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Gestão Trump aciona alerta na OTAN sobre novo modelo de defesa
Administração americana pressiona por aumento de gastos de defesa e anuncia revisão estratégica que transferirá maior responsabilidade para europeus, gerando tensão e incerteza na aliança firmada no Tratado
Internacional
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■   Bernardo Cahue, 04/09/2025

A administração do presidente Donald Trump está redefinindo radicalmente o papel dos Estados Unidos na segurança europeia, acionando alertas entre os membros da OTAN sobre o fim do programa de segurança tradicional. Em uma série de movimentos estratégicos, a gestão americana sinalizou que reduzirá significativamente suas forças na Europa e exigirá que os aliados assumam um papel muito maior em sua própria defesa, inclusive com um aumento maciço de gastos militares.

O secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, deixou claro que os EUA não mais carregarão o fardo principal da defesa convencional da Europa. Em vez disso, a administração Trump pretende focar recursos no Indo-Pacífico e na defesa da terra natal americana, tratando a presença na Europa como secundária. Essa mudança estratégica foi oficialmente articulada na Orientação de Política de Defesa Nacional de 2025, que determina uma transferência de recursos para outras regiões e assume riscos em teatros secundários.

Como parte desse realinhamento, a administração Trump está pressionando os aliados da OTAN a elevarem seus gastos de defesa para 5% do PIB, um aumento drástico em relação à meta anterior de 2%. Durante a cúpula da OTAN em Haia em junho de 2025, os membros da aliança, sob forte pressão americana, concordaram com essa nova diretriz, embora com resistência de alguns países como Espanha, Bélgica e Eslováquia [citation:9]. A meta inclui 3,5% para defesa propriamente dita e 1,5% para infraestrutura e resiliência relacionadas à segurança.

Além do aumento de gastos, a OTAN também aprovou um aumento de 30% nas metas de capacidades militares para preencher as lacunas deixadas pela retirada planejada dos EUA. Essas metas, que são parte do Processo de Planejamento de Defesa da OTAN (NDPP), serão principalmente suportadas pelos aliados europeus e pelo Canadá, já que os EUa planejam reduzir suas contribuições convencionais.

A possibilidade de retirada de tropas americanas é particularmente preocupante para a Europa, pois os EUA fornecem capacidades estratégicas essenciais como inteligência, vigilância, reconhecimento (ISR), reabastecimento aéreo, transporte estratégico e guerra eletromagnética. Perder essas capacidades sem ter alternativas europeias robustas deixaria a aliança vulnerável. Especialistas alertam que a Europa pode levar de cinco a dez anos para desenvolver sistemas próprios de ISR baseados no espaço, por exemplo.

Em resposta à pressão americana, líderes europeus buscaram demonstrar autonomia. Em uma reunião de setembro de 2025 em Paris, uma "coalizão de dispostos" de 26 países se comprometeu a fornecer garantias de segurança à Ucrânia no pós-guerra, incluindo o envio de tropas como uma "força de ressurreição" após o cessar-fogo. No entanto, a chanceler alemã Friedrich Merz manteve cautela, afirmando que a Alemanha decidirá sobre o envolvimento militar "no momento apropriado".

A administração Trump também demonstrou inclinação em usar a segurança europeia como moeda de barganha para obter concessões em outras áreas, como comércio, tecnologia e energia. O vice-presidente JD Vance já vinculou publicamente os compromissos de segurança dos EUA através da OTAN a uma regulamentação tecnológica europeia mais flexível para empresas americanas. Da mesma forma, Trump pressionou europeus a pararem de comprar petróleo russo e a imporem mais pressão econômica à China por financiar os esforços de guerra russos.

Essa abordagem transactionál da administração Trump gerou temores de que o compromisso de segurança dos EUA possa se tornar condicional e imprevisível. Como um analista do CSIS alertou, "uma vez que os Estados Unidos tratam a segurança da Europa como refém para ser negociada, não há razão para que não possam continuar a tomá-la como refém" repetidamente.

Analistas argumentam que a Europa deve investir urgentemente em uma força dissuasória europeia robusta que possa compensar a retirada americana. Isso exigiria não apenas maior gasto, mas também melhor coordenação, desenvolvimento de capacidades críticas como defesa aérea e investimento na base industrial de defesa europeia para reduzir a dependência de equipamentos americanos.

O momento definidor para a aliança será a implementação desses planos. Com a cúpula da OTAN em Haia terminada, o foco agora está em traduzir compromissos políticos em capacidades militares reais. O sucesso ou fracasso determinará se a OTAN pode manter uma dissuasão crível contra a Rússia em uma era de incerteza estratégica e comprometimento americano reduzido.

Com informações de: EUISS, Al Jazeera, The New Yorker, DW, ABC News, CSIS, INSS, Foreign Affairs. ■