militar, a estratégia de Trump inclui uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura de Maduro, acusado de ser "um dos traficantes de drogas mais poderosos do mundo". No entanto, especialistas e dados internacionais questionam as acusações:

  • Venezuela não é um país produtor de cocaína, de acordo com a United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC) [citation:4];
  • A maior parte da cocaína mundial é produzida na Colômbia, Peru e Bolívia;
  • As rotas do Pacífico são dominantes no tráfico internacional, com a Venezuela responsável por menos de 2% das apreensões de cocaína na América Latina.

Paradoxalmente, a pressão militar no Caribe pode estar desviando o tráfico de drogas para o oceano Pacífico, onde o controle é menos rígido e as capacidades de monitoramento são limitadas. Especialistas equatorianos alertam que as redes criminosas podem redirecionar massivamente suas operações para portos como o de Guayaquil, no Equador, que já vive uma crise de segurança com altos índices de homicídios e ameaças de gangs.

Mario Pazmiño, ex-chefe de Inteligência do Exército Equatoriano, afirmou à CNN: "O que vai acontecer é que, ao bloquear este corredor do Caribe, os traficantes evitarão continuar transportando drogas por essa rota, porque é mais perigoso e eles terão perdas maiores. Eles redirecionarão o fluxo de drogas".

Além dos riscos de escalada militar, especialistas legais questionam a legalidade do ataque estadunidense ao barco venezuelano. Brian Finucane, do International Crisis Group, afirmou que "a noção de que o contrabando de drogas autoriza você a usar a força letal em legítima defesa é ridícula. Não é reconhecida pelo direito internacional".

A sequência de eventos deixa claro que a administração Trump está disposta a adotar medidas agressivas em sua política externa para a região, mas as consequências – incluindo a possibilidade de uma guerra aberta, o desvio de rotas de drogas para o Pacífico e o custo humanitário – ainda são imprevisíveis.

Com informações de Reuters, CBS News, MSNBC, CNN, Time, Al Jazeera e BBC. ■